Você faz joguinhos o tempo todo

Quantas vezes você já não ouviu uma amiga te contar que saiu com um cara interessante e tentando especular se devia ligar pra ele depois de 24 ou 35 horas?

Par ou ímpar, vencedor ou perdedor?

Depois ela pergunta de deveria transar no primeiro ou no 15o encontro.

Eu consigo ver um rumo bem ruim para a pessoa que age desse jeito por um único motivo, um relacionamento se transformou numa mesa de apostas logo no começo.

Esse jogo é simples: quem será aquele que mostra necessidade de contato (e afeto) primeiro e se mostra vulnerável?

“Se ele ligar, eu ligo”. Note que esse tipo de postura é uma barganha e uma competição implícita que pode perdurar por todo o relacionamento. E os jogos contam com dois elementos: análise e fé (na sorte).

Como é possível fazer uma análise sensata de uma situação que não está clara e não tem elementos concretos?

A nossa cultura alimenta uma visão bem mágica do amor enquanto um sentimento que surge do nada, sem esforço, sem ação concreta, sem empenho.

Lembra aquele experimento clássico da escola em que você punha um grão de feijão no algodão molhado e deixava alguns dias no sol para ver depois de uns dias um belo brotinho? Aquilo parece mágico não é? Mas é um engano, aquilo é fruto de uma inteligência natural que recompensa os esforços concretos para serem sustentados. Na ausência de qualquer um dos elementos nada acontece. Tire o feijão, o algodão, a água e o sol e nenhum “milagre” acontece.

O amor é algo que você precisa fazer, não é um sentimento que acontece sem contexto ou dados de realidade. Isso é amor platônico e como algo que surge do nada desaparece sem motivo.

Isso nos leva a uma constatação simples, enquanto você fica especulando e analisando se o feijão do interesse dele vai brotar nada acontecerá, você precisa colocar mais elementos concretos na brincadeira. Não existe “milagre” sem investimento e risco.

Consigo ouvir a voz das pessoas amarguradas dizendo: “mas, Fred e se ele não me quiser, vou parecer boba mostrando interesse e sofrer pela milésima vez”. Com esse comentário dá para entender porque muita gente fica amargurada, pois não é a possibilidade de amor e de relacionamento que está em jogo, mas um ego enorme que se justifica dizendo que já sofreu demais. [leia mais]

Sofreu muito porque esperou milagres sem esforço, imaginou que bastaria um sorriso e uma personalidade cativante (sem ação) para conseguir tudo o que queria. Nada feito. Se você se sente importante demais para colocar seus sentimentos (e orgulho) em risco terá um belo feijão na mão que nunca vai brotar.

Você sofreu de mais porque já criou uma historinha na sua cabeça que não estava apoiada na realidade de um homem real, mas daquele que inventou na sua cabeça (quase um delírio) e que iria resolver todas suas carências. Um convite feito ou aceito é só um passaporte para conhecer alguém interessante, não é a prova final da sua vida.

Muitos contam com a sorte, as vezes dá outras não dá e ficam mal-acostumados com essa aparente mágica das probabilidades a seu favor.

Eu não confiaria muito na consistência de relacionamentos baseados na sorte, pois passada a fase da paixão mágica (não baseada em elementos reais) o casal se olha e não gosta daquilo que vê.

O amor é uma construção à quatro mãos que não precisa acontecer de imediato à primeira vista. Um amor consistente surge de um tijolo após o outro e as vezes uma das pessoas coloca mais tijolos que a outra. Mas posso garantir que os medrosos (orgulhosos) naufragam nesse tipo de relação, pois estão sempre esperando garantias de uma casa que já esteja pronta magicamente antes que se arrisquem a entrar. E se de fato a casa do amor do outro já estivesse pronta, será que era pra você mesma ou pra qualquer um que aceitasse entrar? Esses são aqueles casais que ela parecia completamente apaixonada e de um dia para o outro não sentia mais nada.

Gostar de alguém “do nada” é bem diferente de construir com esse alguém alguma coisa.

Então, goste ou não, acerte na medida ou não, tenha bons resultados ou não, esteja ciente que o amor depende de ação concreta, sem imaginação, suposição, dedução ou especulação. Coloque as cartas de suas intenções na mesa (o feijão), com gentileza (a água), num terreno de ações concretas (o algodão) e deixe que o sol faça o seu trabalho. O broto vai vingar? Depende de variáveis que não estão no nosso controle, mas a sua parte de amor maduro você fez. Confie nisso pelo menos.

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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