Personalidade rígida (obsessiva)

* Por Frederico Mattos

Ela lê as resenhas da novela só para saber o que vai acontecer no capítulo de hoje.

Ele gosta de planejar cada passo dado nos próximos seis meses.

Ela quer saber exatamente o que ele fez e com quem falou.

Ele está cagando para as regras e o que os outros dizem.

 

O que essas quatro atitudes podem revelar de uma pessoa? Segundo a Psicanálise ela pode ter indícios de uma pessoa com caráter anal, alguém que tem a sua libido fixada em estágios pré-edípicos e que tem um alvo básico na vida, controlar cada passo do que lhe acontece para evitar lidar com impulsos inconscientes perturbadores. O termo anal se refere a época em que a criança precisa ser educada a controlar os esfincteres e é submetida a uma interrupção no seu prazer natural de defecar e para isso precisa aprender duas tarefas, reter as fezes e expeli-la no momento adequado, segundo regras e ocasiões específicas. Nessa fase, ainda segundo a Psicanálise é que a criança desenvolve o senso de dever, obrigação, controle e checagem (inclusive das fezes) de tal forma que essas habilidades se estendem para outras áreas da vida até a fase adulta. Algumas pessoas atravessam esse período de forma saudável, mas outros guardam impressões estranhas, ruins e guardam consigo (sem o saber) resquícios da má elaboração dessa fase.

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O que é?

A neurose obsessiva é tipo de comportamento de checagem, perfeccionismo, ordem e busca de uma vida regrada e virtuosa ou em outros casos na antítese suja, pecaminosa, proibida e fora das regras.

A literatura psicanalista ofereceu muitas contribuições para o tipo de pessoas que tem uma fascinação por manter a ordem e se torna excessivamente formal; tem uma tendência a ser comedida chegando a ser avarenta e até uma obstinação que se transforma numa rebeldia esbravejante.

 

Valores rígidos

Essas pessoas tem uma necessidade de um mundo equanime, equilibrado, calculado, justo e sem nada fora do lugar. Em seus sonhos mais recônditos anseia por não ver nada desagradável e por isso gosta de tomar as rédeas de cada detalhe em sua vida. Esse padrão de exigência faz com que não delegue nada por acreditar no inconfessável absurdo de que ninguém mais poderia fazer o que faz tão bem. O mais importante para ele é preservar o direito de decisão.

Esse tipo de pessoa convive com a imaginação de que os outros tem uma intenção velada ou até usurpadora e por isso acaba sendo desconfiada e até um pouco paranóica com as ações alheias.

A pessoa raivosa em grande parte vive esse tipo de busca incessante em corrigir o mundo e por isso se estressa e indigna ao tentar fazer com que todas as pessoas ajam educadamente. O problema é que seu senso de retidão é tão rígido e implacável que o resultado é sempre uma explosão desmedida diante de mínimos acontecimentos que para outras pessoas passariam despercebidos.

 

Racionalizar

A tentativa de compreender racionalmente todas as camadas da realidade é um objetivo constante e certamente perturba suas relações, afinal demostra certa frieza pessoal quando o assunto é emocional. O seu prazer no campo da imaginação costuma superar a própria satisfação na execução, a expectativa da festa é melhor do que a própria.

Sentimentos, afetos, impulsos e desejos são “coisas ameaçadoras” por isso evita qualquer tipo de surpresa ou situação imprevista para que não seja flagrado em demonstração de emotividade e vulnerabilidade.

 

Acumulação

Dinheiro e conhecimento são temas usualmente favoritos, gosta de guardar e empilhar cada nota ou informação em um monte cada vez mais seguro para si mesmo e seu futuro. Uma certa mesquinhez na hora de dar algo de si costuma estar presente em suas atitudes. Sem que perceba está contabilizando a recíproca da atitude alheia ou pondo na balança se recebe na mesma medida que dá. Gostar de estar “quite” com os outros e nunca em dívida. Cada centavo é matéria de interesse em sua vida, chega a ser minucioso e detalhista, evitando o desperdício de coisas e ações.

Manias

Não é incomum um obsessivo fazendo listas e registros de cada coisa que realizará já que gosta de formular pequenos métodos e teorias sobre tudo.

Pequenas manias costumam estar presentes como dividir a comida em porções, ou deixar o melhor para o fim. De forma geral gosta de criar métodos e processos para garantir, sem que o saiba, uma sensação de que tudo está em ordem. Como não gostam de perder tempo com nada adoram fazer mil coisas ao mesmo tempo para sentir aquela sensação de utilidade e nobreza de caráter.

