Constelação Familiar de Bert Hellinger – A verdadeira consciência

Já falei nos artigos anteriores sobre a criação das Constelações Familiares, da primeira lei do amor que trata sobre o Pertencimento, do equilíbrio entre dar e receber, sobre hierarquia e encerro esses artigos falando de algo muito peculiar a todos nós: a culpa.

O trabalho com as constelações familiares é sempre surpreendente. Vemos dramas humanos expostos de maneira clara e percebemos como nossa consciência estabelece limites estreitos durante uma vida inteira.

Aquilo que chamamos de consciência moral tem bem pouco a ver com uma consciência que esteja de acordo com princípios divinos. Hellnger percebeu que existe nos grupos (nações, comunidades, famílias) uma espécie de consciência primitiva que atua sem que seja percebida conscientemente. É uma consciência inconsciente e só conseguimos perceber sua presença e atuação pelas consequências.

 

Existem, segundo Hellinger, 3 tipos de consciência: pessoal, a coletiva e a espiritual. Explicarei um pouco melhor o que significam.

consciência pessoal é aquela que nos faz sentir bem ou mal perante um grupo. Todo grupo tem suas regras, exigências, limites e leis morais. Lá é dito explícita ou implicitamente o que devemos ou não fazer, o que é permite ou não sentir e expressar.

Se sigo as regras do grupo sinto-me adequado, suprindo as expectativas e, portanto, continuo tendo o direito de pertencer ao grupo. Esse sentimento me leva a manter minha sensação de que sou inocente e não infringi nenhuma regra. É muito comum vermos nas famílias que uma pessoa é capaz de cometer verdadeiros desatinos para se sentir pertencendo a um grupo.

Conheço uma história de um rapaz que foi para a guerra e teve suas pernas amputadas. E por esse motivo foi dispensado do serviço militar e voltou para casa. Preferiu não contar o motivo de sua volta até ter a certeza de que sua mãe o pudesse ver pessoalmente. Pediu para que sua irmã o buscasse no aeroporto e lhe fez um pedido:

– Por favor, não conte nada a mamãe sobre minhas pernas. Chegue em casa e conte a história de um rapaz que aconteceu esse problema que tive – falou com lágrimas nos olhos – Gostaria de que sua compaixão com o rapaz a preparasse para o que vai ver quando eu chegar. Você conta essa história e me dá um sinal. Então eu entro!

A irmã compreendeu a preocupação com o coração já enfartado da mãe e atendeu seu pedido. O rapaz ficou com o ouvido atrás da porta. No meio da história a mãe interrompeu o relato da filha e conclamou a Deus “se algo assim acontece ao meu filho, eu morro de desgosto!”. Não foi preciso o sinal da irmã. Ouviu-se um barulho do lado de fora da casa. “Um rojão!”, pensaram. Não era, mas sim um disparo do filho piedoso contra si mesmo que tirara a vida de um jovem para poupar a desdita da mãe.

Essa história com final trágico sinaliza que nem sempre uma sensação de inocência nos conduz a uma verdadeira “boa ação”. Ele seguiu as regras, poupou a mãe em sua consciência e partiu com a sensação de estar fazendo a coisa certa.

consciência coletiva é aquela que garante o pertencimento de todos os membros do grupo. Como dissemos no segundo artigo sobre as leis do amor, todos tem o igual direito de pertencer.

Essa consciência tem algumas características.

Totalidade: não importa o que a pessoa tenha feito individualmente ela continua pertencendo ao grupo familiar. Tenha ela transgredido uma lei ou fazendo algo vergonhoso diante do grupo essa consciência coletiva não permite que ninguém seja excluído. Se isso acontece é sob pena de que outro membro familiar assuma o destino daquele membro excluído.

Para além da morte: ninguém diminui ou perde o direito de pertencer porque morreu. Isso inclui crianças abortadas ou natimortas, os avós, pessoas assassinadas ou que se suicidaram.

Para além da expiação: apesar de não trazer nenhuma solução baseada no amor o indivíduo acredita que se sofrer algo parecido com alguém que sofreu antes dele ou por causa dele irá voltar a ter uma boa consciência. No entanto, esse tipo de sofrimento compensatório não reabilita ninguém perante a consciência coletiva.

Para além da vingança: quando uma pessoa é excluída do grupo familiar por ser condenada moralmente a consciência coletiva busca sua reinclusão. Desta forma algum membro da família que não tem culpa pessoal acaba sofrendo o destino daquele que foi excluído como uma vingança. Mas ela tem um alívio momentâneo que não resulta em nada até que a pessoa esquecida seja reconhecida.

Hierarquia: já comentei sobre essa característica no terceiro artigo dessa série.

consciência espiritual é uma dimensão mais ampla de entendimento que só surgiu para Bert Hellinger nos anos recentes. Ele notou que essa consciência supera os limites das demais consciências para além do bem e do mal e do pertencimento e da exclusão.

Ela atende a um movimento do Espírito (não no sentido espiritualista de alma individual) que é algo que movimento tudo de maneira criativa e transcende nossos desejos e interesses pessoais. Quando estamos em sintonia com esse movimento do Espírito sentimos uma calma estranha. É uma compaixão desapegada (aparentemente fria) como a de um cirurgião que não se detém pelo medo do paciente e, a contra-gosto, intervém e cura.

Ao mesmo tempo que cura esse movimento aceita a realidade como ela é. Inclusive os destinos mais trágicos e dolorosos. Em essência esses movimentos unem o que antes estava separado, mas não por uma necessidade cega de um amor romântico. Esses movimentos do Espírito até parecem um pouco desumanos se olhados superficialmente. Mas sob um olhar cuidadoso pode-se perceber a magnitude e a sensação de verdadeira abertura espiritual para a vida que o Espírito criativo proporciona.

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Em sintonia com essa verdadeira consciência encerro esses artigos com o seguinte pensamento do poeta alemão (muito citado por Bert) Rainer Maria Rilke “Isto é de forma básica a única coragem exigida de nós: ter coragem para o mais estranho, mais singular e mais inexplicável que possamos encontrar.”

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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