Mimados tecnológicos

Vi uma senhora dar tapas no seu celular brigando com a operadora telefônica. Ok, elas são lamentáveis, mas me pergunto por que uma pessoa (como muitas) que tinha que esperar muito tempo até falar com alguém até pouco tempo atrás – numa época que nem celular havia – acha que essa urgência é última coisa que existe na sua vida?

Larga o controle de tudo e respira um pouco

Tenho visto muitos filmes que retratam momentos históricos da Antiguidade e da Idade Média e a precariedade dos recursos me fizeram relembrar o óbvio, a vida nem sempre foi tão rápida e prática como é atualmente.

Estamos um pouco iludidos com a rapidez da informação que os recursos tecnológicos nos proporcionaram. Antes tínhamos que cultivar (mesmo a contragosto) certa paciência funcional, ou seja, para mandar e receber uma carta havia um tempo de digestão psicológica que nos fazia aceitar certos limites e contrariedades que hoje se anularam com os e-mails, torpedos e whattsapp’s. A carta poderia se extraviar e perder antes de chegar ao destinatário.

“Eu mandei um recado, ele leu, não me respondeu, vou terminar o namoro, não aguento mais isso”. Sim, eu ouvi essa frase já. Eu fiquei calado por alguns minutos até que um silêncio se fizesse marcado na sessão de terapia. A moça em questão, notou o seu grau de descontrole simplesmente porque o namorado não havia respondido imediatamente seu recado. Ela notou que era afeita a imediatismos.

Alguns podem argumentar que esse é um mal da geração tecnológica, mas pelo que sei os antigos dos antigos também batiam nos seus cavalos e burros para apressar o andar da carruagem. Daí vem a expressão popular, já com as carruagens a pressa era grande. Portanto, não é a tecnologia que causa a falta de paciência que temos de modo geral, ela só evidencia o rei que carregamos na barriga.

O que desejamos assim como os reis da antiguidade é controle absoluto de cada coisa que nos toca. Somos mimados funcionais que não podem aguardar sem luz um minuto sequer.

Me lembro que um dos momentos mais legais da minha infância era quando a luz do bairro caia, com uma frequencia de 1 vez po mês e eu, minha mãe, meu pai e minha irmã eramos “obrigados” a sair dos nossos quartos e nos reuníamos à luz de vela em torno da cama e ficávamos batendo papo furado e pondo a vida em dia. Fazíamos sombras contra à luz de velas, contávamos histórias de terror e ríamos juntos. Confesso que quando a luz voltava eu ficava num misto de alívio e tristeza, pois eu queria que não precisássemos ficar sem luz para poder olhar para as pessoas que eu amava.

Quando a tecnologia foi criada era para facilitar nossa vida e reduzir o nível de etapas de uma vontade até um objetivo. Claudia Nishimoto disse num comentário da fanpage: “sou da área de informática e o que eu percebo é que as pessoas não sabem lidar com a tecnologia e muitas vezes não sabem para que ela serve nem exatamente como funciona. Porque vejo muita gente comprando produtos tecnológicos sofisticados demais para o que precisam e também não entendem que a tecnologia serve para facilitar as coisas, torná-la mais prática. Portanto, ganhar tempo e fazer menos esforço são consequências do objetivo que se tem de tornar as coisas mais práticas e não o fim em si. Se as pessoas entenderem isso, vão parar de brigar com os aparelhos tecnológicos, adquirir e pagar menos por tecnologias que não utilizam e parar de culpar a tecnologia pela falta de tolerância que é a causa/motivo desses surtos de raiva”

Meu palpite é que os avanços que a ciência alcança nunca serão suficientes para atender nossa voracidade. Se um dia inventarem comunicadores de cérebro à cérebro como “telepatia” veremos pessoas dando cascudos na cabeça dos outros para ver se o aparelho “indispensável” funciona…

Não estou dizendo como os radicais que deveríamos atacar os celulares pela janela para nos ver livre desse vício, seria uma ingenuidade, mas aprender a olhar para cada ação com mais tranquilidade e não exigir tanta pressa, já que nós também não conseguimos absorver tantas respostas simultaneamente.

Apreciar a simplicidade, esse é um verbo desconhecido para os injuriados desse tipo.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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