Amor cotidiano

* Por Frederico Mattos

Queria pedir licença aos meus leitores para fazer uma declaração pública de amor cotidiano. Hoje, Juliana Cordeiro, a pessoa que escolhi para compartilhar a vida comigo faz aniversário.

Preciso confessar que hoje em dia ela já não me tira o fôlego como nos primeiros dias que a reencontrei, hoje a Juliana me dá fôlego, ela é o meu escafandro nos dias que minha mente cheia de ar rarefeito precisa de leveza. Ela é o vento de praia que trás um pouco de calor e refrescância nos dias que alguma incerteza ou insegurança me abatem.

foto (90)

Eu sempre me perguntei um pouco cético se poderia haver algum tipo de relacionamento onde tudo pudesse se fluir mantendo preservada a individualidade dos participantes sem desfigurá-los nas mágoas de quem abriu mão de si pelo outro. Consegui encontrar uma companheira para essa jornada, ela tem uma disposição absurda para se abrir mais e mais. Admiro a coragem diária dela em se tornar uma pessoa mais aberta, lúcida, sábia e destemida.

Sua generosidade cotidiana me admira (e excita), a forma como ela é capaz de cuidar sem perceber que cuida é incrível. Ainda que saiba que eu tenho dotes culinários melhores ela se dispõe a me presentear com uma petisco agradável, mesmo não tendo muitos gostos que se alinhem aos meus ela se debruça para conhecer o meu universo, e cuida do nosso gato Boris com uma delicadeza sublime. Ela é de uma fofura extrema, daquela que acorda um pouco zonza e que brinca com a própria atrapalhação matinal. Ela é um grande colo que me aninha, um ombro que me apoia, uma boca que me inspira, um seio que ativa, uma força cortante que me anima e me restringe (quando beiro a despencar de mim mesmo).

foto (89)

 

Para ser honesto, no meio de tantos predicados, sua beleza parece um pequeno ponto que só enquadra uma personalidade encantadora, meiga e vívida. Eu espero que ela se disponha a descobrir outros tantos dias ao meu lado, como um pássaro que pousa num galho, com caminho aberto para voar, mas disposto a ficar enquanto for bom e fizer sentido. O amor já não define o que sinto, porque seria ainda definir em palavras ou numa metáfora compreensível pelas letras aquilo que já entrou no campo do indefinível.

Um poema de Pablo Neruda que traduz o que sinto:
Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalianavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

_____________

Captura de Tela 2014-08-26 às 10.05.17* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“,  “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

Related posts