Eu estarei “psicóloga”

* Por Juliana Baron Pinheiro

                  Desde que eu decidi começar o curso de Psicologia, passei a me questionar sobre o que precisaria mudar em mim a partir dessa nova escolha. Porque assim como grande parte das pessoas, acreditava haver uma imensa responsabilidade e seriedade associadas à figura do psicólogo.

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                  Quando entrei oficialmente no curso e comecei a conviver com os meus colegas, percebi em alguns deles, um reflexo dessa teoria, sobre o comportamento que deveríamos adotar a partir de então, em frases como “nós como futuros psicólogos”, “você como futura psicóloga deveria…”, “mas estamos fazendo Psicologia”. E no começo isso me assustou um pouco, porque sentia que havia algo ali, uma cobrança exacerbada e uma certa projeção, uma falsa construção de como deveria ser nossa auto imagem a partir de agora.

Foi então que eu comecei a pensar sobre esse assunto e a conversar sobre ele com os meus professores e os profissionais da área com quem tenho contato. Porque assim como às vezes me sinto uma farsa, por escrever sobre motivação e foco, e ao mesmo tempo viver com os meus dilemas existenciais, comecei a perceber que precisava aprender a lidar desde já com essa imagem que eu e muitas pessoas fazem do profissional da Psicologia. Pode parecer bobagem, eu sei, mas eu sinto que desde agora preciso saber separar a minha futura profissão da minha vida pessoal, pra que nenhuma das duas saia prejudicada e sim acrescida.

Nesse processo de colher informações, primeiramente entendi, que acima de tudo, além dessa profissão que almejamos exercer, somos seres humanos, ou seja, jamais atingiremos a perfeição, se é que ela existe. Que mesmo já psicólogos formados e diplomados, erraremos, teremos nossos problemas em casa, julgaremos a atitude de algumas pessoas e nos enredaremos com as nossas próprias questões. Que conquistar o diploma não nos garantirá uma constante paz de espírito e que um título não significa que alguém tem um bom caráter ou é uma boa pessoa. Ela apenas conseguiu concluir um curso, assim como muitos outros. Portanto, nem se cobre demais e nem espere muito do outro.

Esses comportamentos que por vezes associam à pessoa que tem como ofício lidar com os enredamentos de outras pessoas, como imparcialidade, paciência e discernimento, como eu disse antes, não foram adquiridos somente nos anos de estudo. Porque você até aprende que deve manter a máxima imparcialidade com um paciente, por exemplo, mas não existe uma prova na formatura que comprove que você compreendeu isso. Aqui cabe uma boa autoanálise e uma supervisão.

Assim entendi, principalmente depois das palavras da psicóloga (queridíssima e a quem tenho profunda admiração) que conduz o meu grupo de terapia para mulheres, que por vezes eu estarei psicóloga, porque esse será apenas mais um papel entre tantos na minha vida. Em casa quando eu estiver educando o meu filho, serei mãe. Diante do relacionamento com o meu marido, serei esposa. Num jantar com as minhas amigas, serei amiga. E então, dentro do meu consultório lidando com os meus pacientes, serei psicóloga. E ponto. Logicamente os papéis em alguns momentos se entrelaçarão, afinal, mesmo vestida de várias personas, eu sou um indivíduo só. Mas não há como eu sair por aí analisando à todos e à mim mesma o tempo todo. Porque mesmo com esse encontro óbvio que acontece entre tudo o que eu faço, é necessário entender o limite que deve existir entre todos os papéis.

Com certeza os meus aprendizados como profissional podem facilitar o meu entendimento e o meu trato com a vida e com as pessoas, assim como a minha percepção como mãe e esposa pode colaborar na hora de entender um paciente. Porém, uma pessoa não precisa de um diploma em Psicologia para agir assim. Caráter, bom senso e “saber permanecer em seu lugar” [leia mais] não se aprende necessariamente em uma sala de aula, mas na vida e com a maturidade.

Portanto, em alguns anos, eu estarei psicóloga, mas agora continuo sendo a Juliana, que independente da profissão que vai exercer, esta sempre procurando ser uma pessoa melhor, mais feliz por compreender a si mesma e aqueles que a cercam.

beijos

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Ana Correa | 2012* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.