A quem você obedece nas Redes Sociais?

Como as redes sociais domesticaram a nossa obediência

* Por Eduardo Benesi

Ta virando praxe, é só fuçar no arquivo dos seus articulistas prediletos. Praticamente todo mundo que escreve sobre qualquer coisa na internet, já se concedeu uma pequena licencinha para fazer uma análise sobre a superficialidade das redes sociais. Todos dizem basicamente a mesma coisa, fazem premonições sobre tendências comportamentais das pessoas, e o quanto elas simulam. Até ai nenhuma novidade – também sou desses, inclusive agora. Mas é engraçado como alguns ciclos se repetem. Entra uma evidência em pauta e ela vai se deslocando feito uma esteira volante fordista – ou modista?

Os valores se transformam, o trajeto é até que previsível. O que muda são os cortes de cabelo, começando por aquele mais moderno até que ele fique saturado pela repetição, e seja naturalmente rejeitado pela turma anterior que precisa se desidentificar da próxima. Lembram da brincadeira da batata quente? Pode ser pelo tipo de câmera, da Lomo à Samsung da Pagé, do TED à autoajuda, antes rolava umas fotos de Buenos Aires e olhe lá, daqui 5 anos todos terão um blog sobre a volta ao mundo. Ano retrasado a grande sacada do pequeno empresário eram lojinhas de bolo caseiro de vó. No ano seguinte, as paleterias mexicanas tomaram o posto. O outlet de ontem será o gourmet de amanhã.

O caminho comum dessas pautas geralmente vai do hipster-analógico- politizado-anti hipster ao hipster-caricato-irôniniquinho-do-Twitter. Do hipster-caricato-ironiquinho do Twitter ao cool que usa óculos de grau sem nunca ter ido ao oftalmo. Do cool dos óculos de grau ao mainstream – e talvez eu já esteja falando das mesmas coisas. Do mainstream ao coxinha. Do coxinha à banalidade. Da banalidade à marginalização até que alguma contracultura renove o ciclo com novos eleitos. Intérpretes deslocados e readequados, novas cores de Lego das mesmas peças. Não deixe o samba morrer ou orkutizar.

O engraçado é que toda essa conclusão foi tirada não de uma observação material empírica, mas de um comportamento que se revela por uma repetição virtual de informações. Venho constatando que as minhas grandes queixas no mundo físico, são relacionadas ao que fulano disse ou postou no Face, não mais em ações concretas cotidianas. Num exemplo bem recorrente, fico imaginando que qualquer que seja a descrição do momento ou foto revelando alguma ação, no fundo aquilo já não é mais real, nem exato em sua relação com o tempo. A pessoa não está mais no fundo do mar, ela está olhando uma tela luminosa e escrevendo como se nada mais existisse no universo. Recorro ao velho recurso de pensar nas coisas em um sentido mais rústico ou primário. Não estamos no Facebook, estamos numa máquina cheia de teclas acreditando e comprando uma legitima sensação, como se ela fosse real. A oferta de aprovação é abundante. A gente posta algo que é óbvio pra uns e super likeavel pra outros, só precisamos escolher qual clubinho convém agradar.

Quem sabe se no fundo a tal inversão (real/virtual) tão prevista já não é um fato? Aquela sensação de que os computadores nos domesticaram, nós talvez sejamos as máquinas. Nessas horas, lembro-me de um diálogo do filme “Her” quando Samantha e Theodore ainda estão se conhecendo e ele diz: “não acredito que estou falando com um computador” e ela retruca: “você não está falando com um computador, está falando comigo!” Pois é… Um dia alguma Samantha nos disse isso, mesmo sem ter de fato dito, e nós viramos o própria Samantha.

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benesi* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br