Você não é inseguro

* Por Frederico Mattos, psicólogo

No vocabulário emocional popular não existe palavra mais mal empregada do que insegurança. Normalmente ela é uma carta curinga utilizada para expressar uma série de outras coisas que não correspondem à insegurança propriamente dita.

Insegurança é a falta de segurança funcional ou basal de uma personalidade, ou seja, é a incapacidade de operar na vida cotidiana ou numa dinâmica mais profunda da vida.

Quando uma pessoa tem dificuldade em escolher entre comida japonesa ou italiana ela não é insegura, pois tem recursos gustativos e sabe qual o paladar que apetece. O problema dela é não saber enfrentar a reprovação dos seus acompanhantes, caso não caia no gosto de sua companhia. Ela não sabe agir sob pressão, então seria tensa, travada, perfeccionista. O comportamento aparente é de insegurança, mas na fonte o problema é uma necessidade de aceitação, como se sua vontade ou gosto fossem degenerados e substituíveis se comparados com os demais. Seu sentimento predominante é de inferioridade.

Mas pode ser que uma pessoa que tem dificuldade em sentir prazer na vida se ache insegura e novamente a palavra está mal posta. É possível que ela seja muito vaidosa e extremamente focada na imagem que os outros projetam dela, como se tivesse ao só que ser amada e admirada, mas idolatrada. Seu mal-estar cotidiano é nunca sentir que subiu o suficiente no ranking imaginário no qual precisa estar no topo. Narcisista seria um termo melhor que insegurança. Em sua voracidade imaginaria nenhum lugar é suficiente se não for novo, cheio de status e irradiante.

Outra que se entedia fácil e não consegue levar nada à diante mais uma vez pode se intitular insegura, mas não seria muito preciso. Ela só gosta da fase do oba-oba enquanto está tecendo aplausos de incentivo ou congratulações pela nova idéia. Depois, na calada da noite, onde o trabalho duro e anônimo do TCC ou do projeto nem tão importante da empresa terá que ser executado, então o pique acaba. O insucesso não é por insegurança, mas descaso com o longo prazo, talvez um certo hedonismo que só ejaculação precocemente por não ser focado ou obstinado para além das aparências. Fogo de palha é mais justo do que inseguro.

E há também aquela que é ultra-ciumenta, daquelas que parece fazer do seu computador uma base do FBI de tanta capacidade de rastrear emails, senhas de facebook, geolocalização do parceiro amoroso. Ela se acha insegura mesmo tendo a habilidade de destruir com a moral do parceiro caso descubra alguma deslealdade. Não, ela é controladora, obsessiva, paranóica e se sente inferior, mas insegura não é, sabe o que quer e avança sobre quem se colocar no seu caminho.

Tem também o que se acha tímido e inseguro, calado e contido que é. No seu mundo secreto ele tem um radar capaz de rastrear todas as minúsculas reações dos outros e arquitetar um plano mirabolante para se defender ou reagir elegantemente. Da boca para fora o que sai sempre é um sorriso amarelo, mas por dentro há um ditador emocional capaz de desferir múltiplas chibatadas morais caso seu escravo cometa um mínimo erro ou engano. Se isso é insegurança então a Alemanha Nazista era um lugar de muita insegurança. Até para odiar a si mesmo com tanta força é preciso uma dose de segurança. Mal direcionada é verdade, mas segura.

Aquela pessoa que tem dificuldade de escolher o prato talvez possa ser de uma insaciabilidade sem fim. Daquelas vilas existenciais que nunca escolhe um caminho porque queria arrastar consigo todas as outras possibilidades excludentes consigo. É a pessoa que quer ter cinco vidas em uma, sem fazer nenhum único sacrifício pessoal. É aquela que de tanto escolher não escolhe nada e só garante o discurso de como sua vida é parada e entediante. Na sua cabeça é insegurança, claro.

O que seria insegurança de fato? É quando uma pessoa efetivamente não tem bases seguras nas quais se agarrar. De resto o que chamamos de insegurança muitas vezes é uma presunção maquiada de fraqueza, mas para se manter com uma dose de autopiedade autossabotadora.

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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui] e Mães que amam (demais livros e cursos [aqui]). Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094