5 COMPANHIAS QUE VÃO FAZER VOCÊ AMAR IR AO TEATRO

* Por Eduardo Benesi

Um professor meu dizia que o público de teatro no Brasil é completamente traumatizado. 90% do que acontece na cena cultural de São Paulo geralmente envolve alguns tipos bem característicos: turma de escola de teatro que se formou e fez algo amador e mal acabado pra não desistir do sonho artístico, atores despreparados sem vez em emissoras e que migram para o teatro com peças idiotas, tratando de um jeito raso situações que você vê todos os dias na televisão sem ter que pagar nada por isso.

Para fugir da zorra que nos aflige enquanto público é necessário ter amigos que possuam algum conhecimento prévio sobre companhias competentes para que possamos entrar nesse mundo sem que nos assustemos com o hermetismo de Shakespeare nem nos decepcionemos com a falta de graça de peças com semi-globais que subestimam nossa inteligência. Nesse post vou falar de cinco companhias que valem o seu ingresso e uma nova chance para o teatro:

 

Cia hiato

É um grupo que se enfeita de uma ousadia berlinense, possui uma obra curta e recente, e ainda assim é a queridinha da crítica brasileira, e com razão, suas peças nos invadem com variações temáticas e transgressões de vanguarda que percorrem nossos espaços inexplorados. A especialidade da Hiato é essa: os espaços entre dois pontos, entre duas palavras, entre dois pensamentos e também a investigação do real/virtual. Trazendo sempre elementos que distorcem e revelam, e é aí que entram os atores: todos entregam um pouco mais do que a arte, entregam suas vidas, confidências, e mentira e verdade passam a não importar dentro da relação estabelecida com a platéia. Você vai gostar da Hiato porque ela acessa regiões dormentes em nós, brinca com nossos vácuos imaginários, e sua obra parte sempre de uma criação colaborativa em que o elenco também assume uma coautoria, são textos criados agora, ou seja, a proposta cênica traz sempre questionamentos e abordagens extremamente atuais. Para saber mais [clique aqui]

cia hiato

Os Satyros 

Pornografia, política e poesia marginal: esses são os três elementos que passeiam pela minha mente quando penso em como descrever os Satyros. E quanto à palavra “pornografia”, tenho a certeza de que eles não se ofenderiam, e jamais me mandariam trocar pelo termo “erotismo”. “Os Satyros” possuem uma liberdade que ultrapassa certos freios pré-estabelecidos por ordens sociais hipócritas. Há algo de sofisticado nas construções da companhia, percebe-se uma pesquisa minuciosa que depois se transforma em algo que agrega sujeira, sexualidade e provocação. “Os Satyros” é um dos poucos exemplos artísticos que sobrevivem em tons marginais, ou no vocabulário teatral: na “boca do lixo”. Você vai gostar dos Satyros achando que não gostou, e isso faz parte do jogo deles. Há uma sedução cafajeste no jeito deles de agregarem público. É uma companhia que da margem ao estranho, abre espaço para temas que são tidos como aberratórios entrem em discussão. Não se importam de serem taxados como bizarros, porque eles justamente relativizam a dita normalidade. Para saber mais [clique aqui]

satyros

 

Grupo 59

Essa companhia possui apenas três peças no currículo, mas é toda especial: é constituída por alunos formados pela Escola de Artes Dramáticas da USP, a EAD, e juntos apresentam seu repertório viajando por diversas cidades. É mágico olhar em cada ator a oferta criativa arraigada nos personagens. Usam de mágicas e elementos percussivos, e fazem das próprias habilidades um chamariz cênico. “O gato malhado e andorinha sinhá” é um primor de espetáculo infantil, talvez o melhor que eu já tenha visto, porque se utiliza de pouquíssimos elementos externos para convencer as crianças sobre aquele universo de bichos e barulhos. Você vai gostar do “Grupo 59” porque é um conjunto teatral que desperta uma sensação de pureza, você sempre enxerga tudo no plural, é um lindo trabalho em grupo que mostra de um jeito delicioso o significado e a leveza de uma trupe teatral aprendiz que vingou e virou gente grande. Para saber mais [clique aqui]

grupo 59

 

Cia do tijolo

É especialmente mágica, mistura cantigas e poesia, e levanta sempre conteúdos relevantes de uma maneira leve e criativa. Entrar em uma peça deles é um acolhimento, colorido e maternal, você se sente em uma serenata, parece que cada detalhe foi costurado e desenvolvido especialmente para você, é um cafuné da arte. Faça o exercício de olhar no olho de cada ator, moram ali emoções sem nome, e não é difícil perceber a entrega e a paixão que exala das pupilas. Você vai gostar da Cia do Tijolo porque ela é lúdica e mambembe, e ao final de uma peça deles, a única sensação que vem é uma vontade de “fugir com o circo”. Para saber mais [clique aqui]

cia do tijolo

 

Teatro de vertigem

O espaço cênico é a luz vital dessa companhia. O “Teatro de Vertigem” investiga os nossos ecos propondo interações cênicas em lugares inusitados. Dentre as ideias mirabolantes já apresentadas, temos peças realizadas em barcos no Rio Tietê, em hospitais desativados, em arranha-céus da Paulista, ou em ruas desertas do Bom Retiro. A aura experimental, os recursos cênicos e as interpretações lunares nos tornam reféns dessas peças em poucos segundos, e o não convencional nos injeta a tal novidade sem que haja (des) conforto. Na última peça, por exemplo, ocorre uma interferência direta na vida da cidade, uma vez que a peça, por ser volante, obriga a produção a controlar o trânsito pelas ruas que funcionam como cenários. Você vai gostar do “Teatro de vertigem” porque eles dão vazão ao proibido, ao improvável, e nos despertam um interesse imediato por suas ousadias. É uma companhia capaz de nos transportar por qualquer universo, nos tirar da realidade e depois nos deixar com uma sensação de “quero mais”. Para saber mais [clique aqui]

 teatro vertigem

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benesi* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br