“Segue que sigo de volta”

*Por Frederico Mattos

Você já deve ter reparado em alguns perfis de Twitter, Instagran ou comentários de YouTube o apelo estranho “segue que sigo de volta”.

Nas primeiras vezes eu ia averiguar quem seria a pessoa que pede com tanta ênfase e que parece oferecer a si mesma de modo tão enfático.

O resultado variava entre perfis robôs, fakes, publicitários, mas estranhamente a maioria era de gente de verdade.

Momentos de carência

Momentos de carência

Meu faro psicológico se aguçava e eu tentava entender pelas fotos e postagens o que realmente rolava por ali. Normalmente eram perfis de jovens que de concreto tinham pouco a oferecer, a não ser aumentar a lista de seguidores de outras pessoas tão pedintes de seguidores quanto eles.

Não pude deixar de pensar o quão estranho seria imaginar isso na vida offline. Mas pensando bem, é tão usual que nem notamos quando esse tipo de comportamento carente se manifesta. Quando nós próprios somos carente isso é ainda menos claro.
– O garoto de 7 anos cutuca a garota da mesma classe importunando-a com barulhos, tapas e risadinhas. Consigo ouvir seu pedido aflitivo “segue que sigo de volta”.
– O chefe que faz um comentário que sabe de antemão provocará risos ou esbravejos.

Tão estranho ainda são aqueles perfis que seguem a todos e com o tempo dão unfollow e depois de um tempo colecionam centenas de seguidores sem seguir nenhum para dar a impressão que são amados por muitos, mas são muito seletivos na hora de retribuir esse amor.

Essa fama falsa parece ainda mais incompreensível.

Transpondo para a vida real seria o tipo de pessoa que quer atenção, interação, ligações telefônicas e recados apaixonados via rede social sem sequer dar algo de si.

Nem acho que a reciprocidade seja um lema que devamos pedir ou dar obrigatoriamente. Tudo o que dei de mim depois de me tornar mais maduro foi porque quis e se tinha alguma expectativa de reciprocidade eu pedi com todas as letras, sem deixar sombra de dúvida. Quero dizer que a decepção pela reciproca surge sempre de uma base infantil da personalidade que espera ser adivinhada e apreciada pelos outros como os pais supostamente  faziam quando criança.

Penso que aquelas pessoas famosas ou semi-famosas que tem números de adeptos, amigos ou seguidores tenha algo significativo a oferecer.

Existem necessidades de todo o tipo, de métodos suicidas até como estimular o cruzamentos de guaxinins virgens da Patagônia. Se alguém se especializou oficialmente ou como auto-didata sempre terá algo a falar e haverá platéia.

O sonho secreto do sujeito que “segue de volta” é de ser amado gratuitamente, sem criar nenhuma relevância pelo que oferece. Quer confete na imagem virtual que projeta de si, sem nenhum trabalho ou singularidade.

Talvez ainda seja aquele tipo de pessoa que superestima a si mesmo e leva à serio uma brincadeira feita com ela.

Talvez ele seria mais efetivo se postasse “se achar que aquilo que sou e produzo tem algum valor me segue e se eu achar o mesmo eu sigo de volta”. Possivelmente esse seguidor compulsivo acharia o texto muito chato, longo e pouco efetivo e pior, teria que encarar o fato de que os outros ainda não veriam algo relevante nele. E que me mesmo assim ele teria um valor humano intrínseco e poderia seguir sua vida em paz, sem tanta mendicância virtual.

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Avatar fred barba* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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