Ela avança, ele fica

* Por Frederico Mattos

Acho particularmente doloroso testemunhar relacionamentos que são incapazes de seguir adianta não por falta de amor ou cumplicidade, mas por falta de avanço de uma das partes.

129_3023-homem-e-mulher

Não é incomum notar entre casais que vivem entre dez e vinte anos juntos certa malemolência de uma das pontas. Ainda mais comum é notar que os homens são mais propensos a arriarem irremediavelmentes em certos estágios de desenvolvimento emocional. Nossa cultura não preparou para os homens um caminho muito promissor para além do trabalho e aposentadoria. As mulheres já mais acostumadas a uma busca interior sentem-se mais abertas e disponíveis para enfrentar seus dilemas e limitações cronológicas com mais coragem. Muitas buscam na espiritualidade um caminho natural para entrar em territórios desconhecidos de suas mentes.

Os homens de outro lado conhecedores das racionalidades da vida se reconfortam em aperfeiçoamentos profissionais sucessivos (se é que o fazem) mas negligenciando suas emoções mais profundas.

Com o passar do tempo o desgosto da mulher é notório, parece uma mãe sempre alertando o filho para o próximo passo que ele teimosamente resiste em dar. Pelo contrário, se afunda num mar de autopiedade que o faz mostrar facetas deprimentos de um homem que um dia já foi exemplo de coragem e bravura pessoal.

A libido dela diminui, não porque o anúncio da menopausa chegou, mas porque aquele homem que amou é uma pálida sombra sentada no sofá da casa. Ele entretido no futebol e carteado, nem se dá conta do quanto aquela mulher cheia de vida espera pelo seu despertar. Quando convidado a algum tipo de atividade, que não seja os habituais compromissos familiares, recusa veementemente como um menino que não quer tomar banho.

No fundo ele próprio sabe que nem tudo anda bem, mas jamais poderia confessar para sua mulher que não vê sentido naquela vida. Seus amigos, tão angustiados e aflitos como ele, também fingem tocar a vida como se tudo estivesse bem. Se um deles pudesse abrir o coração e confessar o medo da morte, da solidão ou do vazio os outros ririam, serviriam uma cerveja e desdenhando esconderiam o olhar identificado com a mesma dor.

A ela cabe uma dura decisão, de se separar emocionalmente, ainda que não de fato e assim testemunhar a decadência gradual daquele homem que um dia chamou de seu.

Quanta dor, quanta solidão, de duas pessoas queridas que seguiram até onde foi possível e ela siga e ele fique.

 

para venda do livro 2
___________

Avatar fred barba* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

Related posts