7 pecados capitais – Inveja

*Por José Chadan

INVEJA –  a admiração pervertida

A inveja, diferentemente da ira, que tratamos anteriormente, não nasce de um sentimento natural, “necessário” à autopreservação do indivíduo. A inveja não é compartilhada com nenhum outro animal. Os animais não sentem inveja uns dos outros. A inveja é um sentimento cultural e, portanto, tipicamente humano. Só os humanos são capazes de sentir inveja.
Os animais vivem felizes tendo suas necessidades atendidas, porém, o homem pode ter todas as necessidades atendidas e, ao invés de reclinar a cabeça com satisfação, se entristece, pois pesa-lhe de que outra pessoa possua mais bens que ele, seja mais talentosa, mais bela, e etc.

Fragmento de Os Sete Pecados Capitais retratando a Inveja, de H. Bosch

Fragmento de Os Sete Pecados Capitais retratando a Inveja, de H. Bosch

O invejoso geralmente é alguém que alimenta em si uma espécie de admiração pervertida por outra pessoa. Ele admira a beleza, o talento, a inteligência ou os bens de outrem, mas ao invés de alegrar-se com o sucesso alheio, entristece-se, pois desejaria estar no lugar desta pessoa. Percebemos então, que o invejoso admira esta pessoa, mas não quer o bem dela. À esta forma de admiração que entristece profundamente àquele que a sente, dá-se o nome de inveja.
A inveja é, pois, um sentimento forjado pela cultura. Só é possível sentir inveja quando se vive junto com outras pessoas, em sociedade. A inveja surge da comparação que uma pessoa faz de si mesma em relação à outra que considera privilegiada de alguma forma que supostamente ela não é.
A inveja é tão presente no coração do homem que está entre uma das principais proibições dos dez mandamentos, que ordena a não se cobiçar o que pertence ao próximo (Cf. Êx. 20 17). Outrossim, a inveja caracteriza-se pela tristeza. A pessoa invejosa é triste e essa tristeza é marcada pela comparação com o outro e por algum bem que este outro supostamente possua. Utilizamos aqui, o termo bem em sentido amplo e não apenas fazendo referência a objetos como seria de se supor a um leitor desavisado. Utilizamos o termo bem tal como faria Agostinho, referindo-se a Deus como o Bem maior e aos demais como bens, maiores ou menores à medida que nos deixam mais pertos de Deus – que é o Sumo Bem.
A inveja se caracteriza também pela ingratidão. O invejoso torna-se incapaz de olhar para aquilo que tem (no sentido amplo) com gratidão e satisfação. Resulta, pois, do pecado capital da inveja, uma profunda tristeza e ingratidão. O invejoso por alguma razão, não consegue mais gostar daquilo que tem, não consegue nem mesmo enxergar os próprios talentos e habilidades, tudo que é dele não possui valor ou estima alguma.
Se o invejoso não se aperceber de seu pecado, a longo prazo ele se tornará uma pessoa amargurada que vive de falar mal dos outros. Uma pessoa ruim de conviver e de estar perto.
Para vencer a inveja a tradição cristã propõe a caridade, que é o amor desinteressado de Deus por toda e qualquer criatura. Tal como diz o apóstolo em sua epistola à igreja que ficava em Coríntio, ao exortar de que a caridade não é invejosa (Cf. 1º Carta de Paulo aos Coríntios, 13,4). Mas para se nutrir deste amor e doa-lo aos outros, é preciso primeiro que a pessoa adquira uma certa dose de satisfação e gratidão pelas próprias conquistas e por aquilo que possui- pelos bens, talentos, aptidões, etc.
A inveja faz com que a pessoa olhe para fora e se entristeça, ao passo que a gratidão faz com que a pessoa olhe para si mesma e se sinta ok. Sentindo-se ok, ela pode então se abrir, olhar para fora, com a sensação de leveza de que nada lhe falta. De que outra pessoa pode possuir mais bens matérias, mas e daí? Não lhe está faltando nada e se estiver, lutará para conseguir e pronto. De que outra pessoa pode possuir mais beleza ou talento, contudo, por causa da gratidão, a palavra mais será substituída por diferente. E o coração ficará leve.
Infelizmente e contra a saúde emocional de todos nós, nossa sociedade competitiva e consumista incentiva o pecado da inveja. Assim, ficamos doentes, tristes e amargosos. A inveja elenca um dos sete pecados capitais, pois ela faz com que a pessoa invejosa não seja capaz de reconhecer as coisas boas da vida, que Deus tem lhe proporcionado. A inveja também aponta de que a felicidade JAMAIS se encontra na comparação entre pessoas. A felicidade é em grande medida, subjetiva e satisfeita as necessidades básicas, ela independe de tudo quando é externo. É por isso que vemos muita gente rica infeliz e gente pobre feliz.
Ademais, não poucas vezes à inveja segue-se o pecado da avareza. Contudo, tratemos deste pecado em momento oportuno. Por hora digamos em uníssono: Contra a inveja? Gratidão!

LEIA TAMBÉM:

BÍBLIA SAGRADA. Tradução revista e corrigida por João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1993.
A Vida Feliz – de Santo Agostinho.

* Jzé rosto e terno (1)osé Chadan: Professor, licenciado em história. Bacharel e mestre em filosofia. Escritor, pensador e autor do livro de poesias intitulado, Barca Melancólica (Fonte Editorial). Lecionou na rede de ensino do Estado de São Paulo durante 4 anos. Apresentou palestras para alunos pré-vestibulandos, cursos de jornalismo e participou de encontros e comunicações sobre filosofia medieval e existencialista. Nas horas vagas gosta de assistir cinema, caminhar pelas ruas da cidade e praticar meditação transcendental. Alguns de seus trabalhos estão publicados no blog: www.pistosdarazao.blogspot.com.