De patinho feio a cisne

* Por Débora Campos Melo

Gostei muito do texto “Patinho Feio” [clique aqui]. Eu não fui exatamente uma criança bonita, nem uma adolescente bonita. Aliás, era bem feia mesmo. Sou dessas que não gostam de mostrar fotos antigas para os outros.Eu nunca fui a preferida das professoras do jardim de infância e nem dos garotos, na adolescência.

Na escola sofri muito com a hostilidade dos colegas e também dos professores. Ficava tão ansiosa que pensava em como seria bom nunca mais voltar à escola. Já tive muita dor de estômago só de pensar em cruzar com algum(ns) colega(s) maldoso(s) pelo corredor ou de ser repreendida por alguma professora, por não saber a resposta de alguma pergunta. Eu era excelente aluna, mas minha ansiedade me fazia bloquear meu raciocínio e mesmo tendo lido e relido a matéria inteira e de ter tudo na ponta da língua, quando eu tinha que falar em público, quase sempre tinha um lapso de memória.

O cisne

O cisne                   by Antonio Vinícius

Na educação física eu era um fiasco e a professora assumidamente não gostava de mim. Eu era magricela, desengonçada e não tinha força, nem velocidade. Moral da história: frequentemente era a última a ser escolhida para as atividades. Não era incomum as pessoas me verem sem vontade de participar das aulas.

Certa vez, uma prima mais nova que tinha acabado de entrar na escola me contou que estava se sentindo indisposta durante uma das aulas de educação física e a mesma professora deu a ela a seguinte resposta atravessada:  “Esse problema deve vir de família”. Para evitar esse tipo de constrangimento, eu tentava a todo custo matar essas aulas, sempre inventando uma dor aqui ou ali.

Quanto aos meninos, não preciso nem comentar. Eu era simplesmente considerada a menina mais feia da escola e quando passava pelos corredores sempre escutava piadinhas maldosas. Sempre chegava dentro da sala suando frio e com o coração disparado.

Como toda criança ou adolescente que sofre com bullying (graças a Deus “hoje” isso tem um nome), eu nunca quis envolver meus pais na história. Talvez por medo de que eles se decepcionassem comigo, por eu não ser uma criança/adolescente modelo ou simplesmente por vergonha. Acho que, então, comecei a desenvolver uma força incomum de querer resolver meus problemas e crises existenciais sozinha. Aprendi a olhar pra dentro e ver qualidades em mim que meus colegas ainda não tinham e desenvolvi meu lado mais humano, caridoso, paciente e humilde. Não gostava de ver outros colegas injustiçados ou sacaneados e de alguma forma, mesmo que inconscientemente, acho que quis mostrar a eles como podiam ser fortes, assim como eu fui.

Quando entrei para a faculdade, foi como o patinho feio que virou cisne. Me tornei uma jovem bonita, atraía os olhares e a atenção das pessoas com muita facilidade e tinha consciência disso. Eu comecei a ser paparicada o tempo todo e percebia que as pessoas gostavam de estar perto de mim. Frequentemente notava que muitas delas sentiam necessidade de me adular, de elogiar meu cabelo, minha roupa, achando que assim elas teriam minha atenção ou minha amizade. Era certo que eu já não tinha mais os problemas que tive na época da escola e senti como se estivesse nascendo de novo, livre de tantos complexos.

Não demorou muito para que eu fosse chamada para trabalhar como modelo. Isso gerou grande curiosidade em alguns colegas e inveja em outros. Comecei a sentir que quando eu passava por algumas pessoas o ambiente era tomado por um silêncio constrangedor, como se elas tivessem parado de conversar para me observar e depois fazerem algum comentário, quando eu não estivesse mais lá.  Algumas, descaradas, me apontavam, cochichavam, riam com ironia e empinavam o nariz quando eu olhava e outras, simplesmente viravam a cara ou torciam o nariz. E foi aí que comecei a me ver diante de um outro problema: comecei a ser julgada, inclusive intelectualmente, pela minha aparência.

Uma vez assisti a um filme chamado Fatal (Elegy), que fala sobre um relacionamento apaixonado entre um professor e uma aluna muito bonita. Numa cena ele tem um diálogo com um amigo, que diz: “As mulheres bonitas são invisíveis. Ficamos bloqueados pela barreira da beleza, tão encantados com a beleza exterior, que nunca chegamos ao interior”. Ouvir isso me fez refletir por algum tempo.

Estou escrevendo isso agora achando graça, mas a verdade é que eu acho que sempre fui invisível… Todos nós somos, no fundo. Não importa o que a gente faça, o que a gente vista, o que a gente fale. Sempre seremos julgados ( ou julgaremos) por algum motivo ou outro, ao longo da vida (sendo esse motivo justo ou não). Somos humanos e a barreira da ignorância ainda nos cega. Então, a saída é aprender a conviver com as críticas e também a ignorá-las, sempre que necessário.

À medida que fui crescendo e amadurecendo, eu senti necessidade de buscar tantas coisas: equilíbrio, discernimento, maturidade, paciência, tolerância, humildade, paz interior. Aprendi muita coisa, mas tenho total consciência de que ainda sou uma formiguinha no universo e tenho um caminho longo a percorrer.

Hoje consigo ver tudo isso com outros olhos. Agradeço a Deus, de coração, pelo desafio que Ele colocou na minha vida, na minha época de colégio, e que eu aceitei, para que eu pudesse acelerar meu adiantamento espiritual. Agradeço também aos meu colegas e professores, que no fundo serviram de importantíssimos intrumentos para que eu me tornasse mais forte. Afinal, tudo isso também contribuiu para que eu desenvolvesse a minha capacidade de perdoar e de enxergar a beleza da vida de tantos ângulos diferentes.

Acho que minha beleza exterior só reflete o que eu sou e sinto por dentro. Não me sinto completa, porque ainda sou cheia de defeitos e tenho muito o que aprender, o que não quer dizer que por isso eu não me sinta bem ou feliz. Apesar de imperfeita procuro dar um passo de cada vez e tenho certeza de que um dia todos nós atingiremos o nível de “perfeição” almejado.

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debora* Débora Campos Melo: É mineira, de Belo Horizonte, servidora pública, publicitária e espiritualista. Pisciana com ascendente em áries: romântica, emotiva e sonhadora por excelência. Entusiasta e determinada, adora desafios e se tem um objetivo é capaz de persegui-lo com todas as forças até alcançá-lo. Às vezes toma decisões certas, outras mete os pés pelas mãos, mas tem a consciência de que nunca é tarde para recomeçar. Tem bad hair days, marcas de catapora e desvio de septo. Seu namorado a acha linda sem maquiagem, mas ela sempre se esquece disso. No facebook você a encontra [por aqui]

 

 

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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