Sua mãe é louca
*Por Frederico Mattos, psicólogo clínico
Hesitei muito em falar desse assunto, porque falar de mãe é sempre delicado. Todo mundo inventou que mãe é perfeita e assunto tabu como time de futebol, política e religião.
Mas como eu gosto de fazer provocações habituais vou me aventurar.
Quero falar de mães que estão fora de controle. E fique atento, pois pode ser a sua.
Pelo menos a cada 3 semanas me procura para terapia uma pessoa que traz algumas queixas pessoais meio vagas, mas que afetam várias áreas de sua vida. Não chegam a ser deprimidas, mas tem um semblante um pouco apagado, vontade fraca, pouca disponibilidade social, relacionamento abalado ou inexistente e vida profissional igualmente cambaleante.
Quando começo a fazer o check-list dos aspectos da vida dela fatalmente o relato resvala na família e especificamente na mãe. Nesse momento sinto um aperto no coração e sei que meu radar terapêutico captou algum tipo de problema. Meu detetive interior começa a perguntar mais e vou descobrindo facetas delicadas sobre aquela que se prestou a ser mãe da pessoa à minha frente. Vou descrevê-la:
- Crítica excessiva aos filhos.
- Agressão física que pode ser de leves tapas até a espancamentos.
- Agressão psicológica que vai de humilhações em particular (ou pública) até acusação e culpabilização dos filhos
- Agressão sexual que pode ser uma castração da sexualidade dos filhos até abusos sexuais ou exposição à abusadores.
- Falta de afetuosidade, elogios e consolos de mãe.
- Chantagens constantes.
- Educação castradora.
- Acessos de descontrole ou vitimismo.
- Mania de acusar os filhos pelos seus sofrimentos.
- Instabilidade emocional.
- Múltiplos parceiros afetivos que acabam engolindo espaços na vida dos enteados.
- Falta de intimidade genuína.
- Tentativas constantes de manter os filhos por perto e ser senso crítico para questionar sua autoridade.
Se você se identificou com 5 ou mais itens é possível que sua mãe tenha grandes problemas emocionais que são descarregados sobre você.
Mulheres problemáticas não se transformam em santas ao virarem mãe, pelo contrário, aumentam o nível de responsabilidade e pressão que pode incitar um maior grau do problema.
Brinco que são mães “loucas” (sim o termo é pejorativo e preconceituoso) porque não sei fazer diagnóstico à distância, mas sei que existe algum quadro psicopatológico grave por trás desse tipo de comportamento bizarro.
Isso explica muitas ações incompreensíveis tais como comentar que a filha é gorda e feia na frente dos primos numa festa de aniversário. Explica uma mãe que faz disputa com o filho pela atenção dos avós. Explica uma mãe que finge que está passando mal para que a filha não saia de casa com o namorado que ela não aprovou (nenhum serve). Explica uma mãe que invade espaços dos filhos como bolsas, emails, celular sem nenhuma razão plausível só para obter informações que serão usadas eles. Explica mãe que criticam à exaustão os filhos e põe defeito em qualquer iniciativa de mudança destes.
Tudo isso explica, mas não justifica a devastação emocional causada naquela criança que quando se torna adulta começa a sentir as sequelas de uma educação recheada de contradições, ameaças, medos, frustrações e decepções.
A pior de todas sequelas a meu ver é o sentimento de total solidão e abandono emocional que os filhos passam ao longo da vida. Eles se constrangem quando ouvem outros amigos dizendo que a mãe é o amor da vida deles. O que resta nessas horas é um silêncio triste e envergonhado por não poder afirmar o mesmo.
Dia das mães é uma data opaca e ensaiada, pois boas recordações, gratidão e admiração não existem. Os filhos são obrigados a declarar amor quando nunca sentiram na verdade esse sentimento. “Amo porque é minha mãe, mas amor mesmo tenho pela minha avó (tia, madrinha) que me criou e amou mesmo!”. Eu traduzo essa fala como, não amo minha mãe, mas como é proibido não amar a mãe eu digo que amo.
O tratamento desses filhos de mães possuídas por um mal-estar tóxico é lento e delicado, pois é preciso tratar a pessoa como uma vítima da Síndrome de Estocolmo. Primeiro é preciso tirá-la do cativeiro, oferecer proteção real, caminhos alternativos, proporcionar outras fontes de motivação e afeto para então elucidar a dor mais lancinante que uma alma pode sofrer que é a de ter uma mãe incapaz de amar seus filhos…
Não porque os filhos não sejam dignos de amor, mas porque ela é incapaz de amar.
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.
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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094