Fidelidade: um treino de personalidade – parte 1

Não acho que a fidelidade pela fidelidade seja em si útil, a não ser pelos temores que muitos casais tem e necessidade de controlar um ao outro em seus interesses ou para se distrairem do amadurecimento do casal.

O grande problema do ciúme é que muitos casais usam desse artifício para fugirem das questões centrais do relacionamento olhando para um terceiro fantasma como se essa fosse a fonte principal dos dilemas de casal.Dificuldade de manter intimidade, trocas genuínas de cuidado e crescimento mútuo são temas mais importantes e muito negligenciadas em favor de saber cada detalhe da vida dos parceiros.

Na maior parte dos casos vejo uma falsa demonstração de preocupação e amor travestida de ciúme.
Portanto, a fidelidade, mais do que um dever moral é um fator de treinamento psicológico para um casal. Alguns aprendizados ficam para a vida com um todo. Curiosamente que existem aquelas pessoas que não traem, mas também são incapazes de desenvolver essas habilidades, são fiéis apenas por tradição sem entender a profundidade desse elo emocional com a pessoa amada.

Nem cachorro e nem cadela

1- Resiliência

A vida a dois é tão cheia de mudanças, inconstâncias e instabilidades que administrar a arte de levantar e sustentar a peteca quicando é uma habilidade digna de artistas. A fidelidade não é uma fixação sexual no parceiro, mas um treino de constância do olhar em meio ao caos.

2- Capacidade de levar algo a sério

A partir do momento que toma-se uma decisão na vida é interessante seguir com aquilo até as últimas consequências lógico, agradável, produtivo ou feliz. Portanto, é sério no sentido do compromisso para que aquilo dure o maior tempo possível com a máxima qualidade.

3- Lealdade

A capacidade de ter critério para fazer uma escolha é o que deveria levar alguém a permanecer ao lado dela. Se uma pessoa escolher ter ao lado aquela pessoa é importante cuidar daquilo que escolheu com a exclusividade cabível.

4- Sinceridade

Uma habilidade rara entre as pessoas de modo geral é sustentar a sinceridade de tal forma que mescle com o amor cuidadoso de quem pode se revelar sem ferir desnecessariamente o outro. Fácil ser transparente sem ter que exercitar criteriosidade. Uma coisa sem outra é como manter uma arma apontada nas mãos de uma criança. Ser honesto sem ferroar é uma arte.

5- Treino de controle

A coisa mais fácil do mundo é ficar controlando a outra pessoa nos passos que ela dá. Difícil e produtivo é cuidar disso sem se tornar um paranóico manipulador. A maioria falha em saber o limite do que é sua área pessoal do que é área comum do casal.

6- Integridade

Ser coerente entre o que pensa, é e fala é um traço bem valioso na vida como um todo. A fidelidade ajuda as pessoas a exercitar o manejo das nossas incoerências, que são muitas aliás.

7- Lidar com instintos

O desejo deseja. Não tem dono e noção de consequência. Quem tem que mediar quando um instinto é adequado ou não se manifestar é a pessoa. A carne pode ser fraca, mas a consciência precisa ser forte para não ceder a cada impulso de sedução barata. Para construir um castelo é demorado, para derrubá-lo basta uma faísca.

8- Treino de liberdade

Seria lindo se as pessoas pudessem entender que a liberdade não é oposta ao relacionamento e que temos espaços de profundidade numa relação para treinar liberdades que nunca seríamos capaz na solidão. Liberdade não é ceder a si mesmo, mas se orientar por um radar que ajude a penetrar camadas mais profundas de si mesmo.

Semana que vem  tem a segunda parte…

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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