Amor de homem e mulher

Quando as pessoas relatam o tipo de amor que sentem por alguém sempre acho muito estranho a mensagem subliminar que vem acompanhada.

Dona Branca de Neve

Dona Branca de Neve

Ela: “Eu o amo tanto! O jeito que ele me trata, me olha, me deseja e faz tudo por mim”

Ele: “Fico tão feliz quando ela topa sair comigo e reconhece como me esforço para crescer na vida”

Observo que o condicionamento machista que recebemos por muito tempo imprimiu em homens e mulheres uma limitação específica do comportamento de gêneros.

Parece que o amor feminino espera receber algo e o amor masculino espera ser reconhecido naquilo que faz.

Na hora da paquera isso é ainda mais nítido, pois costuma ser o olhar masculino que valida o assédio que é recebido gentilmente pela mulher. Mais uma vez ela recebe a ação e ele atua.

Quando o relacionamento deslancha costumam brigar por motivos diversos.

Ela: “ele não se comunica comigo, não diz que me ama!” (se queixa mais uma vez que não recebe algo dele)

Ele: “ela está sempre me cobrando por tudo e já não sei mais o que fazer para agradá-la” (ele se sente impotente em dar algo de si)

Ainda que homens e mulheres possam ter falas como essa parece que ainda assim a frequencia maior ainda reflete como estamos um pouco aprisionados nesse modelo.

É como se implicitamente ela dissesse: “o que eu tenho para receber (amor, carinho, atenção, cuidado) ele não quer me dar” e ele diz: “o que eu tenho para dar ela não já não quer mais receber”.

Na hora do ciúme esse padrão se repete, pois a mulher costuma desconfiar: “o que será que ele está FAZENDO para aquela vagabunda, por que não me dá atenção”, ou seja, tudo é validado pelo que ele oferece e ela recebe.

Se o homem está calado ela questiona: “o que você tem?” (por que não oferece o seu olhar e sua fala para mim?), se ela está calada ele pensa com sorriso nos lábios: “ela parece calma” (acho que está saciada com o que tenho a oferecer).

Numa disputa amorosa com outra mulher tenta se colocar na frente da outra mulher para que ele a OLHE. Na disputa com outro cara o homem tenta fazer algo que impressione a mulher para que ela volte a reconhecer o que ele FAZ por ela.

Lembro de uma música dos anos 80 que dizia: “o que que ela tem que eu não tenho?”[http://www.youtube.com/watch?v=VGx91A5YswA], ou seja, uma visão passiva do amor como forma de algo que deixou de receber. Como se a própria pessoa não tivesse valor intrínseco se não for olhada ou amada.

Os contos de fada reforçam esse esteriótipo ao colocar no príncipe o poder de transformar a vida da donzela pobre num mar de encantamento. Ele coloca o sapato de cristal e a modifica de gata borrallheira para Cinderela, o outro beija a bela adormecida que acorda na realeza.

Quando um homem convida (age) uma mulher para passear é visto como comum, mas se uma mulher convida é vista por homens e mulheres como oferecida. A ação parece que só cabe e compete ao homem. E se perguntado a uma mulher porque não saiu com dado rapaz ela poderá dizer “ele não me convidou!”

Quando um homem não se posiciona sobre o fim do relacionamento muitas mulheres se lamentam: “porque ele não termina se não que mais nada comigo”. Eu sempre respondo: “por que mesmo que ele não diga não você não diz não para a negligência dele e cai fora”. Parece que é sempre o olhar masculino que define o rumo das coisas.

De alguma forma uma queixa feminina bem comum de ouvir é: “está faltando algo na relação”, ou seja, está faltando carinho, atenção, abertura e diálogo dele. Ela sempre esperando a ação dele dando significado nela.

Isso não tem nada a ver com egoísmo e altruísmo, mas de um movimento passivo e ativo na percepção do ato de amor.

Não sei a que conclusão chegar sobre esse tema, mas nesse raciocínio machista perpetuado por muitas pessoas parece que a mulher fica condicionada a não amar, mas amar ser amada.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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