Pelo direito de ficar triste

* Escrito por Bruno Rodrigues

 

“Não é a felicidade que me interessa. O que me interessa é a vida, é a intensidade das experiências, boas e ruins. Se tiver que curtir uma dor porque morreu meu pai, ou meu cachorro, ou me separei de alguém que amava, é para chorar mesmo, e chorar é legal, faz parte de sentir a experiência.”

– Contardo Calligaris

Vive-se uma época onde se instituiu que ficar triste é proibido. Pessoas se enchem de remédios para não ficarem tristes, recorrem a fórmulas mágicas que prometem alegria constante, acreditam e abraçam supostos gurus que prometem uma vida só de sorrisos. Essas pessoas fogem o tempo todo da tristeza, sendo que ela faz parte da vida. Ficar triste é normal e necessário, o problema é “ser triste”. A vida é feita de experiências, agradáveis ou não, e enriquecedoras ao mesmo tempo.

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que não faço aqui uma apologia à tristeza, mas convido a uma reflexão em torno da postura de querer exterminá-la a qualquer custo.

“É melhor ser alegre do que ser triste / Alegria é a melhor coisa que existe” já escrevia Vinicius de Moraes na canção “Samba da Benção”. Só se conhece a alegria por existir a tristeza para compará-la, são opostos, impossível viver só de alegria, isso seria irreal, do mesmo modo que alguém que só viva de tristeza.

A tristeza não é um sentimento, ela é uma emoção, pode surgir devido a milhares de situações diferentes e inclusive em momentos onde aparentemente não se tem nenhum motivo para ficar triste. Quem nunca ficou triste sem motivo? Na verdade motivo sempre existe, causa sempre existe, (pode ter sua origem inclusive em nosso organismo, pela alteração de determinados hormônios), mas nem sempre sabe-se qual a origem. Os momentos de tristeza convidam à introspecção, à reflexão, ao autoconhecimento. Grandes obras nasceram de momentos de tristeza. Renato Russo dizia que foram nos momentos de “fossa” que nasceram suas mais brilhantes canções. Para quem não sabe na sua juventude ele ficou por dois anos sem sair da cama, devido a uma doença rara, ali aproveitou para ler muito, e ao sair da cama em duas tardes, aliás, em apenas duas tardes, embaixo de uma árvore ele escreveria Faroeste Caboclo, de uma só vez, sem mudar uma vírgula sequer.

Algumas pessoas usam a tristeza como desculpa, se escondem atrás dela, optam por viver uma vida triste, sem graça, apagada, mas isso por não terem a coragem de serem plenas em suas vidas, preferem o papel de coitado, de vítima, ao de protagonista.

Viver triste é uma coisa, ficar triste é outra. Ser uma pessoa sempre triste é preocupante, mas ficar triste é normal, natural. Busca-se o controle de tudo até das emoções. Se permita ficar triste, aproveite para observar o que ela tem a lhe dizer e que possa utilizá-la como motivação para seguir em frente, como força para buscar restabelecer os momentos de alegria, mas não fuja a todo custo da tristeza, as consequências não são agradáveis. Agora, se a tristeza demorar a passar, ou se lhe trouxer prejuízos no campo emocional, busque ajuda de preferencia profissional.

A tristeza tem muito a nos dizer, se a causa é conhecida, é a oportunidade de buscar uma solução e se não existe solução é o momento de aprender a lidar com a situação. A tristeza faz parte da vida, aproveite os momentos de tristeza, converse com ela, a sinta e sinta o que ela tem a dizer.

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*Bruno Rodrigues

É psicólogo clínico com consultório em Alphaville, apaixonado pela vida, amante dos bons livros, ex-sedentário, futuro ex-obeso, viciado em Pro Evolution Soccer. Adora dar palestrar e dificilmente diz Não para uma boa festa.

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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