Cadê o meu casamento que estava aqui?

* Por Juliana Baron

Dia desses, o Fred escreveu um texto sobre a relação entre casamento e filhos [veja aqui]. Está aí uma equação complexa, que vem sendo, inclusive, assunto constante nas minhas reflexões. Não, não venho vivendo nenhuma crise séria no meu relacionamento, apenas o acréscimo de um novo membro na família.

Adoro conversar sobre a maternidade e suas nuances. Gosto de saber que outras mães passam pelos mesmos dilemas que eu, que sentem além do amor, medo, cansaço e insatisfações. E conversando sobre esse lado controverso da maternidade, uma das pautas mais frequentes são os desentendimentos que surgem no relacionamento. Porque não há como negar. Para o bem e para o mal, quando um filho chega, a dinâmica do casal é totalmente alterada.

Acredito que tanto a maternidade, como a paternidade, mexem com todos os aspectos da nossa existência, dos mais particulares aos mais públicos, dos mais singulares aos que envolvem terceiros e aí se inclui o casamento. Desde a gestação, colocamos nossos desejos e objetivos que antes eram tão óbvios, em perspectiva. É como se o nosso centro e todas as nossas prioridades mudassem. Nos primeiros meses, as mudanças se intensificam. Sempre brinco dizendo que é como se alguém esbarrasse no nosso tabuleiro da vida e bagunçasse tudo o que antes estava certo no seu lugar.

Ficamos sem dormir, sem comer direito e o cansaço é tanto que mal nos reconhecemos. Muitas vezes, geralmente, quando o bebê dorme mal ou tem alguma necessidade diferente, sentimos como se uma tempestade se formasse sobre nossas cabeças. Aí é comum que surjam os desentendimentos entre o casal. Mas como o Fred mesmo diz em seu texto, uma tempestade quando passa, não traz nada de novo. Ela só evidencia aquilo que mantínhamos em algum lugar escondido. O nascimento de um filho não é motivo genuíno para destruir um casamento, apenas evidencia o que já estava em descompasso.

Claro que certa crise é esperada e “normal”, afinal, como eu disse ali em cima, um novo membro foi inserido num sistema que já operava e já existia, mas em alguns relacionamentos, as divergências são muito constantes e não cessam com o passar do tempo. Além das farpas trocadas depois de uma longa madrugada, começa a existir uma falta de respeito, de parceria, de cumplicidade…aí talvez seja o momento de procurar ajuda, de verdade.

Na minha primeira experiência, posso dizer que não me separei por um detalhe. Engravidei com seis meses de namoro, logo fomos morar juntos (o que por si só já geraria infinitas crises), nossas carreiras profissionais não nos motivavam, a grana era curta, os móveis não combinavam, nosso bebê chorava bastante….enfim, em vários momentos sentimos vontade de pôr fim àquele relacionamento como uma forma de pôr fim aos nossos problemas. Mas na verdade, as insatisfações eram muito mais individuais e se manifestavam nessa interação com o outro. Terminando nosso casamento, apenas trocaríamos de problemas, entende?

Nessa segunda experiência, as coisas estão sendo mais fluídas. É claro que em alguns dias nos estranhamos, brigamos, criamos expectativas sobre o outro e nos frustramos, mas isso é o que se espera de um casal que dorme mal, que não tem muito tempo de aproveitar momentos a sós e que, vira e mexe, perde a sua identidade diante de tantas demandas externas. Com filhos pequenos sempre existe certa exaustão e é preciso conviver com e apesar dela. Mais do que amor, durante esse período com filhos pequenos, é preciso muita vontade de estar junto e de dar certo.

Em alguns dias, eu e meu marido nos olhamos enquanto um filho chora e o outro não para de falar e rimos. Acho que talvez o bom humor seja um grande segredo para atravessar essa fase (nível hard) do casamento. Assim como conversar sobre o assunto também se faz importante. Ah, e saber que mesmo que estendida, é só uma fase e que logo o casal terá muitos e muitos anos para ficarem apenas os dois. Aí viverão uma nova equação complexa. Mas isso é assunto para daqui um tempo.

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Baron* Juliana Baron Pinheiro: uniu seu amor pela escrita com um tom questionador que a acompanha desde que nasceu. Costuma refletir sobre a vida, sobre a maternidade, casamento, escolhas e outros temas do seu cotidiano. Adora um curso de autoconhecimento (em especial, os dias da sua análise), fazer faxina e comprar livros. Formou-se em Direito, mas felizmente nunca precisou atuar na área. Hoje é coach e estuda Psicologia. Escreve também no seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), nos milhares de cadernos que coleciona, no projeto do seu livro, no bloco de notas do seu Iphone, nas cartas para os amigos e em qualquer superfície que cruza o seu caminho.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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