Luto e depressão

Sigmund Freud escreveu um dos textos que mais gosto em sua grandiosa obra. O texto se chama “Luto e melancolia”, a melancolia é o que na época se chamava a atual depressão.

Muitas pessoas confundem alhos com bugalhos, ou seja, uma reação natural de pesar por uma perda real em suas vidas com um estado de depressão.

Vivemos num mundo pouco acostumado com administração de dores e perdas emocionais. Aqueles rituais antigos em que se demoravam 2 dias para velar o defunto em casa, depois 7 dias com uma missa, depois 30 dias, 1 ano e 10 anos eram demarcadores sociais que lembravam o tempo que temos para digerir a partida de um ente querido. Nos anos 2000 queremos luto fast food, limpo, rápido, saboroso e sem incômodo. Se algumas pessoas pudessem velavam o defunto e no dia se casavam.

Luto não se refere só a morte física não. Luto é o processo (não acontece em um ato único) que demanda uma digestão lenta de qualquer perda significativa, seja de um amor, um emprego ou uma condição social e financeira.

Existem lutos por conta de perda e outros por conta de ganhos. Um milionário de mega-sena passa por um luto de sua identidade de pobre e miserável que exigirá grandes esforços emocionais para superar sua autopiedade e fracasso pessoal. Ele tem uma comunidade a qual pertence e está bem inserido e de um dia para o outro precisa administrar um fortuna e tudo o que vem acompanhada dela. Não foi um processo gradual e construido aos poucos de forma que houvesse uma adaptação. Foi brusco e por isso a quebra e o luto decorrentes. Não é incomum ver pessoas que foram promovidas passarem por isso, já que agora não poderão mais se relacionar com os seus pares e colegas de trabalho com a mesma intimidade de antes, as fofocas agradáveis serão substituídas por outra relação de poder.

O crescimento psicológico também sofre lutos, afinal sair de uma condição de eterno sofredor traz novas responsabilidades. Agir como o maluquinho, o inconsequente, o rebelde, o explosivo tem suas pseudo-vantagens, ninguém se mete com alguém problemático. E exatamente por essa razão é mais fácil continuar nessa condição de passividade existencial, pois poucas pessoas realmente levam elas a sério.

A dor de um luto tem prazo de validade para acabar e é proporcional ao nível de apego que você desenvolveu com aquela pessoa ou condição. A nostalgia e a saudade serão diferentes eom o tempo e gradualmente distintas.

Já a depressão se instala silenciosamente, sem aparentes desastres e mesmo que sejam em desastres aparentes paralisam a pessoa de forma desproporcional ao fato e resistem a qualquer tipo de mobilização existencial.

No caso da depressão é como uma erva daninha que vai crescendo em meio a plantação saudável e que diante de um fato externo que justifique sua manifestação passa a tomar conta da vida da pessoa.

Essa metamorfose na maior parte das vezes é inconsciente, mas nem por isso torna a pessoa menos responsável por uma visão de mundo derrotismo, passiva e dependente. O abatimento sem fim que paralisa a vida da pessoa que passa por depressão é em parte construída por ela aliada a sua tendência genética. É como se a pessoa tivesse que remar mais forte contra a correnteza que as demais pessoas.

A diferença entre o luto e a depressão, portanto, é o grau de proporção de apatia frente aos acontecimentos cotidianos e quebra da realidade habitual por uma perda real.

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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