Por que mulheres não tem sociedades secretas?

Por Diana Rossi* 

A solidariedade masculina se manifesta numa cumplicidade que muitas vezes beira o corporativismo.  Quem nunca viu um homem acobertando o cunhado frente à própria irmã num episódio da mais alta cafajestagem? Descoberto em conluio, o irmão-comparsa justifica o injustificável: “sabia, mas guardei segredo porque não me meto na vida alheia”.  E assim a fraternidade segue inabalável, mais blindada que Bunker da Gestapo.

A

Você faria parte dessa Sociedade Secreta?

 

Esse desapego ao que seria justo em detrimento da velha camaradagem faz inveja às mulheres, que baseadas nessa dinâmica reclamam da falta de união que permeia nossa classe.

Mas por conta da nossa inclinação natural na defesa da moral e bons costumes, jamais partilharemos dessa coesão. Julgamos nossos deslizes comportamentais e morais com mais severidade que o razoável.

Desqualificamos a colega que exibe sem pudores seus decotes e sorrisos, numa tática de guerrilha pueril para neutralizar o inimigo e manter nossos homens imunes aos apelos do sexo alheio. Se para eles as peripécias sexuais de um colega são bem vindas e aumentadas, para nós uma amiga periguete jamais será motivo de orgulho.

Mas se observarmos com imparcialidade, veremos que apesar dessas ressalvas a solidariedade feminina brota mesmo nos momentos dos maiores perrengues. Explico:

Ao anunciar uma gravidez não planejada, em cinco minutos teremos três ou quatro melhores amigas com a lista de convidadas para o chá de bebê, prontinha. Tal evento é conhecido por abastecer o armário do futuro petiz por pelo menos quinze anos.

Na festinha estarão presentes as colegas do escritório, da academia, do salão de beleza, primas de primeiro e segundo grau, vizinhas presentes e passadas e quem mais estiver passando por ali, distraída. Nessa hora todos os desafetos são perdoados e “o que vale mesmo é colaborar” – ainda que o salário da prenha seja o triplo do nosso.

Da primeira vez que mamãe teve câncer, lembro que o diagnóstico foi anunciado entre meu pai e irmãos quase como um pedido de desculpas. Claro que eles se entristeceram e ficaram sensibilizados, mas foi na companhia de suas filhas, noras e amigas que ela dividiria seus maiores medos, dúvidas e as tarefas domésticas que ficariam por fazer.

Conselhos, rezas, perucas e lenços chegaram de todas as partes; era a contribuição de mulheres anônimas ávidas por ajudar e compartilhar suas experiências.

Não importando como está nossa agenda ou nosso desejo de privacidade, seremos nós e não eles as requisitadas para cuidar do tio doente, pajear os quatro filhos da cunhada que fez uma cirurgia ou consolar pela madrugada inteira aquela amiga que foi trocada por uma menina de 18 anos.

Um homem nunca entenderá porque nos entregamos com tanto desprendimento, menos ainda quando isso trouxer prejuízo ao quinhão da nossa atenção que ele julgar merecedor.

E para quem ainda acha que só nos importamos com nosso gramado, uma pesquisa realizada pelo IBOPE em 2011 aponta que no Brasil, mais de 53% do voluntariado é composto por mulheres.

Em entrevista para a Revista TPM, Julita Lengruber – diretora do sistema penitenciário do Rio de Janeiro nos anos 90 – conta que embora nos presídios femininos impere a cagüetagem (pecado mortal nos presídios masculinos), as visitas das detentas resumem-se a mães e irmãs, raramente recebendo seus pais ou maridos. Em contrapartida, mulheres que tem namorado ou marido nas prisões ficam naquelas filas enormes, debaixo de sol ou de chuva, levando coisas para eles que, quando saem da cadeia, arranjam outra mulher com metade da idade daquela.

Não concordo com a velha história de que amizades masculinas sejam mais leais que as nossas. Acho que vida se encarrega de mostrar a todos a enorme diferença que existe entre companheiros de boteco e amigos de verdade: experimente ficar pobre, cair em desgraça ou ter seu nome inscrito no SPC.  Quer você seja homem, mulher ou o ET de Varginha, sobrarão no máximo dois ou três na mesa para ouvir sua choradeira.

Algumas mulheres preferem trabalhar entre homens e até serem comandadas por eles.

Essa impaciência no convívio com suas iguais pode esconder uma inapetência para o confronto, uma dificuldade em se perceber tão mulher como qualquer outra. Alegando que somos muito competitivas, esquecem que competições são fomentadas desde a infância num caldeirão de interesses, competências e habilidades mútuas. Sem esse trinômio, passamos à margem da competição e ela não nos diz respeito.

Joguinhos emocionais, falta de ética e caráter surgem em qualquer situação, pois são falhas humanas e não exclusivamente femininas. Onde quer que esteja sua trincheira, se você consegue manter sua integridade e respeito por aqueles que coabitam seu espaço, seja pelejando com João ou Maria, seu universo se expande e o mundo lhe abrirá as portas em todas as direções.  Quanto mais gente, e mais diferente, melhor.

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* Diana Rossi  42 anos, administradora de vendas especialista em perseguir metas e dissecar mitos. Palpiteira profissional, dá expediente sempre que solicitada. Leitora assídua do Blog Sobre a Vida foi convidada para participar dessa bagunça gostosa! Obs do Fred: que orgulho dessa leitora!

 

 

 

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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