Saudade de mim

* Por Juliana Baron Pinheiro

Sempre vivi em paz com a minha própria companhia. Até demais. Lembro, quando solteira, de ouvir do meu pai nas sextas à noite, quando ele me encontrava lendo ou assistindo a um filme sozinha, que desse jeito eu jamais encontraria um namorado. Sim, tive a minha época “saideira”, mas ela fez parte apenas de momentos e fases. A minha essência e a minha preferência é a de ser solitária. Até porque, dependendo da companhia, muitas vezes, é melhor mesmo ficar só.

Depois que me tornei mãe, os momentos a sós ficaram um tanto (muito) escassos. Inclusive, nos primeiros meses, quando fiquei em casa sozinha com um bebê totalmente dependente, principalmente, por conta da amamentação exclusiva, confesso que quase surtei. Porque não era bem “sozinha” que eu ficava. O meu sofrimento nesse período, além do cansaço óbvio, já que meu filho teve refluxo e intolerância à lactose, se deu porque eu senti muita falta de ter os meus momentos sozinha.


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Lembro, exatamente, da minha sensação quando uma babá começou a me ajudar durante as tardes. Após um período de adaptação e de ganho de confiança, comecei a sair e deixa-los em casa. Enfim, me senti um pouco livre. E um tanto culpada, como é comum com toda mãe que sai de casa e deixa o seu filho. Mas no meu caso, era só por algumas horas e esse tempo era precioso e fundamental, justamente, para que eu voltasse mais inteira e mais disposta. Eu ia pra academia, ao mercado, tranquila e, vez ou outra, corria para o cinema. Bastava ficar sozinha. Não isolada. Sozinha comigo mesma e com o meu silêncio.

Durante essa fase assisti no cinema ao filme “Comer, Rezar e Amar” e voltei pra casa chorando. Senti uma inveja da tal Elizabeth . Queria tanto estar no lugar dela viajando sozinha, meditando e me auto descobrindo. Aliás, hoje vejo que a minha angústia não tinha nada a ver com a maternidade em si, mas com o momento da minha vida em que eu me tornei mãe. Claro que com o tempo fui me adaptando à nova realidade e ao fato de que pra sempre eu teria a companhia do meu filho. Não só pela sua presença física, mas pela preocupação constante que eu tenho com ele. E também compreendi que aquela dependência toda era só uma fase, que ao contrário do que eu imaginava na época, não duraria uma eternidade.

Todo esse questionamento veio à tona quando eu fiquei “sozinha” com o meu filho e com uma casa pra tomar conta, durante as férias da santa que trabalha na nossa casa. Casa pequena, que não exige muito trabalho. Um filho obediente e compreensivo e, às vezes, uma mão para me ajudar. Mas, de qualquer forma, eu senti uma falta muito grande de um tempo para mim. Pra pensar, pra ler, pra escrever. Sim, foram poucos dias, mas o fato é que bateu uma saudade.

Senti falta das minhas tardes livres para dar andamento aos meus projetos. Senti falta de alguém pra brincar com o meu filho, quando a minha cota de imaginação e disposição chegava ao fim. Senti falta de não precisar fazer os serviços da casa, o que me cansava e me impossibilitava de sentar e escrever, ou de sentir o mínimo de inspiração para.

Problema pequeno? Frescura minha? Talvez, mas sei que bateu uma saudade de mim. Sem drama, porque esse tempo também foi um presente e uma oportunidade de curtir a família, a simplicidade de uma rotina tranquila e a delícia de não precisar pensar tanto. Acho que o sentimento bateu forte porque eu vinha num ritmo de produção de textos, de mergulho nas leituras e de repente, precisei desacelerar.

Sorte que no fim, tudo vira assunto pra refletir.

E eu refleti muito.

Entre uma tarefa da casa e outra.

E pude, enfim, vivenciar a minha teoria do Estar Presente.

Na marra.

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Baron* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.