Crônicas da Vida – O desejo incontrolável

Por Mariana Martinho

Sábado à tarde. Quando se é adolescente e todas as suas amigas têm namorado não se tem muitas opções de divertimento além de Internet e Televisão.

O vento seco e morno entra pela janela da sala bagunçando o cabelo da menina que, sentada no sofá, mantinha os olhos ora na televisão ligada a sua frente, ora no computador em seu colo.

Na TV a mesma programação para desocupados de sempre no canal aberto de maior repercussão nacional.  Na tela do Laptop dezenas de janelas de redes sociais abertas sobre o papel de parede lotado de coraçõezinhos, beijinhos e outros denguinhos cor de rosa da área de trabalho.

Começa o comercial do refrigerante de preferência mundial. Sem perceber, a garota assobia a musiquinha grudenta da propaganda enquanto troca frases charmosas com um ou mais garotos pelo programa de mensagem instantânea.

A garota, sentindo um misto de sede e desejo de algo doce, se levanta e sai da sala afim de comer uma fruta. A fruteira, sobre a mesa da cozinha, fica exatamente na outra extremidade do casarão. Enquanto anda pelo corredor, devaneia com alguma cena romântica inventada entre um dos garotos com quem conversava e ela mesma.

Ao chegar à cozinha, completamente distraída, abre o armário, pega um copo e sem pensar abre também a geladeira. Enche o copo de refrigerante e retorna a sala.

Chegando lá se lembra de que planejara pegar uma fruta, resmungando toma o refrigerante enquanto aguarda o próximo intervalo. Quando o momento chega, se levanta e novamente percorre o grande corredor até a cozinha. Durante o trajeto se distrai novamente, desta vez se lembra de um acontecido na escola no dia anterior. Na cozinha, novamente abre a geladeira, enche o copo de refrigerante e volta para a sala.

Assim que se senta no sofá, percebe que repetiu o erro. Irritada, atravessa o corredor correndo, alcança a cozinha e, com foco total na fruteira escolhe a maça mais vermelha. Após um breve enxágüe, dá uma mordia grande na fruta suculenta.

Tão logo o caldo da maça escorre por sua boca, a garota sente o profundo azedume do açúcar natural em contraste com a glicose em excesso do refrigerante que acabou de tomar. Fazendo careta olha em volta e procura algo para beber que possa quebrar o sabor desagradável. Sobre a bancada, ao lado da geladeira, encontra a garrafa de refrigerante. Em agonia coloca o liquido no copo e bebe tudo em três goles, aproveitando ao máximo o alívio doce que percorre sua garganta.

Ao beber a última gota, ela olha da maça mordida para a garrafa semi vazia de refrigerante sobre a bancada e de volta para a fruta. Após instantes de reflexão, retorna a sala levando consigo a garrafa de refrigerante.

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Médica veterinária, metida a escritora e gestora de projetos (que!?). Roqueirinha de estilo e conceito de moda peculiares. Extremamente enfática e exagerada, tem a imaginação descontrolada e vive numa realidade paralela. Ama gatos, contos de fadas e ficções and likes to mix up words of 2 different languages at the same phrase! No twitter @ypioka71 / Facebook / E-mail marypuck@yahoo.com.br

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Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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