Por que nos fascinamos e tememos os filmes de terror?

O roteiro de filmes de terror é sempre previsível.

Papai!! Não

1- Um grupo de jovens que quer curtir a vida num lugar afastado da cidade grande.

2- Um sujeito ou história macabra assombra o grupo matando um por um, de preferência começa pelo bonitão comedor.

3- Por último sempre sobra a donzela (ou cavalheir0) mais pura que se mostra a mulher guerreira que acaba pondo fim no assassino mascarado.

Eu gostaria de explicar porque esses filmes nos prendem e nos fascinam ou amedrontam tanto.

Eles mexem num ninho de cobras da mente humana: a relação com os pais.

É muito comum (não digo saudável) que os pais tenham seus dias ruins e descontem nos filhos sua agressividade como se fosse justificada por uma mau-criação. Os filhos não precisam pagar pela sua infelicidade.

Os filmes de terror retratam exatamente essa fantasia e temor de todas as crianças: serem punidas pelos pais por se afastarem des suas regras e seu amor. Explico.

Nos filmes os adolescentes estão se divertindo longe dos pais nas férias ou na praia. O simbolismo é claro, a diversão é sempre algo que contraria os pais já que acontece sem que eles saibam ou consintam. Jason em sexta-feira 13 adorava atacar nos acampamentos de jovens brincalhões.

Nos filmes  eles estão bebendo e descobrindo o sexo. Essa é a fantasia culpada no inconsciente coletivo de que os desejos e as diversões devem ser punidas pelos pais que sentiriam repugnância em saber que o seu “bebezinho” sente tesão. Jason matava com certo requinte de crueldade principalmente os assanhados dos filmes. Aliás, ele culpava os jovens recreadores de acampamentos por descuidarem do seu irmão que morreu afogado enquanto faziam sexo.

Os monstros costumam alcançar os passos das quase-vítimas mesmo quando essas correm, tropeçam, andam de moto, carro ou avião. Já reparou que quando somos crianças os pais nos alcançam com o chinelo na mão? Eles nos descobrem e perseguem (as vezes literalmente) por muito tempo até dar umas boas chineladas. Lógico, eles são adultos e nós crianças, os passos são mais largos e eles são espertos o bastante para nos descobrir escondidos debaixo da cama (exatamente como o Freddy Krueger). Os monstros são réplicas dessa fantasia de perseguição.

No final um herói consegue matar o vilão e se salvar, porque tem uma nobreza de espírito. Essa é a fase que nós precisamos entender com delicadeza. O assassinato simbólico dos pais na realidade não é a deserção, o abandono ou o desprezo aos pais, mas o distanciamento saudável e o entendimento que é preciso superar certas crenças emprestadas deles que não são suas.

Quando a criança consegue perceber que os pais que castigam são os mesmos que amam surge um conflito psicológico, pois ela sempre espera que os pais sejam bons, sensatos, honestos, pacíficos e acolhedores. Nem sempre e essa descoberta de que os pais podem ser egoístas e exagerados na sua educação é muito dolorosa, reconhecê-los humanos e falíveis.

Num relacionamento também precisamos superar essa divisão que criamos da pessoa amada para aquela versão dela que se aborrece e tem vida própria para além do relacionamento.

Os filmes de terror o tempo todo nos confrontam com esse pai cruel internalizado em nossas fantasias que mesmo com pais distantes ou falecidos ainda teimamos em carregar no nosso coração. Na maior parte das vezes, nós somos os serial killers de nossas alegrias com nossa mania de ser estraga-prazeres nos momentos mais felizes.

Acho que estraguei um pouco o divertimento de muitos nos filmes de terror.

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Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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