Você é pessimista?

Falei  sobre minha amiga que é uma pessoa bem difícil de se conviver. Mas não comentei que ela tem outros dotes de personalidade, que ela como boa vaidosa autorizou que eu revelasse aqui no blog.

Sua intolerância beira a chatice mais insuportável do mundo, se queixa de quase tudo e vê desgraças para onde olhar. Para ela a metade do copo sempre está vazia.

A encontrei fortuitamente no shopping, passamos umas horas conversando e não pude deixar de notar que em uma andada em torno das lojas ela esbravejou com cada pessoa e vitrine que encontrava no caminho. Em dado momento falei, “só tem coisa ruim no mundo fulana?”

– Gosto de ser realista – ela rebateu.

– Realista ou pessimista? – insisti.

– Realista, Fred, não me deixa nervosa! – esbravejou como é seu natural.

– Você está andando do meu lado e olhei para as mesmas coisas que você, concordo que nem tudo o que vi foi a oitava maravilha do mundo e que as pessoas que cruzaram o caminho não foram as mais afáveis, mas daí deduzir que ser realista é ressaltar o que não presta é exagero. Você está cega, minha amiga, tão cega quanto quem acha que tudo é um mar de rosas.

– Vai te catar, Fred – foi seu argumento final.

Eu ri e ela resmungou, como sempre.

Mas o que é realidade?

Realidade, na maneira que eu entendo, é um tecido construído coletivamente e está a todo momento sofrendo alterações à medida que novas impressões surgem.

A realidade do momento presente está intimamente ligada ao que se fantasia do futuro associado com ideias do que aconteceu no passado.

O passado é uma comunhão de interpretações de fatos mais ou menos claros e obscuros reinterpretados à luz do momento presente tendo em vista o que se quer do futuro.

O futuro é uma imagem carregada de desejos e fantasias geradas pela impressões do que achamos que já vivemos amarrado com aquilo que sentimos viver no agora.

Conclusão simples, a realidade é uma onda volúvel que usamos como filtro para nos relacionar com o mundo.

Pessimistas, otimistas e realistas que me perdoem, mas todos estão errados, pois partem do pressuposto que há uma realidade fixa, sólida e imutável.

Isso é um paradoxo bem delicado, ao mesmo tempo que não existe em si, a realidade existe para aquela pessoa naquele momento. Então a realidade é e não é real. Seria mais parecida com a nossa sombra projetada pelo sol no chão, se tentamos agarrá-la com todo o custo e mais próximo chegamos mais ela se desloca e desaparece.

A realidade que você percebe está sempre contaminada pelo colorido do seu olhar.

Num velório, o mesmo evento cria impressões do real totalmente diferentes. Uma pessoa lamenta desesperadamente, outra se alegra pela herança que vem, outro é indiferente ao morto e o coveiro que apenas realiza seu ofício entediado.

Portanto, quando uma pessoa fala de uma “realidade” ela está dando ao mundo um retrato do que ela é, mais do que a realidade é em si.

Por esse motivo não confio nos realistas, otimistas ou pessimistas de plantão, ou pelo menos tento entender que estão expressando muito mais o teor de seu estado de espírito do que tirando uma foto daquilo que enxergaram.

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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