O tempo passa…

*Por Juliana Baron

Nesse sábado, completo vinte e nove invernos e dando uma olhadela para trás, sempre como uma forma de gratidão e não de prisão, percebi como o tempo passa. Já não sou a menina que mudou de cidade aos dez anos, nem a que entrou na faculdade de Direito aos dezessete. Não sou aquela que engravidou sem planejar aos vinte e dois, muito menos a que pariu o segundo filho há três meses. Porque o tempo passa e por mais que eu seja a soma de todas que já fui um dia, sou somente o que sou HOJE, nesse exato momento.

Não gosto de pensar que o tempo voa, já que ele corre da mesma forma sempre e para todos. O tempo só voa para quem anda apressado e eu venho aproveitando e aprendendo com cada passo, com cada pedra e tropeço. Também não adianta querermos para-lo. Esconder nossas idades, rugas e erros. Fugir do novo, das mudanças e dos recomeços. Porque ele pode não voar, nem desacelerar, mas que ele passa, ah, passa.

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O tempo passa todo dia, o dia todo. Passa para mim, para você, para um recém nascido e para um idoso. Ele passa quando olho para meu filho mais velho e ainda lembro da primeira vez que o vi. Passa quando encontro fotos antigas, quando sinto cheiros da infância e reencontro velhos conhecidos.

O tempo passa enquanto lavo a louça, troco fraldas, arrumo a cama e escolho qual sapato usar. Ele passa enquanto estou parada no sinal, na fila do supermercado e enquanto espero o elevador. E por mais que, às vezes, eu me sinta aflita com o que parece ser uma contagem regressiva e não progressiva, juro que não enxergo grandes problemas nesse passar do tempo. Muito pelo contrário! Vejo muita beleza quando o tempo segue o seu percurso e cumpre o seu destino. Porque esse fluxo incessante dos dias, além de me lembrar que a vida está passando junto com o tempo, também serve para curar mágoas, trazer amadurecimento e sabedoria. O tempo passa e com ele chegam novas histórias, novos personagens, mais calma e para os corajosos, novos amores.

A grande questão é que o tempo também passa, implacável e impiedoso, enquanto reclamamos da vida, da falta do mesmo, da brevidade dos dias. O tempo passa, principalmente, quando não seguimos nosso coração, trabalhamos com o que não gostamos e nos arrependemos do que não fizemos. Aí é que ele passa, desperdiçado e mal aproveitado. Quando pensei em voltar para a faculdade, há dois anos, para cursar, finalmente, o que gostava de verdade, fiquei muito na dúvida porque seriam cinco anos da minha vida sentada numa sala de aula. Porém, li uma frase que dizia que o tempo, no caso, cinco anos, iria passar de qualquer forma, então, que passasse comigo fazendo o que queria. E foi o que eu fiz. E foi a melhor coisa que eu fiz.

Óbvio que já desperdicei os meus dias, já rezei para que o relógio corresse depressa ou para que ele parasse para eu poder me ajeitar, organizar as ideias. Mas acredito que num panorama geral, venho tirando proveito desse andar da carruagem e sabendo respeitar a sua fluidez. Nessa olhadela para trás, que costumo fazer ao fim de mais uma volta ao sol, concluí não só que o tempo passou para mim, mas como sou grata à sua passagem. O tempo, esse que passa, me trouxe amigas maravilhosas e levou as que não eram para ser. Curou todos meus amores não correspondidos e me trouxe um marido maravilhoso. O tempo melhorou minha relação com os meus pais e me presenteou com filhos muito amados.

Por tudo isso, no fim das contas, posso dizer: que bom que o tempo passa!

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Baron* Juliana Baron Pinheiro: uniu seu amor pela escrita com um tom questionador que a acompanha desde que nasceu. Costuma refletir sobre a vida, sobre a maternidade, casamento, escolhas e outros temas do seu cotidiano. Adora um curso de autoconhecimento (em especial, os dias da sua análise), fazer faxina e comprar livros. Formou-se em Direito, mas felizmente nunca precisou atuar na área. Hoje é coach e estuda Psicologia. Escreve também no seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), nos milhares de cadernos que coleciona, no projeto do seu livro, no bloco de notas do seu Iphone, nas cartas para os amigos e em qualquer superfície que cruza o seu caminho.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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