Mãe, só mãe

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Ser mãe é uma experiência que nunca vou ter, nem que eu quisesse. Não endeuso as mães e muito menos as culpo pelos males do mundo.

Também nem acho que toda mulher deveria ser mãe, é uma escolha que tem muitas implicações.

Sei que não sei nem de longe como deve ser a sensação esquisitamente deliciosa de carregar algo que se move, mexe e cria imaginações dentro de você por 9 meses. Não é só uma barriga que surge, mas uma correnteza de possibilidades.

Com tudo isso ela é só uma mulher, tão frágil, humana, falível e temerosa do futuro como todas as outras 7 bilhões de pessoas desse planeta.

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A notícia da gravidez deve vir acompanhada de um sentimento contraditório de “uau!”, que lindo e que responsabilidade. É como se dessem uma empresa em suas mãos de um dia para o outro e dissessem faça ela prosperar. E ela tenta.

Vai aprender a cozinhar para preparar o melhor almoço do mundo, se aperfeiçoar na arte de transformar roupas imundas em panos delicados que protejam sua jóia rara do frio e pernilongos. Vira bióloga para descobrir cada potencial bichinho ou bichão que vai se aproximar de sua cria. A medicina passa ser o seu passatempo favorito para inibir que qualquer doença hipotética se aproxime do seu filho. Age como um detetive que monitora cada passo atrás de provas de pequenos deslizes. Para que faculdade de Psicologia? Ela sua cabeça de mãe ela põe o Freud no bolso. Até pedagoga vira em alguns meses e já sabe todas as teorias de desenvolvimento infantil de cor e salteado. Pode não usar nenhuma, mas aprende todas.

Mesmo assim ela está ali diante de um desafio que não tem faculdade ou pós-doutorado que prepare. A melhor médica fica paralisada diante da doença do filho, uma economista se perde em cálculos na hora de fazer as contas e sempre dá o presente extra que não deveria. O olhar do filho desmancha suas melhores intenções e ela se rende sem pudor a uma convivência distantes dos chatos manuais que ensinam como a vida deve ser.

Ela tenta, erra, sofre, se descabela e está lá no minuto seguinte a postos e penteada (sempre penteada) para resolver o próximo penino.

Aliás, ser mãe é desenvolver o dom de resolver peninos e problemas cabeludos. Ela fica uma exímia solucionadora de todo tipo de imprevisto, pois na sua aflição em ver a cria desamparada acha resposta para tudo. Até para o que não tem resposta. Nessas horas queria ser como a Feiticeira e ter o dom de balançar o nariz para resolver tudo num passe de mágica. Mas essa mágica nunca vem. Se fez uma boa escolha do pai da criança pode contar com um parceiro leal que está lado a lado nos horas críticas. Mas nem sempre fez o melhor para si mesma e muitas vezes até se deixou de lado, quase invisível, para que os filhos brilhassem.

Sei também que tem muitas mulheres que jamais deveriam ter colocado um filho no mundo pela frieza, os maus tratos e crueldade com que descarregaram suas loucuras sobre ele. Mesmo assim há que se ter compaixão, mesmo os desajustados merecem sua parte de alegria na vida. Ninguém está acima do bem e do mal, a Terra é de todos.

Se perguntada uma mãe nunca vai falar aquilo que tem dentro dela, um segredo quase inconfessável, que grita: “esse filho é só meu!”. Ela sabe que não é e reconhece seus exageros e até fala para as amigas com aperto no coração que cria o filho para o mundo.

Na hora que esse filho começa a conhecer o mundo de verdade é como se sofresse todos os seus medos infantis pela segunda vez. Relembra as primeiras decepções, de como a vida pode ser dura, que nem sempre somos bons no que fazemos e que talvez passaremos muito tempo sem encontrar um amor de verdade.

Quando o filho encontra sua “cara metade” é uma nova alegria misturada com esquisitice: “será que essa pessoa vai cuidar bem do meu bebê?”. Normalmente vai e se não for está tudo bem, mas não para a mãe, ela queria garantias impossíveis. Se pudesse blindaria o coração dos filhos de toda dor que este mundo fatalmente reserva.

Aliás bebê é o único nome que cabe na boca de uma mãe, ele permanece em seu coração sempre como uma miniatura de si mesmo, ainda que já tenha 2 metros e barba na cara. O filho ganha milhões, mas ela faz questão de por um dinheiro trocado no bolso dele só para ter a sensação de que adocicou o seu dia pesado.

A morte de um filho deve doer mais que a possibilidade da própria morte, porque é a parte da mãe que se vai na partida precoce de um filho. Duas mortes em uma, a dor é grande.

Com todos esses riscos ainda aguenta desaforo, ingratidão, fugas impróprias e promessas mentirosas. Mas ouve, aceita, acolhe, chora e depois ri, afinal se não for com sorriso que se enfrenta a vida com que será?

No auge da velhice já com os filhos longe de casa pega as fotos de antigamente e lamenta nem sempre ter feito tudo como seria o ideal. Mas o que há de fazer? Abrir os braços como um pavão cheio de orgulho a cada vez que eles passam em casa com aquele presentinho fuleiro e olhar com encanto para não chatear o filho que está devendo no cheque especial (ou sem vergonha comprou a lembrança de véspera).

Essa é uma das muitas mães de tantos filhos que imagino existirem pelo mundo. Sei com mais certeza da minha e você deve saber da sua. Não sabemos nada, até o dia da despedida final nunca entenderemos o que se passou naquele coração silencioso e guerreiro.

Meu dicionário: Mãe – coisa unânime, que todo mundo tem para amar e detestar amar (nos dias ruins) ao mesmo tempo e que sem ela o mundo fica um pouco mais vazio.

Feliz dia das mães!

Assinado: Frederico Mattos, psicólogo que se mete a escrever  (quase) diariamente sobre o amor, suas delícias e infortúnios nesse blog aqui, filho da Dona Suely e autor do livro “Mães que amam demais” [clique aqui para saber mais]

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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