O Custo de um Relacionamento

Quando as pessoas tratam de relacionamentos no consultório sempre criam perspectivas de um relacionamento ideal e que complete todas as suas carências e anseios.

Somos tão diferentes assim?

Imaginam que uma relação amorosa teria o poder de transformar suas vidas em algo mágico e especial.

Acredito que a ordem é inversa, pois sua vida incrível deveria alimentar sua relação.

Outro dia estava indo ao cinema e me deparei com um jovem casal, ambos portadores da Síndrome de Down. Eram um dengo só e extremamente afetivos, mesmo com suas limitações.

Isso só confirmou algo que eu já vinha pensando há muito tempo: acredito em relacionamentos possíveis e não ideais.

Toda história à dois tem um custo, ninguém está livre de conviver sem a limitação de outra pessoa. Aceite esse fato simples, você é tão limitado quanto a pessoa que escolheu. Pode ser em outra área ou aspecto, mas é manco do mesmo jeito.

Isso quer dizer que vamos sempre improvisando e vivendo histórias possíveis, aquelas que nos trazem a pequena cota de alegria diária e vem acompanhada do pacote de encheção de saco.

Você terá dias mais otimistas e dias menos empolgado, as vezes seu humor vai te ajudar e as vezes ele será tóxico.

Os anos vão passando e cada pequeno momento poderá ser comemorada e curtido se você tiver abandonado à expectativa de que aconteça um grande evento para você se reapaixonar pela pessoa amada.

Percebo que todos querem entrar num relacionamento, mas ninguém quer pagar o preço de conviver com as manias um do outro. Lamento, ele não é tão inteligente e bem resolvido como você gostaria e ela não é tão safada e amável como você fantasiou. Em algum momento de descuido você se mostrará ríspida e ele meio lento, mas faz parte e isso é possível assim, sem frescuras, sem rodeios, só carne, só vida, só isso.

Gosto de um texto da Clarice Lispector que coloquei no meu livro.

“Quando penso na alegria voraz

com que comemos galinha ao molho pardo,

dou-me conta de nossa truculência.

Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,

tanto gosto delas vivas

mexendo o pescoço feio

e procurando minhocas.

Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?

Nunca.

Nós somos canibais,

é preciso não esquecer.

E respeitar a violência que temos.

E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,

comeríamos gente com seu sangue.

Minha falta de coragem de matar uma galinha

e no entanto comê-la morta

me confunde, espanta-me,

mas aceito.

A nossa vida é truculenta:

nasce-se com sangue

e com sangue corta-se a união

que é o cordão umbilical.

E quantos morrem com sangue.

É preciso acreditar no sangue

como parte de nossa vida.

A truculência.

É amor também.”

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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