O que são os guilty pleasures e como eles operam em nossas vidas

* Por Eduardo Benesi

Primeiramente para quem não sabe, o termo “guilty pleasures” é utilizado para denominar literalmente os nossos prazeres culpados. Eles muitas vezes podem ser inconfessáveis, já que desafiam uma compreensão isenta de críticas pelo senso comum ou por patrulhas do moderno. É o medo de passar vergonha com você mesmo.Um guilty pleasure geralmente se define por um prazer muito específico mas que é socialmente questionável, e por isso ele acaba se configurando como um perigo a ser descoberto. Conheço um amigo – que eu não vou dizer quem é – que gosta até hoje de Sandy e Junior. Ele também tem o hábito de ler revistas de fofoca dentro da Piauí, para que não seja descoberto por algum colega moderninho que possa estar ao seu redor. O guilty pleasure envolve isso de você olhar a sua volta pra ver se alguém está te olhando.

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Eu, por exemplo, possuo um cd com uma playlist secreta no meu carro. Um cd que eu só escuto quando estou sozinho, sem correr o risco de ser taxado de babaca ou cafona. Para o bem desse texto, terei de revelar pelo menos um artista “menos grave” que está nas faixas desse cd. Nele tem Pitty, uma cantora de pop-rock baiano que pra muitos é mais um produto agressivo de fachada, para outros é uma subversão ao estereótipo Axé-Bahia. Por algum motivo, eu não deixaria tocar uma música da Pitty perto de alguém que quero impressionar. E se você gosta de Pitty não se ofenda, eu também gosto, isso não é contra a Pitty, é justamente sobre eu não conseguir me sentir a vontade para revelar ao mundo que eu gosto de Pitty.

Antes que alguém venha com aquela típica frase com falsas-facilidades do tipo “aí, eu não me importo com o que os outros pensam”, eu já logo insisto que você se importa sim. Todos nós, -uns mais, outros menos- temos minimamente essa preocupação, mas isso é outro assunto. O que eu quero dizer com essa história toda é que todo mundo tem alguma mania que é ocultada socialmente. Existe um “radar do ridículo” em nós que inibe a exposição pública de alguns gostos, por medo de uma não apreciação da maioria. Não entrando no mérito de qualidade ou não, alguns guilty pleasures campeões de rejeição são: Paulo Coelho, Roberto Carlos e Romero Britto. Cada um a sua maneira alcançou um status tão grandioso que passou a ter sua competência questionada justamente por agradar a grande massa. Muita gente perde grandes oportunidades de conhecer algo bom assim: por uma crença pré-concebida e não degustada.

Vamos fazer um teste. Vou colar aqui um pensamento, que a meu ver é bem coerente, mas sem inicialmente revelar de quem ele é: ‎”Não existe falta de tempo, existe falta de interesse. Porque quando a gente quer mesmo, a madrugada vira dia. Quarta-feira vira sábado e um momento vira oportunidade”. Vamos supor que você adorou esse pensamento, mas logo depois descobre que ele é do Pedro Bial. – Sim, é dele! – uhm, Pedro Bial, BBB, pega mal compartilhar. Entende? Você está abrindo mão de declarar gostar de algo porque aquilo tem algum apelo agregado que pode “pegar mal” perante os outros.

Guilty pleasure pode ser sobre dar uma paradinha no TV Fama e quando alguém entra no seu quarto, você rapidamente mudar de canal. Pode valer também para misturas estranhas de comida. Tipo arroz com pizza ou pão com gemada e Nescau. Pode ser sobre o fato de você no fundo gostar da Preta Gil ou de assistir BBB mesmo dizendo no Facebook que abomina esse tipo de programa. São prazeres mais bizarros, fantasias sexuais polêmicas ou manias não tão poéticas como as da Amelie Poulain. Você já parou pra pensar quais são os seus? Porque de certa forma, pensar sobre isso, é também tocar de leve em algum trauma, em alguma timidez ou simplesmente encontrar em você, algo que te faz ser diferente do mundo. Quais são os seus guilty pleasures? Não, não precisa me contar.
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benesi* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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