O casamento está falido

*Frederico Mattos

Sábado agora [22 de junho de 2013] eu casei no civil para poder legitimar juridicamente minha união que já transcorre desde 2011. Já morava junto desde começo de 2012, mas quis mesmo assim fazer tudo como manda o figurino. Até festança terei para celebrar esse encontro com a pessoa que amo. Afinal, nada como reunir pessoas queridas ao redor de uma comemoração.

Recebi mais de 750 mensagens entre likes e comentários carinhosos no Facebook e por telefone, mas 3 espíritos-de-porco me mandaram mensagens inbox que me fizeram pensar sobre o que se passa na cabeça das pessoas.

1 – “Casamento é uma instituição falida”

Não acho que existe nada falido que não represente apenas um estado de espírito das pessoas envolvidas. O casamento é uma união civil e/ou religiosa entre duas pessoas que com livre consentimento resolveram legitimar esse estado perante a sociedade.

Se o casamento está falido porque a durabilidade tem diminuído eu só posso chegar em uma conclusão: as pessoas de modo geral estão mais precipitadas para começar algo (seja um casamento ou uma emprego) e terminar. O que isso revela é que seja uma empresa, um casamento, uma transa ou um sonho ele não dura tempo suficiente para as pessoas. Elas começam pelos motivos errados e iludidas pela paixão e com isso perdem o critério e a sensatez.

As pessoas envolvidas se mostram incapazes de sustentar suas escolhas para além do gozo imediato. As escolhas artesanais e construídas aos poucos são raras, na maior parte tudo vem com visão de curto prazo.

“A fila anda” como dizem revela a impaciência generalizada, parece fabricação em massa, e a frase “se não quer tem quem queira” denota a dificuldade mimada de digerir frustrações sem acessos de estrelismo.

De modo geral as pessoas não se preparam para longas jornadas, não fazem poupança ou pensam em decisões que impactam sua vida para além de dois anos, prazo de durabilidade dos casamentos da atualidade.

Tive 3 critérios para escolher minha companheira: amorosidade (gentileza, afetuosidade, abertura), estabilidade pessoal e profissional (sem dúvidas básicas sobre o que fazer com a própria vida) e capacidade de se abrir para o crescimento (e não ficar empacada em dilemas banais). Por essa escolha bem pensada – onde o amor não me cegava para ver as minhas limitações e as dela – é que já não começa falido.

2 – “Quero ver colocar sua teoria na prática kkk”

As coisas que eu escrevo, não dizem respeito a relacionamento amoroso, apesar de parecer que sim, tratam antes de tudo de maturidade emocional que é a base de qualquer relação humana, amorosa ou não.

Quando falo de diálogo, paciência, negociação de conflitos, sabedoria, infantilidade num relacionamento amoroso só toco nesse ponto pois sei que é ali que as pessoas mais liberam suas infantilidades justificadas em nome do amor.

Em matéria de relacionamento amoroso não existe teoria que não seja aplicada, o que dá pra fazer em outras áreas não-amorosas dá para fazer à dois.

3 – “Agora está amarrado”

Só fica amarrado quem confunde vida de solteiro com liberdade e vida de casado com prisão. Sempre me senti livre para ir e vir e ser o que sou e quando faço a escolha de casar estou exercendo minha plena liberdade de fazer escolhas diárias. Essas decisões de muitos anos em convergir meus passos com minha esposa. Fiz a escolha lúcido e com a pessoa que se mostrou muito sensata, amorosa e companheira, portanto é com ela que quero alinhar os objetivos de vida. Sou livre diariamente para fazer isso, não me sinto asfixiado ou impedido de nada e nem acho que estou perdendo as chances de conhecer mil mulheres pelo mundo a fora. Não acho necessariamente a novidade incessante uma vantagem em detrimento do conhecido, não sou viciado em surpresas para me sentir vivo. A minha mesma fisionomia diária não me entendia, pois nunca sou o mesmo.

Escolher uma só mulher é outra forma de liberdade, pois quero descobrir cada caminho em torno da intimidade de anos. Quero reconhecer cada ruga e pesquisar como me comporto em momentos de previsibilidade, monotonia e acomodação. Quero me desafiar a não cair no lugar-comum mesmo na aurora dos meus dias. Minha vida de casado não será nada radicalmente diferente da minha vida como foi até agora. Pensei com carinho em cada passo que dei e até com os imprevistos e enganos fiz coisas edificantes. O casamento já tem sido muito bom.

Ainda acho que superestimamos o relacionamento amoroso como se ele apaziguasse todas as inquietações humanas na caminhada de evolução pessoal. Eu vou crescer de um jeito ou de outro, mas com minha mulher ao lado isso terá um formato mais variado, salpicado de outros dilemas e cheio de ternura próprias.

Insisto, se existe algo falido é nossa capacidade de renovação pessoal.

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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui] e Mães que amam (demais livros e cursos [aqui]). Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

Treinamentos online de “Como “salvar” seu relacionamento” e “Psicologia para não Psicólogos”

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094