Livro: Auto-compaixão – Kristin Neff

* Por Thalita Thomé

“To give ourselves compassion, we first have to recognize that we are suffering. We can’t heal what we can’t feel”

No começo, quando me propus a escrever um texto sobre a auto-compaixão, pensei em traçar minuciosamente o esqueleto da auto-compaixão, quase como um texto didático.

self compassion

Lendo o livro Self-Compassion (Auto-compaixão) da Kristin Neff, percebi que os seus achados já foram muito bem descritos em textos compactos internet afora e que minha ideia não era de todas a mais original.

Até que me deparei com a frase que inicia este texto:

“Para nos darmos compaixão, nós primeiro temos que reconhecer que estamos sofrendo. Não podemos curar aquilo que não sentimos.”

Esta frase em particular me levou de volta ao motivo pelo qual eu procurei conhecer um pouco mais sobre a auto-compaixão: uma sensação meio opaca de anestesia que vinha me ocorrendo nos últimos tempos.

Era uma sensação um tanto estranha. Como se as piadas tivessem perdido a graça. Como se os dramas de repente tivessem perdido a capacidade de me emocionar. Como se os olhos passassem a queimar se por acaso se encontrassem por mais de alguns milésimos de segundo. Como se as conversas de elevador sobre o clima estivessem se expandido para dentro de casa, e para fora dela também.

Não me entendam mal. Eu nunca fui do tipo de pessoa que fica acomodada ou que se contenta com pouco. É só que um dia me vi assim. Como se alguém tivesse reduzido o brilho da vida de uma hora pra outra. E isso começou a me incomodar.

No entanto, alguma coisa não estava certa. Quando fui buscar respostas para as minhas perguntas, encontrei muitas pessoas com os mesmos problemas que os meus, mas ninguém falava diretamente sobre eles. Falavam sim, de uma falta de vida, mas pouco era discutido sobre possíveis causas. Conversas mais profundas eram raras e ocorriam sempre em tom baixo, meio assustado, em tom de confessionário. Falar do próprio sofrimento havia se tornado uma atividade clandestina.

Ao mesmo tempo, cansava de ouvir receitas e conselhos de vários tipos, sempre com promessas interessantíssimas acompanhadas de uma listinha de X passos para uma vida feliz e satisfatória. Ninguém de fato parava pra falar da situação em si, mas falavam como ela deveria ser. E as pessoas procurando ajuda respondiam (eu, inclusive), meio desesperados, “ok, vou melhorar”. Em uma analogia bem boba, é como se a nossa vida fosse um carro sem gasolina e estivéssemos lendo sobre como podemos ter mais força para empurrá-lo. Ele de fato anda. Mas somos nós que o levamos, e não o contrário. Dá uma sensação de freio de mão puxado.

O capítulo que contém o trecho do início do texto se chama Being Mindful of What Is (Estar atento ao que é). O conceito de “Mindfullness” é traduzido para o português como atenção plena ao momento de agora e também é a base da meditação. Um bom final para este texto seria escrever que através da meditação as portas da auto-compaixão se abriram para mim e agora entendo o seu verdadeiro significado. Mas não.

Eu não sei meditar. Quando tento, fico dando voltas sobre como não deveria estar pensando em nada e acabo viajando em pensamentos relacionados. Aí fico frustrada. E triste. Por não conseguir meditar. Por não conseguir cumprir com os X passos pra felicidade como mencionei ali em cima. Em outras épocas eu ficaria batendo a minha cabeça na parede até conseguir. Mas agora é diferente, sabe. Agora tenho vontade de me abraçar. Tenho vontade de sentar na minha frente, segurar as minhas mãos e olhar no fundo dos meus olhos. Lá no fundo mesmo. E ficar em silêncio. Segurando as minhas próprias mãos. Porque no final das contas só eu sei como às vezes é difícil ser eu mesma.

Portanto, se alguém me perguntasse o que é auto-compaixão, eu diria isso: Auto-compaixão é quando a gente senta na frente da gente mesmo, segura as nossas próprias mãos, olha no fundo dos nossos olhos e fica em silêncio.

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Thalita Tome*Thalita Thomé: neta da Dona Neuza, estudante de psicologia, praticante do Método DeRose, leitora compulsiva e entusiasta do amadurecimento emocional. Aos 15 anos saiu de casa para fazer intercâmbio e descobriu que existia um mundo além do interior do Paraná onde nasceu. Hoje pega ônibus pelas ruas gélidas de Curitiba, dá aulas de inglês e toma sorvete na Cold Stone. Compartilha as belezas e as dificuldades da vida com o seu nego, Valmir. Não tem twitter porque não curte. Pode ser encontrada pelo email thome.thali@gmail.com