Recado do Cupido

Caro Fred,

Sei que você tem falado com muita gente sobre o amor e o desamor de casal, então, se puder, passe esse recado para suas leitoras, por gentileza.

Continuo bem ativo

Há milênios tenho realizado um trabalho bem complicado, unir duas pessoas numa história de amor. Chega a ser exaustivo esse tipo de tarefa, afinal são centenas de milhões de casais que se formam hoje em dia. Na Antiguidade não havia tanta gente como hoje. Preciso fazer cálculos mais detalhados. Alguns dizem que estou velho, míope ou confuso e que tenho errado na minha pontaria.

Minha flecha continua afiada, meu arco ainda está bem envergado e minha pontaria tem se aprimorado cada dia mais. Não quero me fazer de vítima, mas acho que os seres humanos que estão confusos.

O amor não se submete às regras que os humanos inventaram, pois a visão aí na Terra é bem limitada. Não costumo juntar pessoas por conta dos critérios que vocês acham importantes. Sei que os carros levam as pessoas em lugares incríveis (tenho o privilégio de ter asas), mas as pessoas se acostumam com os carros e no final das contas é o que acontece dentro deles que determina a qualidade do amor.

Apesar de eu ser um anjo não sou ingênuo de pensar que dinheiro não dá uma forcinha para os casais pagarem por experiências únicas, mas sei também que vocês costumam confundir isso tudo com relacionamento. Cumplicidade financeira é própria de casais maduros que já perceberam que o jogo de poder só enfraquece o amor. Quando vocês brigam por causa de dinheiro na realidade estão discutindo sobre quem manda em casa. Isso deveria ser motivo para uma história tão bonita acabar?

Eu sempre aplaudo como vocês avançam em tecnologia e tentam tornar a vida mais fácil, com menos trabalho e dor, mas me espanto como têm usado esse critério no amor. Tem sido tudo um pouco descartável, né? Cansou, jogou fora.

O amor tem algo de confuso, imprevisível e cheio de tropeços. Tenho percebido as pessoas temerosas de trombar com o improvável da vida. Vocês criam manuais de bom comportamento e são implacáveis.

Se acabar dinheiro, juventude, beleza e tesão fecham as portas do coração e passam a gritar com a pessoa amada. E os ciumentos, então? Esses acreditam tanto que serão deixados que se tornam perseguidores do seu amor e dão mais importância para a presença de um intruso do que para os momentos mágicos à dois.

E aqueles detalhes que me fazem chorar quando olho tudo aqui de cima? As gentilezas que tornam o peso da Terra menor tem sido tão raras. A docilidade entre casal tem dado lugar às garantias e quando a segurança é ameaçada os dois se fecham em medos e acusações mútuas.

Não me lembro de encontrar um relacionamento duradouro e feliz onde as coisas fossem levadas a ferro e fogo. A verdade nua e crua pode ser deixada de lado às vezes, só para poupar a relação de fraturas desnecessárias. Vistas grossas podem ser um ato de amor também.

Se eu pudesse recomendar uma única coisa: desfrutem da vida na companhia da pessoa amada e facilitem o caminho dela sem cobranças.

E antes de me culparem por algo, lembrem que eu só dou o pontapé inicial, mas quem sustenta o amor são vocês!

Continuo por aqui, portanto, amem-se!
Assinado: Cupido 

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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