Humanizem as mães!

* Por Juliana Baron

A verdade é que tentei manter meu compromisso de aparecer por aqui a cada quinze dias, mas não deu. Mesmo com ajuda, estar em casa com dois filhos e atender às suas demandas (e às minhas, porque também preciso tomar banho e comer), consome toda minha energia e tem dias que mal me reconheço. Sim, filhos não podem ser usados como desculpas, mas só quem os tem, sabe que eles são justificativas mais do que genuínas para deixarmos de fazer até aquilo que mais amamos, no meu caso, escrever.

Então, que há dias venho ensaiando um retorno, aonde eu explicaria minha ausência e tentaria escapar de assuntos sobre a maternidade, mas há dias também venho vivendo meu maior paradoxo existencial: amar ser mãe e ao mesmo tempo, só pensar “o que eu fiz com a minha vida?”.

Quando meu primeiro filho nasceu, lembro que meu mundo virou de cabeça para baixo. Durante a gravidez, muitas coisas já haviam mudado, como meu senso de responsabilidade e de prioridade, mas a tempestade emocional e o buraco que se abriu dentro do meu peito, só apareceram efetivamente, depois que ele nasceu. Já se passaram cinco anos desse período turbulento e eu esqueci muito do que vivi naquela época (dizem que esquecemos para podermos ter outro filho), mas ainda lembro de momentos de desespero total, aonde meu único desejo era fugir de tudo aquilo ali.

Nessa segunda experiência, me considerava mais madura, descolada. Ao contrário do primeiro filho, esse foi super planejado e eu curti cada segundo da gestação. Quase não engordei, preparei o quarto, me preparei para o parto normal, marquei ensaio newborn, mas não me preparei para o turbilhão que estava por vir. Na verdade, acredito que NADA prepara a mulher para o puerpério, esse período após o parto, que vai muito além dos tradicionais quarenta dias. Você pode ter doutorado em Psicologia, ser instrutora de Yôga, a pessoa mais calma, controlada, positiva, você pode ter desejado muito aquele bebê, ter feito fertilização, ter vivido abortos anteriores, nada disso te eximirá de viver dias desesperadores e ter pensamentos assustadores, depois que o bebê nascer.

Ok, mas por que estou aqui escrevendo sobre isso? Afinal, todo mundo já sabe sobre as dificuldades dessa fase e sobre como é ruim ficar sem dormir. Parece que só estou querendo assustar as futuras mães ou dramatizar. Mas não! Desde que comecei a escrever o que ando sentindo ao conviver com um bebê novamente, recebo todos os dias, inúmeros pedidos de socorro. Socorro mesmo. São milhares de mães que não sabem como lidar com tanta tristeza, exaustão e dúvidas. Mães que entre mamadas e trocas de fralda, não encontram tempo para entender tudo o que estão sentindo e pior, ainda são cobradas a se sentirem agradecidas por aquela vida que possuem em suas mãos.

Agora eu questiono, será que se fala MESMO sobre o assunto? Será que se fala com profundidade e sinceridade sobre o lado B da maternidade? Sobre não saber se ama, de verdade, aquele bebê, nos primeiros dias (ou semanas, ou meses), sobre a angústia de até sentir amor, mas ao mesmo tempo, uma vontade absurda de ter a vida de antes, de volta? Será que além dos momentos bons, também se compartilha sobre as crises de choro, de melancolia, sobre sentir solidão quando o que você menos faz, é ficar sozinha? E sobre a total ausência de libido, o abuso que sentimos do marido que segue sua vida, quase imune à essa montanha russa hormonal, e que quer jogar seu futebol às segundas e quartas, como de costume e como se você não estivesse exausta por ter ficado o dia inteiro com um bebê, será que se fala?

Penso eu que não, já que quando abro um pouco o meu coração de mãe, publicamente, e confesso, não sem receio de ser julgada, que sofro de saudade de mim, que às vezes só queria sumir, que amo, mas odeio, que já chacoalhei o bebê na madrugada, chovem mensagens de outras mulheres que também sentem o mesmo. E é por elas que decidi escrever. É por isso que, diferente do que eu fiz na minha primeira experiência, não quero parar de falar sobre o assunto assim que a fase mais crítica passar. Percebendo o sofrimento latente e frequente de tantas mulheres, resolvi insistir nessa coisa de escrever sobre as dores e as feridas que se abrem quando nos tornamos mães. Decidi usar esse espaço, que também é o único aonde venho publicando textos, para trazer a reflexão à tona e falar sobre o acolhimento à essas mulheres. Não, não estou pedindo para você tratar as mães como malucas, psicopatas, que irão jogar os seus filhos pela janela, estou aqui para pedir mais respeito, compreensão e acolhimento.

