O ATIVISTA , O HATER E AS ELEIÇÕES

*Por Eduardo Benesi

É difícil enxergar a sutil diferença entre essas pessoas que possuem uma queda por portais e caixas de comentários alheias nas redes sociais. Haters ou ativistas? Como saber diferenciar? Já te adianto que essas classificações me parecem mais apropriadas para definir um comportamento do que um tipo de pessoa. Tanto um quanto o outro costuma praticar o mesmo tipo de ação. Ambos podem soar provocativos, arrogantes, irônicos e até pacíficos, mas talvez a intenção no fim das contas, seja o grande fator que define a diferença entre os dois. Como geralmente nós não temos como saber a intenção de cada um, acabamos por criar um tipo de julgamento baseado em como aquela pessoa se portou ao defender a sua ideia, ou constestar a ideia do outro. Mas é sempre bom lembrar que esses comportamentos se misturam. A maioria de nós já criticou algo por pura implicância e por outras vezes por alguma intenção construtiva.

odio

 

O hater geralmente escolhe um tema, fica semanas estudando contra-argumentações, age como um vigilante implacável e começa a pipocar arrogância e hipocrisia pelas timelines apenas para provar que está sempre certo, ou para mostrar que é indispensável ao mundo. No fundo não quer mudar nada, quer apenas ganhar discussão ou chamar a atenção mesmo que for como o chato. Costuma ter um discurso demagógico quando na prática segrega por se achar (melhor?) do que os outros. Ele costuma destilar uma acidez poser, agride como forma de chamar a atenção, ou na base da covardia – de forma anônima. É o tipo de pessoa que acha que para se ser de esquerda precisa provar que é menos classe média do que realmente é. Que inventa pra si um personagem rebelde que faz pirraça com o patrão e acha que isso já é uma credencial para sair apontando por aí quem é coxinha e quem é militante. Eu pessoalmente acho muito honesto quando pessoas de classe média assumem seus privilégios e partem em busca de maneiras para repensar um mundo mais justo.

 

O ativista não consegue conter-se, ou adotar uma postura elíptica frente a algo que ele não considera justo. Adere a um paradoxo inevitável: oprime a opressão, faz barulho, cutuca, compartilha. Funciona como um regulador informal completamente necessário às minorias. É aquele que a gente acha chato, mas que parece ter a razão. É como um remédio amargo. É politicamente correto, mas sabendo dos seus paradoxos e por isso procura incluir-se em seus questionamentos, ao invés daquela chata hipocrisia da pessoa que acusa todo político de ser ladrão, mas que fura fila ou que já comprou a carta da autoescola. Prefere convidar o outro a reflexão.

No último mês peguei alguns amigos/pessoas queridas/colegas que se autoentitulavam politizados e coloquei-os numa situação quase constrangedora, covarde até, eu diria. Pessoalmente, sem que eles tivessem chance de procurar no Google, pedi para que descrevessem as funções de cada cargo político e o resultado foi exatamente o esperado: 95% se enrolaram, gaguejaram e ficaram sem graça. Não fiz esse teste para constranger, mas para mostrar o quanto eles se maquiavam de uma suposta superioridade política e muitas vezes subestimavam os menos politizados, alienados, etc. Muitas vezes essas pessoas mais informadas, por compartilharem, falarem, entenderem e se interessarem mais sobre política, acabam se portando como “donos da brincadeira”: cagam regras, não aceitam que alguém discorde deles – mesmo que educadamente –  e muitas vezes são agressivos e extremistas gerando um ambiente de opressão, intimidando gente que até gostaria de opinar ou de tirar dúvidas para debater.

Eu defendo que esses discursos de ódio – e isso vale pra direita e esquerda – acabam criando filhotes replicantes, sentinelas que imitam comportamentos achando que política só se ganha na piada – tipo votar no tiririca -, no grito ou na calunia oportunista, como usar fatores pessoais que não são relevantes para a discussão a fim de denegrir um candidato. Partindo do pressuposto de que o brasileiro não é politizado e que o nosso eleitorado tem indecisos COM e sem intenções de voto, acho que está na hora de começarmos a informar com educação ao invés de tentar vencer no grito, apurar antes de compartilhar, ou tomar cuidado para não sermos aquele que acusa os políticos de serem desonestos, mas ao mesmo tempo compartilha mentiras ou piadas tendenciosas, que mesmo de forma inconsciente, ficam na cabeça das pessoas. Até por isso as plataformas eleitorais hoje gastam milhões em Marketing.  Eu sempre sou repetitivo nisso por achar que esse é sim um caminho, e que política é feita de informação – quanto mais melhor. Leiam opiniões e principalmente contra-opiniões. Duvidem dos textos que vocês estão lendo e procurem a versão contrária deles. Não leiam apenas confirmações do que vocês acham, leiam discordâncias. Se você lá no fundo sabe que politicamente faz um papel pequeno, tenha a noção de que o seu grande papel político possui uma unidade numérica que é equivalente a de qualquer pessoa que possui mil vezes mais conhecimento político do que você, já que no final ela tem direito a um voto exatamente igual a você. E votar consciente, buscando informações, é o jeito mais importante, completo e decisivo que você tem para exercer política.

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benesi* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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