Por conta da teimosia orgulhosamente chamada de “foco e resultado” a pessoa rígida acaba se fechando no seu próprio mundo de sistemas e fórmulas pessoais. Secretamente acha que seu jeito de enxugar-se do banho, cortar a carne, escrever, dançar, estudar ou trabalhar é o mais eficiente. Essa autoimagem de durão em relação as coisas faz com que o obsessivo tenha um espírito de sacrifício pessoal muito grande, até por isso cobra das pessoas um comportamento exemplar. Isso traz certo peso na sua maneira de encarar o mundo e tem grande dificuldade de viver com leveza, alegria e contentamentos banais. A ideia de que deve viver uma vida com significado profundo ou na realização de uma missão de grande importância rouba muito da fluidez cotidiana e de formas de relacionamento que não tenham grandes relevância.

Apego

Com coisas, pessoas e lembranças tem dificuldade em se desapegar. O novo, ainda que desejável é sempre perturbador, pois confronta a ordem estabelecida. Muitas vezes se pega amontoando coisas incapaz de se desvencilhar de algo por achar que algum dia ainda vai precisar. Surpresas não são com ele.

Em função disso é incapaz de perdoar ou esquecer um ofensa. Seu senso de moralidade é muito elevado e acredita que as pessoas deveriam agir de modo exemplar em cada pequena ação. Uma ofensa é um ultraje imperdoável que será tirado da gaveta em cada nova ocasião para ser cobrado do outro a mal recebido no passado.

Em alguns casos o desejo de perfeição é tão intenso que a pessoa é tomada de certa apatia e falta de iniciativa, tamanha é sua preocupação em deixar tudo redondo e sem pontas soltas.

Relacionamentos

Faz o mesmo com a vida, por isso os relacionamentos pessoais são um desafio quase impossível para o obsessivo, afinal, deixar cada palavra, intenção e emoção sob controle já é torturante e ainda mais quando esse desejo de controle se estende aos outros. Quem está por perto é sempre submetido a inúmeras, variadas e sutis formas de checagem e avaliação de gostos, princípios e comportamento. Seu desejo meticuloso de conhecer cada detalhe de sua vida (e do outro) acaba o tornando chato na convivência.

O obsessivo faz uma caçada às bruxas em relação a tudo que se oponha ao seu pensamento normativo, mas os alvos preferidos costumam ser tudo aquilo que seja popular ou “fútil”. Do seu mundo de superioridade ele olha para as pessoas com certo desdém quando não entram no seu padrão, afinal adora achar que tem uma visão além do alcance.

Secretamente guarda essa prepotência de quem se leva muito à sério e acaba condenando a todos com muita frequência do alto do seu conservadorismo moralista. Todas as pessoas, ainda que ele não perceba, são rotuladas com algum adjetivo que as tornem duvidosas.

 

Crítico

 

A inveja, além dessa desconfiança é seu tormento pessoal contra o qual não consegue se ver livre. A crítica “construtiva” que acredita fazer em relação a tudo é uma espécie de ataque imaginário sobre os outros. O amargor pela conquista alheia costuma ser sua pedra no sapato, pois a tendência constante de se comparar com os outros é muito grande.

 

Valores binários

A noção de erro, correto, pecado, salvação, bem, mal, e todas as categorias polarizantes costumam ser temas de preocupação obsessiva, afinal ele quer corrigir o mal do mundo. Quando conquista algo bom imediatamente se vê com uma sensação de perigo iminente como se fossem roubar sua conquista ou com um sentimento de que não merece tamanha felicidade. Por essa razão raramente se sente feliz, pois sempre acha que nem tudo está como poderia ser.

Você pode estar se perguntando agora mesmo se essa descrição, ainda que não completamente, diz respeito a forma que leva sua vida. Ainda que ela não descreva 100% do modo que toma suas decisões existem traços obsessivos na sua maneira de se relacionar. Talvez se percebendo dessa maneira o seu desejo seja mudar imediatamente, mas isso em si já é próprio do traço obsessivo, que quer ter mais e mais controle sobre cada aspecto.

Nesse momento seria válido relaxar, soltar, respirar e colocar um pouco de lado sua preocupação, depois retorne e repense o que pode fazer com isso. Por hora.

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Compartilho essas e outras histórias, além dos meios práticos para lidar com inveja, raiva, tristeza e medo no workshop “Construindo Maturidade emocional” no dia 29 e 30 de novembro. Aguardo você lá! [clique aqui]

 construindo maturidade emocional

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Captura de Tela 2014-08-26 às 10.05.17* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“,  “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094

 

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Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli

 

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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