Afinal, o que é “Cochilo Psíquico”?

* Por Juliana Baron Pinheiro

Alguns dos termos que eu uso nos meus textos, não foram pensados ou criados por mim. Geralmente os encontro em leituras, entrevistas (sou uma quase viciada nelas) ou ouvindo a conversa alheia. Então, dou um jeito de anota-los pra usar quando achar necessário ou conveniente. E foi exatamente isso que aconteceu com o termo cochilo psíquico, que eu usei na minha “mini” biografia aqui no blog.

Como MUITAS pessoas entram em contato comigo pra perguntar a respeito dele e como ele não é “meu”, resolvi escrever sobre, a fim de saciar a curiosidade de alguns ou simplesmente, convidá-los a refletir comigo.

PROVAS

Participo há mais de um ano de um grupo de terapia de mulheres guiado por uma psicóloga, aonde estudamos o livro “Mulheres que Correm com os Lobos” da psicanalista junguiana Clarissa Pinkola Estés. E foi em um dos contos desse livro, que eu fui apresentada ao termo. Apesar de não existir no próprio livro uma explicação conceitual do que é o cochilo psíquico, estudando o conto, fica claro que ele se refere àqueles que não dão atenção às necessidades da sua alma e ficam envolvidos apenas com as questões práticas do ego. Por isso, quem engata a vida no automático, cochila e abandona a sua alma, pode vir a perde-la.

“As pessoas que se permitem ser roubadas não são más. Tampouco erradas. Não são tolas. No entanto, elas são sob um certo aspecto inexperientes ou estão imersas numa espécie de cochilo psíquico. Seria um erro atribuir esses estados apenas à juventude. Eles podem ocorrer em qualquer um, independente da idade, da filiação étnica, do grau de instrução ou mesmo das boas intenções. Está claro que o fato de ser roubado evolui definitivamente para uma misteriosa oportunidade de iniciação arquetípica para aqueles que se vêem enredados na situação… o que se aplica a quase todo mundo” (trecho do livro).

Quando eu digo ao “me definir”, que no ano passado acordei de um cochilo psíquico, eu quero dizer que tomei consciência de que algo me incomodava. Sabe quando você vai vivendo e nem pensa sobre o que está fazendo com a sua vida? É que nem quando alguém faz todo o dia o mesmo caminho de carro até o trabalho, por exemplo. Chega um momento, que de tão automática a sua ação, quando a pessoa chega no destino, nem se lembra do que aconteceu no percurso até ali.

Algumas pessoas até escolhem não pensar. Enxergam a luz vermelha, sentem-se incomodadas, mas a vida é tão corrida, não é mesmo? Como elas vão parar pra ficar refletindo sobre ela?

Perdemos a pele da alma quando ficamos muito envolvidos com o ego, quando nos tornamos por demais exigentes, perfeccionistas, quando nos martirizamos desnecessariamente, somos dominados por uma ambição cega, ou quando nos sentimos insatisfeitas e não fazemos nem dizemos nada a respeito disso; também quando fingimos ser uma fonte ilimitada para os outros quando não fazemos nem o possível para nos ajudar(trecho do livro).

O problema dessa “cegueira” é que na grande maioria das vezes, algo de ruim pode acontecer e mostrar o resultado de se viver tanto tempo afastado da sua alma. Como Clarissa diz em seu texto, quando você anda distraído na rua, ocupado demais, apressado demais, desanimado demais, pode acabar sendo engolido por um bueiro, que tem o significado de chocar mesmo, de exigir atenção!

Acho que nem preciso enumerar aqui todas as situações que por vezes fazem as pessoas refletirem sobre suas vidas “na marra”…

Minha psicóloga sempre traz um exemplo simples, que eu já repeti pra muitas pessoas que conheço. Quando um carro está com pouco combustível, um sinal vermelho acende no painel. O que é mais fácil, você abastece-lo constantemente ou “sempre deixar pra depois” até o momento em que você terá que arregaçar as mangas e empurra-lo ladeira acima por conta própria?

Enfim, gosto MUITO desse assunto, desse conto e pretendo escrever mais sobre ele, tamanha sua aplicabilidade na vida de muitas pessoas. Pra quem quiser ler mais a respeito, já escrevi dois textos sobre o assunto: “Não há lugar no mundo melhor que o nosso lar”  e “Cuidado onde você deixa sua alma” .

Como costumo brincar, depois que acordei do meu cochilo psíquico no ano passado, resolvi peitar as adversidades da vida, tomar a frente das minhas escolhas e me dedicar à aperfeiçoar o que eu quero fazer até morrer” (trecho de um texto meu).

Alguém acordou por aí?

beijos, Juliana Baron Pinheiro

Ana Correa | 2012* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.