O título que escolhi faz referência à como se esquece que mães são seres humanos. Percebo que, talvez como uma maneira de “reconhecer” todo o potencial de uma mãe, as mesmas são elevadas ao patamar de santas ou heroínas. Imortais, incansáveis e inesgotáveis. Só que esse reconhecimento, como muito acontece com “reconhecimentos” à força da mulher, acaba funcionando como uma sobrecarga, como mais cobrança. Repito, mães são seres humanos! Possuem limites, erram, chegam à exaustão, sentem vontade de sumir, choram no banho… Na grande maioria das vezes, essas mulheres/mães fortes que conhecemos, só deram conta (não sem sacrificarem alguns dos seus próprios sonhos, podem ter certeza), porque não possuíam outra alternativa.

Para as mulheres que estão passando por esse momento, aviso que ainda não encontrei a fórmula mágica que faça passar toda a angústia ou que feche o buraco que parece se abrir por dentro. Não vim aqui na intenção de ser uma guru do puerpério e nem acho que existe uma preparação capaz de evitar que as mães passem pelas crises existenciais típicas pós nascimento dos filhos. Como alguém que já viveu tudo isso há cinco anos, posso dizer que toda essa controvérsia emocional (sentida, especificamente, nos primeiros meses do bebê), passa. Se a angústia estiver somente relacionada à exaustão física e emocional causada pela maternidade, ela passará. Vejam vocês que mesmo tendo vivido um puerpério doloroso e marcante com o meu primeiro filho, anos depois, desejei profundamente ter o segundo. Porém, muitas vezes, toda essa intensidade típica da maternidade, só traz à tona inúmeras sombras relacionadas à outras demandas internas da própria mãe (como dificuldade de lidar com renúncia, mudanças de prioridade, imprevistos, responsabilidade, dar carinho), aí, talvez a angústia não passe assim tão fácil e seja necessário ajuda profissional. E outra, essa crise mais latente dos primeiros meses passará, mas o bebê crescerá e novos desafios surgirão. Não é que a sua vida acabou, mas ela se transformou e, realmente, nada será como antes. Nem pior, nem melhor, apenas diferente. O significado que um filho trará à sua vida, só pode ser atribuído por você.

O que EU faço e que me ajuda bastante (além de terapia), é dizer sim para tudo o que estou sentindo. Exercito um auto acolhimento, deixo a dor chegar, choro e procuro a colocar para fora. Nos picos da crise, quando bate aquele desespero, quando parece que minha vida nunca mais entrará nos eixos, converso com meu marido e peço ajuda de terceiros. Também me alivia reconhecer, eu comigo mesma, que não sou perfeita, que não sou de aço e que tudo bem, me sentir dessa forma!

Ah, e como digo que também enxergo beleza nas crises, aproveito todo esse sofrimento e desafios, para evoluir, transcender e aprender mais sobre mim mesma e sobre as pessoas. Acredito que a maternidade traz à vista muitas das nossas sombras mais escondidas e silenciadas, portanto, nada mais proveitoso do que procurar, na medida do possível, trabalhar as questões que surgirem durante o processo.

Para concluir, porque sei que a reflexão ficou bastante longe, peço, novamente, para que você acolha mais e julgue menos as mães que estão passando por essa fase difícil, ou melhor, as mães, numa maneira geral. Só quem está dentro da situação sabe o que aguenta fazer e o que dá conta de elaborar. Diante de uma mãe exausta, não ofereça conselhos, ofereça duas mãos para ajudar ou dois braços para apertas. E para as mães que assim como eu, estão passando pela crise existencial dessa fase de adaptação da dinâmica familiar, deixo minha solidariedade e um pedido para que você (e eu) se culpe menos e entenda que você sempre dá o seu melhor, o seu possível. E que tudo bem.

(Só para deixar registrado que nada disso tem efeito se estamos falando em depressão pós parto, que é um transtorno sério, importante, e deve ser tratado como tal)

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Baron* Juliana Baron Pinheiro: uniu seu amor pela escrita com um tom questionador que a acompanha desde que nasceu. Costuma refletir sobre a vida, sobre a maternidade, casamento, escolhas e outros temas do seu cotidiano. Adora um curso de autoconhecimento (em especial, os dias da sua análise), fazer faxina e comprar livros. Formou-se em Direito, mas felizmente nunca precisou atuar na área. Hoje é coach e estuda Psicologia. Escreve também no seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), nos milhares de cadernos que coleciona, no projeto do seu livro, no bloco de notas do seu Iphone, nas cartas para os amigos e em qualquer superfície que cruza o seu caminho.
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