Como enfrentar uma perda difícil?

* Por Frederico Mattos 

Quando vejo alguém passar por uma situação de perda, dor ou quebra de sonhos e expectativas  (como o jogador Neymar machucado e fora da Copa), fico intrigado como nossa cultura incentiva uma mentalidade escapista frente aos problemas.

– Vai dar tudo certo;
– Você é jovem e vai superar;
– Terá outras chances, não se abata.

esporte-futebol-copa-do-mundo-brasil-colombia-neymar-20140704-21-size-598

O problema dessas palavras bem intencionadas é que elas têm uma estratégia que foge ao confronto com o sofrimento propriamente dito. É como se quisessem que a pessoa atropelasse sua tristeza e sentimento de perda e passasse para a fase seguinte onde tudo já está racionalizado, encaixado e superado.

Esse tipo de consolo também me parece ser uma manobra da própria pessoa que testemunha o sofrimento do outro para não encarar a si mesmo com o próprio pesar pela impotência diante da vida.

Sim, a vida tem limites e a nossa cultura – que incentiva o hedonismo e o narcisismo – parece querer ignorar que nem tudo o que desejamos será alcançado, ou que o céu pode ser um limite.

Quando dizem que “tudo vai dar certo”, podem estar tentando ajudar, mas ao mesmo tempo estão criando uma esperança nem sempre realista. Alguém que está no leito de morte e ouve que tudo vai dar certo pode se apegar a uma falsa ideia de que “certo” é sinal de cura ou de quem está de fora sabe o que é dar certo para alguém naquela situação. Seria mais adequado oferecer presença, calor humano e dizer honestamente: “não sei como será daqui para a frente, mas posso garantir que estarei ao seu lado.”

Incentivar um jovem a contar com a ideia de que “é novo e vai superar” é como se dissesse que na velhice nenhuma reviravolta ou recomeço fosse possível e que só os jovens, por supostamente terem mais tempo pela frente, poderiam se recompor com facilidade. A juventude não deveria ser um consolo emocional por si mesmo, afinal a velhice não é menos importante do que a mocidade.

Outra tentativa de dizer que o sofrimento por essa chance atual perdida vai desaparecer como mágica só porque o futuro reservará acontecimentos melhores é afirmar que “outras chances virão”. Ao recorrer a situações futuras hipotéticas ninguém pode ter certeza de que outras oportunidades surgirão ou se serão melhores. E mesmo que surjam, estarão sob condições diferentes e não tão ideais como desta vez. Mais uma vez o consolo apela para irrealidades escapistas e imaginárias.

O luto por uma perda não precisa ser ignorado ou atropelado para que alguém seja confortado. Afinal, nessa hora as fórmulas racionais baseadas em hipóteses mirabolantes soam pouco convincentes. Quando nós mesmos ouvimos esse tipo de consolo achamos estranho ao mesmo tempo que não somos emocionalmente tocados.

Consolo de verdade é quando nos percebemos acompanhados, amados, aninhados e não racionalmente convencidos de artimanhas mentais pouco plausíveis. Então, para atravessar um lago de dor é preciso nadar de verdade, administrar cada pequeno impacto do desapego gradual. Quando essa trajetória for paulatinamente vivenciada, sem racionalizações vazias ou consolos de botequim, aí sim algum recomeço é possível.
_____________
Avatar fred barba

* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094

 

Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli

 

Todos os direitos reservados © Esse texto não pode ser copiado sem a prévia autorização do autor. Para tal blogsobreavida@gmail.com

banner ciume

Inscreva-se para receber meus e-mails

* indicates required

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

Related posts