CURRÍCULOS DO AMOR

* Texto escrito por José Chadan

Hoje em dia, quando alguém pretende procurar um emprego, precisa-se de um currículo. O currículo, por vezes conhecido também como curriculum vitae, que em latim significa curso ou percurso da vida. O currículo tem por finalidade apontar para as qualidades do candidato a vaga de emprego. apontando para os cursos que fez, as habilidades que possui e o objetivo de querer trabalhar nesta ou naquela empresa.

O currículo mostra, ao menos do ponto de vista profissional, qual foi o percurso que determinada pessoa percorreu ao longo da vida. Que caminhos profissionais ela trilhou, o que ela sabe, o que pode ensinar, fazer, produzir e etc.

 

Curriculum Vitae

 O currículo é um documento necessário a quem quer que se pretenda arrumar um emprego. Ele é indispensável em todo o mundo corporativo. Ele informa também, onde determinado candidato adquiriu seus conhecimentos. Se ele é perito em artes, engenharia ou física, onde adquiriu tais conhecimentos? Quem foram seus mestres, aqueles que lhe indicaram o caminho? Aprendeu em universidades conceituadas, particulares ou públicas? Ou, seria um autodidata? E, neste caso, quem validaria seus conhecimentos?

Dito isto, quero propor aqui um exercício de imaginação: se toda empresa que se preze, todo ambiente corporativo exige o currículo dos candidatos antes de o contratarem, não poderia se dar o mesmo no caso dos enamorados?

Uma moça está enamorada de um moço, combinam um encontro nalgum lugar que os agrade, seja um parque, restaurante ou cinema. Então, a moça, sutilmente e o moço também… deveriam averiguar sobre o currículo do amor ou dos amores desse(a) candidato em questão.

Ora, ele ou ela estão se candidatando a preencher uma vaga um no coração do outro, mas, antes de serem aprovados ou rejeitados na “entrevista”, é preciso saber algumas coisas como: onde você aprendeu sobre relacionamentos saudáveis? Quem lhe ensinou sobre respeito ao outro? Quais são seus valores maiores, aqueles dos quais você dificilmente abriria mão? O que você sabe sobre o amor e com quem aprendeu?

 

Detalhe de O Nascimento de Vênus, de William Adolphe Bouguereau (1825-1905). Oléo sobre Tela.

Detalhe de O Nascimento de Vênus, de William Adolphe Bouguereau (1825-1905).
Oléo sobre Tela.

Curriculum Amoris

 

Onde aprendeu sobre o amor e as relações humanas e de respeito? Na igreja? Ortodoxa ou heterodoxa? Com pais hippies ou conservadores? Homofóbicos ou liberais? No mercado de capital, nas noitadas? No submundo ou num convento? Qual a experiência que possui? É flexível para continuar se aprimorando e aperfeiçoando aquilo que já sabe?

Enfim, amigo leitor(a), quando você estiver paquerando um pretenso candidato a vaga do seu coração, peça-lhe sutilmente o seu curriculum amoris e escolha um candidato que melhor lhe aprouver. Você fica no papel do R.H. como se fosse numa empresa e ele ou ela, no de entrevistado.

Perceba que não estou falando nem de dinheiro e nem de vantagens, como muitas vezes ocorre nas empresas e no mercado. Esta é apenas uma metáfora sobre currículos. O importante é preencher a necessidade básica humana de dar e receber amor. Percebendo que tipo de amor cada pessoa ou candidato tem para oferecer. Se preenche suas necessidades ou não.

Também não quero com esta metáfora tratar as pessoas como descartáveis. apenas fazer notar que, para o “mercado do amor”, podem haver inúmeros currículos. Tão diversos entre si, que impossível compará-los. tem o amor sado-masoquista, o amor cafajeste, o amor ursinho carinhoso, o amor sacrifical, o amor pragmático (que calcula e negocia), o amor desiderium  (de desejo) e muitos outros.

Compare todos os currículos que tiver à mão, porém não se esqueça que, o amor não se compra, não se barganha, nem por moeda, nem outro preço. O amor, em suas diversas faces, é tão somente, amor.

Ou, como disse certa vez Santo Agostinho: “O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele que me leva”. (Confissões, livro XIII, cap. 9, p. 363).

No contexto em que Agostinho faz esta afirmação, notamos que ele queria dizer de que o amor é um elemento natural na vida humana. Faz parte da constituição de todo o ser humano. Tanto faz parte, que não há quem não ame nada nem ninguém (mesmo que de forma equivocada e deturpada).

Se quiséssemos dissecar o amor até seu elemento mais simples, chegaríamos à atração. O amor é, pois, uma espécie de atração. E, aquilo pelo qual uma pessoa sente amor, atração, é para lá que se inclinará (por causa do “peso” do amor). Se amar o sexo, penderá para ele, se o dinheiro, para ele, se um trabalho voluntário, penderá para ele.

Agostinho quis ensinar de que o fundamento para toda ação humana, seja num negócio, numa entrevista, no mercado de trabalho ou mesmo num flerte, é o amor. No “mercado do amor”, existem sim, muitos amores (vide meu artigo sobre as quatro formas de amar), contudo, o melhor amor, é o que se constrói nos fundamentos sólidos da caridade. Do amor ágape, que ama desinteressadamente e busca o crescimento daquele a quem se ama. Desapegada e desinteressadamente. Um amor que não deseja possuir, mas libertar, ver florescer e crescer pelo bem daquele que se ama.

E, embora os amores se misturem comumente quando se ama, ouso afirmar, que mesmo quando se trata de namorados, a melhor pedida de amor é o:

 Curriculum Caritate

 LEIA TAMBÉM:

Confissões de Santo Agostinho, editado pela Livraria Apostolado da Imprensa, 11º edição.

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nuvem (1)*José Chadan possui bacharelado e licenciatura em filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2004) e licenciatura plena em História pelo Centro Universitário Assunção (2006). Lecionou no ensino público de São Paulo durante quatro anos e é também autor do livro de poesias intitulado Barca Melancólica (Fonte Editorial). Apresentou comunicações em conferências realizadas pela SOBRESKI (Sociedade Brasileira de Estudos Kierkegaardianos), deu palestras para alunos de universidades e institutos. Atualmente é mestrando em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Seus principais trabalhos estão publicados em blogs e em sua pasta compartilhada na web. http://www.pistosdarazao.blogspot.com.br