A dor de sustentar a intimidade

* Por Frederico Mattos

O nosso pânico em relação à rotina, diferente do que a maioria das pessoas pensa não surge do medo do tédio ou do mesmismo. O verdadeiro medo é o de ter que aprofundar a relação com os outros e consigo mesmo.

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Imagine que a sua personalidade é uma casa e que você supostamente a conhece por ter percorrido todos os cômodos. Mas até que ponto se sente realmente cúmplice de todas as correlações entre os cômodos? E se descobrir que ao ficar em silêncio poderia notar sons vindos de cômodos desconhecidos? E se descobrir um labirinto que impacta o que acontece nos cômodos que diz conhecer plenamente?

Nesses cômodos ignorados costumam habitar aquelas facetas menos admiráveis publicamente, aquela porção de humanidade que queremos esquecer por nos envergonhar.

Três lances:

– o avô está debilitado e parece resistir por força de aparelhos, todos na família estão exaustos e a única coisa que passa na cabeça é um desejo de “porque ele não morre logo”, mas não por odiá-lo e sim  por amor, um amor que quer se despedir da dor.

– o marido não se cuida mais, nem mentalmente ou fisicamente, profissionalmente se conformou numa condição de síndrome do pequeno poder e tudo segue insuportavelmente aborrecido, dentro e fora da cama. A vontade de bater na cara do parceiro de anos vem associada com um desejo que ele desaparecesse ou que não fosse tão terrível traí-lo.

– o amigo que costuma utilizar métodos pouco limpos para aumentar seu faturamento e você que faz tudo como manda o figurino está mais apertado e enjaulado. A inveja raivosa misturada com o fracasso covarde não é algo saboroso em reconhecer.

Não queremos mergulhar nesse porão, ter acesso às memórias terríveis ou sentimentos de desamparo, inadequação e solidão.

Para evitar tudo isso repelimos a reflexão ou a intimidade genuína, ser desmascarado seria doloroso demais. Mas mesmo assim carregamos a vida com o temor sempre presente de que alguém nos flagre em nossa fraude.

O resultado que vemos na superfície são escolhas que nos colocam em lugares ruins. Se coisas boas acontecem vem o sentimento de não ser merecedor.

Sustentar a intimidade é muito mais do que inventar novos truques ou cartas na manga, pois o real aprofundamento de uma relação, principalmente amorosa precisa passar pela caldeira dos nossos medos e demônios. Sem isso, agiremos com uma dose de artificialidade tentando suportar o peso de uma rotina afável na superfície, mas internamente fria e secreta.

Será que poderíamos ser amados pelas nossas vulnerabilidades? Seríamos desejados mesmo com nossas incompetências? Nós mesmos aceitaríamos que não fossemos invencíveis?

Essas respostas seriam mais fáceis de responder se tivéssemos familiarizados com o conteúdo do porão. Mas quem se arrisca a conviver com ele?

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Eu gostaria de compartilhar com você uma experiência de conhecer o porão num trabalho de fim-de-semana no dia Dias 29 e 30 de novembro sobre como construir maturidade emocional. O convite está colocado, quem sabe possamos trocar um pouco de experiências de vida? [saiba mais]

construindo maturidade emocional ____________

Captura de Tela 2014-08-26 às 10.05.17* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“,  “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094

 

 

 

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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