O Mal-estar do Século: Insatisfação Crônica

Vivemos tempos estranhos.

A euforia mostrada em certas ocasiões festivas é uma contradição com o real estado de espírito das pessoas.

Chamo esse estado de zumbi-feliz.

Somos bombardeados por inúmeros apelos de consumo minuto a minuto. Tudo inspira o consumo e nunca vivemos uma época tão positiva no que se refere a possibilidade de adquirir aquilo que se deseja.

O grande enigma que ninguém consegue decifrar é o do próprio desejo, pois aquilo que anunciamos ser o nosso desejo é uma parede de fundo falso.

Nem sempre queremos ou suportamos aquilo que desejamos.

O desejo humano é muito parecido com um cigano sempre acampado num lugar provisório em busca da descoberta do ouro. Mas esse ouro é feito de uma matéria sem forma a qual você não é capaz de encontrar, controlar ou se satisfazer.

Esse desejo não consegue ser realizado como prometem as campanhas publicitárias e nem superado como pregam os ascéticos, as religiões e as autoajudas. O desafio de lidar com esse desejo é o de suportar conviver com ele sem alimentar ilusões de realização ou desespero por nunca cumprí-lo.

A mensagem generalizada subliminar que se transmite é “tudo ao mesmo tempo agora”. Podemos ver claramente isso acontecendo em nossa vida quando estamos nos sentindo insatisfeitos com tudo à nossa volta. Portanto, proibir ou incentivar a realização dos desejos seria inócuo, o segredo está em nos perdoar por não conseguir gozar a quantidade enorme de apelos que se fazem hoje em dia.

Imagine que você passa num restaurante self-service e tem o desejo de comer tudo disponível, mas seu prato e seu estômago não comportam tudo ali. Nesse momento surge a maturidade de permitir-se querer todas as comidas e, no entanto, se desculpar por ter uma capacidade limitada de lidar com o ilimitado. Escolhas feitas sob essa perspectiva nos liberam do mal-estar generalizado a que somos submetidos. Como se seu pai dissesse à você quando pequeno, “pegue o que conseguir comer, mas o que não conseguir tudo bem, até o dia que vai saber exatamente quanto cabe no seu estômago.”

Essa pai fictício está ensinando a você a arte de escolher entre os desejos possíveis de realizar e aqueles que você pode abrir mão sem ficar com culpa ou insatisfação.

O insatisfeito crônico sofre do mal da abundância vazia, pois parece que existe tanto a escolher que ainda que ele escolha fica insatisfeito porque poderia ter escolhido muito mais. Sim, existe um território enorme de possibilidades a serem exploradas, mas você só consegue andar 10 metros por dia. Alegre-se com esse trecho caminhado.

A sensação é como se sempre estivesse acontecendo uma festa maravilhosa onde todos estão curtindo além dos limites só que você não tem o endereço.

As pessoas hoje não se sentem mais envergonhadas como há duzentos anos, mas se sentem otárias deixadas do lado de fora da grande festa.

Mas essa grande festa está acontecendo nos paraísos da Terra, nas grandes viagens, nos amores ideais e dos prêmios da mega-sena? Os gananciosos afirmarão que sim porque eles estão na corrida maluca para chegar e produzir essa festa. Os medrosos dirão que não porque estão ressentidos e conformados com suas teorias (autoenganosas) do tipo “eu não preciso disso para ser feliz”.

O que eu chego a concluir é que essa festa não existe e nem deixa de existir pelo simples fato de que é impossível de acontecer.

Então se você quiser deixar de se sentir um eterno insatisfeito que foi barrado na festa do gozo pleno admita para si mesmo essa impossibilidade, sem culpa ou desilusão.

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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