UM DIÁLOGO SOBRE OS NOSSOS ÍDOLOS DE VIDA E COMO SE SENTE UM FÃ.

*Por Eduardo Benesi

Eu sempre tive muita dificuldade com pessoas que admiro. Primeiro por colocá-las demasiadamente em um pedestal. Sou daqueles que declaro a admiração aos meus ídolos, cito coisas que só um fã (com traços stalkers) sabe sobre eles, e isso, ao mesmo tempo em que gera uma “credencial” também cria um distanciamento. Se você só trata alguém como ídolo, ele provavelmente só vai te tratar como fã. Por incrível que pareça, as pessoas que mais me inspiram, geralmente são “anônimas”, fazem parte do meu cotidiano, das minhas leituras de Facebook, das minhas (pré) concepções, e isso faz com que eu tenha inúmeras amizades platônicas – gente que é minha amiga num plano imaginário, mas que não sabe e que eu gostaria muito que soubesse. Acho que cultuar um ídolo é inclusive um tipo de religiosidade, já que eles influenciam diretamente em nossas atitudes e crenças. É muito comum, por exemplo, as pessoas curtirem um texto cegamente, sem ter lido, só por ter sido escrito por um ídolo.

Fans react as U.S. singer Mayer performs at the Rock in Rio Music Festival in Rio de Janeiro

Tenho um blog em que “coleciono pessoas”, na verdade essa coleção é um acervo de entrevistas com pessoas que acho interessantes. Gosto de gente autêntica, gente que quebre o meu tédio, que de certa forma descumpra algum padrão social, que sambe na cara da obviedade. Com o termo “stalker” começamos a notar que hoje em dia nossos ídolos talvez estejam muito mais perto de nós, já que ao “consumirmos” o seu cotidiano de forma voyeur, nos sentimos perto dos mesmos, e isso aumenta inclusive a oferta de ídolos, eu tenho muitos e não sei até que ponto eu deveria ter apenas um ou dois. Ultimamente venho pensando em fazer um retorno dentro desse itinerário do fã: afastar-me loucamente de todos eles, talvez pra evitar expectativas idealizadas, para que a indiferença – nesse caso livre de culpa – do outro, não seja tão cortante.

E como será que pessoas cheias de admiradores lidam com os exageros de fã? Penso que a fama, quando alcançada, vira uma espécie de frustração, já que a partir de certo degrau é como se “não existisse” mais um lugar para se ir, literal e metaforicamente. A celebridade ou o famoso acaba descobrindo que o sucesso pelo qual sempre apostou sua felicidade, não resolveu a maioria dos seus problemas e insatisfações de ordem imaterial. Ficam presas à um mundo claustrofóbico, sufocadas de um lado pelos admiradores e do outro pelo ego. Acabam então entrando num surto wannabe – só que ao contrário. Passam a querer decepcionar o mundo para testar a suposta fidelidade dele em relação ao seu sucesso – vulgo Justin Bieber ou Britney Spears. Muitos famosos chegam até ao ponto de se suicidarem, como temos acompanhado e muito na mídia. Com o tempo fui aprendendo que elogiar pessoas publicamente cultuadas não era algo exclusivo. Para a maioria delas, aquilo era uma repetição comum e cotidiana, por mais que elas tentassem forjar uma espécie de surpresa. Provavelmente o ato de serem bajuladas tornou-se tão trivial quanto entediante. Outro aprendizado é que uma pessoa, por mais pública que ela seja, não é um serviço de atendimento ao consumidor.  Ela tem limites, perde a paciência, acorda sem humor e às vezes só quer ficar sozinha. Obviamente pessoas que trabalham com imagem principalmente ao aceitarem entrar para o mundo do culto da idolatria, precisam sempre avaliar e relembrar que elas buscaram isso e que é esse um processo quase irreversível.

Nada impede que você admire alguém por um motivo e não por outro. Exemplo: existe um diretor de teatro que eu gosto muito, mas eu o acho extremamente antipático quando eu faço elogios à sua obra. E apesar de achá-lo blasé, isso não muda admiração que eu tenho por ele como diretor e não me impede de elogiá-lo mesmo sabendo que ele está “cagando” pra mim. Ou um exemplo famoso como o Antônio Fagundes que uma vez foi gratuitamente estúpido comigo dentro de um debate em público e eu até hoje continuo achando ele um grande ator, mesmo assim. Eu também admiro pessoas que você talvez ainda não conheça, mas um dia poderá ouvir falar – ou não. Existem também pessoas que eu admiro por um único motivo e talvez não pelo motivo que todos os outros admiram. Eu não admiro a Maria Ribeiro porque ela é uma boa atriz, aliás, a acho bem fraca por sinal. Eu a admiro porque ela é uma mulher que se diz de esquerda, mas mesmo assim assume suas futilidades de um jeito humorado e irônico. Existe um dono de blog que eu admiro muito mais pela sua habilidade, carisma e “cara de pau” para se vender do que pela sua escrita que lhe trouxe sucesso. Gosto da Rita Lee mais pela sua irreverência, por ela ser uma espécie de vovó rebelde, mas também gosto de suas músicas bagunceiras e sou eternamente apaixonado pelos Mutantes. Eu admiro mais o jogador David Luis pela simpatia e vibração do que por suas qualidades como futebolista. E eu não sei dizer se eu admiro mais o Marlon Brando por ele ter uma beleza quase que ofensiva de tão marcante ou por ele ser o melhor ator da história em minha opinião. Vivo dizendo que a Julia Roberts é uma das minhas atrizes do coração, mas não é porque ela é boa atriz – e olha que eu gosto dela atuando. Mas pelo seu sorriso cativante, pela sua elegância enquanto mulher, pelo seu charme em cena.

Existem diversos ícones da nossa geração que eu não consigo limitar a apenas um motivo de admiração. São polivalentes que fazem com que eu não me sinta desencorajado a adotar um perfil multi-tarefas. O escritor Rafael Gomes além de roteirista, também dirige, faz críticas de cinema e é um dos responsáveis por me fazer gostar de Roberto Carlos. Posso também citar Lena Dunham, a aclamada roteirista e protagonista da série “Girls” da HBO, que traz a geração pós-universidade de mulheres de Nova Iorque e seus dilemas existenciais, completamente pertinentes à geração y.  E você? Quem são suas referências na literatura, no cinema, na vida, na escrita, ou mesmo na música. Quem faz sua cabeça?

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benesi* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br