Eu e minha mãe

Ontem lancei meu novo e-book sobre “Mães que Amam Demais” e muita gente me perguntou se era meio autobiográfico. Como já falei do meu pai aqui vou falar sobre a Dona Suely. Sim, ela vai ficar roxa de vergonha.

Eu devia ter uns 9 anos

A primeira memória que tenho de minha mãe foi no jardim da infância quando eu menti que ela estava grávida. Acho que tinha ficado com inveja de uma menina que ganhou um irmãozinho. Então para não ficar para trás eu inventei aquela mentirinha que me rendeu um pito suave da minha mãe que ficou muito envergonhada. Hoje em dia rimos dessa história.

Minha mãe é uma pacata aposentada que trabalhou por muitos anos como professora (será que sempre me envolvo com professoras por causa disso? kkkkk). Me lembro que ela sempre aguçou minha curiosidade sobre tudo, eu parecia uma matraca perguntando sobre o significado das palavras, ela me respondia pacientemente verbete por verbete. Até que um dia ela me chamou e me deu um livrinho e disse “gosto de responder para você o significado das palavras, mas nem sempre vou estar do seu lado, então esse livro vai te ajudar a saber o que cada palavra significa”. Achei aquele livro o máximo, o bom e velho Aurélio.

Minha mãe sempre teve o cuidado de me ensinar algo sobre religiosidade e o infinito. Logo cedo me introduziu ao catecismo, mas também me expôs ao Espiritismo, afinal vovó Alzira tinha poderes que iam além da experiência comum junto com o índio Pele Vermelha.

Aos 12 anos tive uma experiência surreal. Tive que mudar de escola por conta de dificuldade financeiras do meu pai e ingressei no querido “Guilherme Kuhlmann”,  escola simples localizada na Zona Oeste de São Paulo. O mais infernal não foi o fato de eu começar a ser alvo de bullying dos garotos mais espertos, mas tê-la como professora. Pior de tudo, matemática.

No primeiro dia de aula quando ela entrou na sala um menino disse: “ah não, aquela fdp gorda de matemática vai me ferrar! Ela é um vaca, não acha?” e olhou para mim. Falei que não a conhecia e não poderia dizer que sim ou que não.

Escondemos o fato dela ser minha mãe por 3 meses até que um dia a professora de educação artística Salete entrou na sala e disse: “sei que o filho da professora Suely está aqui nessa sala e acho bom ele se manifestar, precisamos falar com ela e não a achamos!”. Levantei a mão timidamente e minha farsa caiu, 30 alunos olharam para mim com espanto e sadismo. Fui aloprado como nunca.

Eu era um pequeno gênio da matemática naquela escola e realmente não precisava da ajuda de ninguém para estudar e fazer os trabalhos, mas todos achavam que eu sabia de tudo por conta da minha mãe.

Ela sempre esteve por perto, mas nunca me sufocou ou exigiu nada demais de mim. Eu nunca dei trabalho e nossa relação foi harmoniosa, mas sem nenhum exagero. Na adolescência questionei muito o amor dela, afinal eu via a mãe dos meus amigos e pensava, “minha mãe não me ama”. Na verdade, a mãe deles os amava demais e não a minha que amava de menos. Ainda bem que isso não demorou para mudar.

A fase difícil mesmo foi após a morte de meu pai quando eu tinha 18 anos. Minha mãe começou a me tratar como fazia com ele, mas eu disse a ela: “meu pai morreu e ele sempre terá um lugar entre nós, não me trate como se eu fosse seu marido, eu não sou!”

Nos meus relacionamentos ela nunca deu nenhum palpite, nem quando não simpatizava muito com a candidata ou me via dando cabeçadas.

Com o passar dos anos consegui colocar todos os prós e contras na balança e percebi que apesar de minha mãe ainda conservar aquele jeito interiorano e tímido de quem vem de Botucatu ela era uma mulher bem corajosa. Mesmo tendo que conviver com meu pai que era caboclo agitado e sempre inventando moda ela soube conduzir um casamente de quase 30 anos juntos. Ela fez esforço redobrado para me ajudar na fase da faculdade e fez questão que eu me dedicasse aos estudos, afinal confiava que eu chegaria a um bom lugar.

Devo muito de minha independência ao seu coração generoso que nunca me quis para ela e percebeu que eu era uma pessoa que voaria quanto fosse necessário para ser feliz.

No livro  descrevi 20 características de mães que amam demais e depois daquelas que amam com amor maduro. Se ela não cumpriu os 20 requisitos de maturidade amorosa, tenho certeza que chegou bem perto disso!

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Se gostou da minha mãe, veja esses figurões aqui embaixo:

Eduardo Galeano, jornalista uruguaio

Caio Fernando Abreu, poeta gaúcho

Rubem Alves, escritor, psicanalista e contista

Drauzio Varella, médico, pesquisador e escritor

Contardo Calligaris, psicanalista e escritor

Gibran Khalil Gibran, poeta árabe

Friedrich Nietzsche, filósofo alemão

Meu pai

Bert Hellinger, terapeuta alemão, criador das Constelações familiares

Alain de Botton, filósofo suiço que popularizou a filosofia

Xico Sá, jornalista pernambucano

David Deida, terapeuta estudioso das dinâmicas sexuais

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço

Nelson Rodrigues, jornalista e contista pernambucano

Patch Adams, médico, ativista social e conhecido por alegrar o ambiente hospitalar

Pablo Neruda, poeta chileno

Clarice Lispector, escritora naturalizada brasileira

Bruce Lee, ator e mestre em artes marciais

Gaiarsa, minha inspiração na psicologia

Irvin Yalom, grande terapeuta da atualidade

Freud, criador da Psicanálise

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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