Estou saindo com um homem casado, e agora?

* Por Frederico Mattos

Uma garota que se envolveu com um cara casado me escreveu essa frase:

“Ele tem esposa, mas e dai, o problema é dele e não meu, vou seguir nessa história até quando ele não quiser mais”.

Fiquei pensando nisso, até que ponto ela é realmente isenta de qualquer responsabilidade? Afinal, eles são adultos, pagam as contas e são donos do próprio nariz, e de fato quem está pulando a cerca é ele enquanto ela está sendo só coadjuvante nesse relacionamento que mostra evidencias de já estar em declínio.

Se pensar dentro da ideia que cada um cuida de sua vida e do seu próprio dilema esse raciocínio poderia estar correto. Só que não. Gosto de transformar dilemas amorosos em questões profissionais para tirar um pouco da nossa cegueira e paixão diante do assunto.

Pense num funcionário que está insatisfeito com seu chefe e começa a passar informações preciosas para o concorrente. O concorrente está agindo de forma ética? Claro que não, a menos que use o artifício do utilitarismo e justifique isso em termos de quem é mais esperto fica com a vantagem.

Ficou claro que o triângulo amoroso está implicado nessa história? A concorrente já traduz muito da maneira de agir. Subverte os próprios valores para conseguir o que quer, trata outra pessoa como mero empecilho e tira dela todo o aspecto humano, age de forma impulsiva, pensa só no próprio prazer e ganho pessoal.

Você trabalharia numa empresa dessa?

Quando uma mulher ou homem se envolve com alguém que está num relacionamento pode argumentar o quanto quiser, mas nada muda esse fato: está pensando mais em si mesmo. É provavelmente aquele tipo de pessoa que se deixa influenciar pelas próprias emoções e age segundo princípios que variam conforme seu interesse de momento. Ela pode se sentir uma vitima da situação e alegar ter sido enganada no inicio ou envolvida demais para recuar. Um dependente químico diz o mesmo, o que não justifica sua ação nociva.

A partir do momento que alguém é ciente de um esquema que está declaradamente indo em prejuízo de alguém (seja esse alguém quem for) já faz parte do problema. É como a pirataria, seja você o agente ou consumidor está patrocinando o crime.

“Que moralismo, Fred, quem está sacaneando é ele(a)”.

Pense com calma na sua argumentação, ela realmente considera todos os elementos da história ou simplesmente acoberta seu sentimento de culpa ao projetá-la para fora de você? Você se julga menos responsável porque é solteira e tem livre escolha e exatamente por isso sua boa intenção de seguir seu coração não encobre a problemática toda.

“Mas ele prometeu que vai se separar!”

Prometeu e até agora o que fez de fato? Porque não testa a capacidade dele e diz a ele que só entre em contato quando já tiver saído de casa? Sua cabeça já pensou no risco de perdê-lo e da saudade que vai ter. Em quem você pensou nessa hora? De novo, só em você.

“Sei que é errado, Fred, só não consigo”

Sejamos honestos, você não está presa de verdade, mas alimenta essa barca furada por outras questões. Medo, comodismo, orgulho, vaidade, despeito, competitividade, mas não tente se convencer de que tem alguma nobreza. Admitir que algo é errado não diminui o impacto da situação, você está alimentando uma engrenagem doentia.

“Mas o casamento dele está falido!”

Então quer dizer que é adepta de chutar cachorro morto? Um doente terminal pode ser mal tratado porque já está mais pra lá do que pra cá? Consegues perceber a fragilidade da argumentação? Tudo para tentar tornar seu envolvimento menos pesado e transformar essa história de dor num conto de fadas sapequinha e provisório.

“Mas é só sexo, Fred!”

Você mede sua vida nesses parâmetros? Sempre buscando atenuantes?
“A mulher dele não presta também” Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, é isso? Na realidade não importa se é chumbo trocado. Se a outra pessoa é uma megera sem caráter isso é uma questão dela com a própria consciência. O que você faz, seja para o papa ou um desconhecido, é responsabilidade sua. Não crie atenuantes falaciosos, pois isso vira um vício e com o tempo estará justificando qualquer coisa.

“Mas isso não será assim pra sempre, só mais um pouquinho!”

No lugar da parceira dele o que pensaria desse argumento? Gostamos de pensar em termos diminutivos para tornar as coisas menos desagradáveis. Se alguém fecha o seu carro e rala só na lateral também pensa que foi só um pouquinho?

“Quem tem que fazer algo não é ele, Fred?”

Você espera sempre que os outros ajam para tomar as suas decisões? Se alguém está caído você fica esperando que alguém tome a iniciativa antes de ajudar? Desculpe parecer que estou dando uma má noticia, mas sou apenas o carteiro. Acho importante também frisar que não estou tirando a responsabilidade de ninguém nessa história toda, só fiz um recorte sobre a maneira que pensamos sobre algo que sabemos estar fora de lugar e mesmo assim insistimos. Não estou advogando a causa de ninguém. E se antes você alegava ignorância sobre sua parte nessa história agora já não pode dizer o mesmo. A escolha está em suas mãos. Se quiser ficar brava com o que eu escrevi também pode e deve, afinal alguma coisa mexeu com seu pudor.

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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