Relacionamento para Leigos: Um livro perigoso

* Por Thalita Thomé

Já acompanho o trabalho do Fred há algum tempo e fiquei muito feliz com o lançamento do seu último livro. Como moro em Curitiba, não tive oportunidade de participar dos eventos de lançamento do livro, mas sabia que haveria um espaço cativo para o livro na minha estante. Quando vi que havia uma versão para o Kindle, comprei pra mim na hora, depois comprei para um amigo e pedi um livro físico para o namorado, de presente de aniversário. Lembro de ter falado para o meu amigo, mesmo sem ter começado a ler, que era um livro muito bom, profundo, que ajudaria não só no relacionamento dele com a namorada, mas nos outros relacionamentos também. Eu não tinha noção da dimensão do meu comentário.

3DRelacionamento Para Leigos

O livro é separado em 4 partes. A primeira se propõe a conceituar um relacionamento e apresenta o contexto histórico do conceito. A segunda, fala sobre as fases do Relacionamento, então os elementos e desafios e por fim, uma sessão para perguntas para os que querem o conhecimento de forma mais direta. O livro também apresenta uma introdução onde o autor explica a composição do livro, a relevância do assunto e dá dicas essenciais para a leitura do livro. Eu digo essenciais porque fez diferença pra mim não ter lido esta parte. Quando baixei o livro no Kindle, a primeira página que apareceu foi o primeiro capítulo, e ansiosa que sou, me desembestei a ler. Fui descobrir a parte pré-textual apenas quando o livro físico chegou na casa do meu namorado e tive que começar a ler tudo de novo.

O grande motivo de começar a ler o livro de novo foi que na parte pré-textual, o Fred nos avisa que talvez achemos o conteúdo do livro óbvio, mas que isso é apenas um sistema de defesa que nos impede de observar a real complexidade do assunto. Isso reflete algo que acontece durante o livro inteiro: o Fred não só fala sobre o assunto, ele também fala sobre a sensação que você curiosamente está tendo naquele momento exato da leitura. É brutal. Me senti vulgarmente despida, como se naquelas linhas houvesse uma pessoa que eu não pudesse enganar, por mais desesperadamente que tentasse.

A leitura do livro dói. Dói, porque não tem como fugir de ser quem somos e não tem como sair correndo quando a sua realidade é exposta de maneira tão clara como se fosse um espelho mostrando todos os seus defeitos e virtudes de maneira tão objetiva. Nos obriga a nos responsabilizarmos pelo conhecimento que acabamos de adquirir. Não dá pra simplesmente des-ler o texto.

A cada capítulo eu via todos os meus medos se materializando. As inseguranças sendo expostas em carne viva, as fragilidades no meu relacionamento sendo desnudadas sem pudor ou cerimônia. Deu vontade de fechar o livro, deu vontade de mandar um email dizendo ‘Quem vc pensa que é’, deu vontade [não só vontade] de xingar em pensamento o maldito que escreveu todas aquelas coisas, afinal, quem ele pensa que é achando que ele era o dono da verdade sobre relacionamentos, deu vontade de falar ’tá bom então! Sou tudo isso mesmo e meu relacionamento é uma merda, vou ficar solteira pra ver e eu consigo ser uma pessoa melhor!’. Mas no próximo parágrafo, ele dizia algo como: não se preocupe. Esse desconforto é apenas uma maneira de se defender. E eu ficava assim, desolada. Sem ter pra onde correr a não ser olhar com honestidade brutal para a realidade.

Isso tudo me fez pensar o quanto de fato queremos ser expostos à nossa própria realidade. Até que ponto estamos dispostos a encarar com verdade a nossa própria mesquinhez? Confesso que quando o Fred falava no Sobre a Vida sobre a escuridão que todos nós carregamos, eu entendia mais ou menos, mas invariavelmente achava que aquilo não podia ser tão grande assim, que talvez aquela história nem fosse comigo. Eu não tinha noção do meu engano.

O livro, com a sua capa amarela simpática, seus símbolos didáticos e seu bonequinho com óculos grandes e cara de inocente, não faz juz à destruição que causa nas nossas certezas tão protegidas pela nossa personalidade. Talvez um livro grande e antigo com uma capa de couro fosse mais o caso. Frederico Mattos não está para brincadeira. Ele faz uma limpeza nas nossas ervas daninhas emocionais que talvez levássemos anos, quiçá a vida inteira para fazer. Dói, mas não nos deixa outra saída que não construir algo novo com o que sobrou de nós mesmos. E talvez esse seja o melhor presente que ele poderia nos dar.

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Para quem ficou interessado segue o link: http://www.livrariacultura.com.br/p/relacionamento-para-leigos-42691855
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Thalita Tome*Thalita Thomé: neta da Dona Neuza, estudante de psicologia, praticante do Método DeRose, leitora compulsiva e entusiasta do amadurecimento emocional. Aos 15 anos saiu de casa para fazer intercâmbio e descobriu que existia um mundo além do interior do Paraná onde nasceu. Hoje pega ônibus pelas ruas gélidas de Curitiba, dá aulas de inglês e toma sorvete na Cold Stone. Compartilha as belezas e as dificuldades da vida com o seu nego, Valmir. Não tem twitter porque não curte. Pode ser encontrada pelo email thome.thali@gmail.com