Mecanismos de defesa

Em algum momento da sua vida já deve ter fingido (ainda que não voluntariamente) que não estava sentindo ou pensando algo que seria óbvio para qualquer um. Provavelmente isso aconteceu numa situação em que foi traído ou estava prestes a ser mandado embora ou deixado pela pessoa amada. Agora você vai entender como consegue fazer como os macaquinhos abaixo mesmo em situações que não poderia agir assim.

As vezes agimos assim diante do óbvio

A Psicanálise fez inúmeras contribuições para a Psicologia de modo geral, uma das inúmeras ideias formuladas por Freud [leia mais] e seus seguidores (em especial Anna Freud, sua filha) foi a ênfase dos mecanismos de defesa.

O pressuposto de que a mente se dividia em 3 facetas vai nos permitir entender melhor. O id que seria uma dimensão inconsciente e originadora dos impulsos mais primitivos de sobrevivência, agressividade e sexualidade. O Superego que é o “depósito” de toda a moralidade conservada pela educação e influência cultural que recebemos. E por fim o Ego que irá administrar os impulsos vindos do id, negociar com as restrições do Superego e tentar se adaptar à realidade que o cerca.

Já fica bem claro que a ideia de que somos muito originais, cheios de uma personalidade própria e única cai por terra. Nossa mente é um punhado de contrariedades.

Os mecanismos de defesa seriam uma tentativa inconsciente do ego adaptar e amortecer os impactos desejos e sentimentos inaceitáveis para que eles se expressem de maneira menos desastrosa. Pela intensidade dos impulsos e as condições do ambiente surgem mecanismos mais rústicos e adaptativos e outros mais doentios e alienantes. Isso determina o maior ou menor grau de patologia de uma pessoa. Inevitavelmente eles são utilizados para diminuir o efeito doloroso que se passa na mente de alguém. Quanto mais rígida e bruta ela for emocionalmente mais será propensa a utilizar esses recursos que eclipsam uma realidade interna ou externa difícil.

  1.  Repressão: É a tentativa de fazer desaparecer da mente os impulsos ameaçadores ou sentimentos e desejos vistos como inoportunos e desagradáveis. Freud considerava essa a rainha das defesas e comuns a quase todas pessoas. Ex: quando a pessoa não se dá conta que está com raiva, mesmo que seja evidente pela fisionomia. [leia mais]
  2. Racionalização:  sujeito procura apresentar uma explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto de vista moral. Ex: quando alguém tenta explicar sua obsessão por doenças dizendo que se preocupa com a saúde [leia mais]
  3. Projeção: quando um impulso muito inaceitável e atribuído a outra pessoa. Ex: quando é difícil aceitar que somos invejosos e passamos a achar que todos nos invejam ou quando uma pessoa está com raiva e passa a achar que todos estão contra ela. [leia mais]
  4. Deslocamento: é quando um sentimento ou impulso é transferido de uma parte para um todo e vice-versa. Ex: quando a mulher tem uma experiência ruim com um homem e diz que todos os homens não prestam. Quando escolhemos uma pessoa amada com a característica original dos nossos pais. [fetiches]. Quando uma pessoa que foi abusada desloca o medo do agressor para uma fobia de uma figura inicialmente inofensiva (palhaço). [leia mais]
  5. Anulação: quando a pessoa tem uma ação que visa apagar o rastro do impulso ou ação anterior, como num ato mágico. Ex: bater na madeira quando se tem um desejo inaceitável ou faz o sinal da cruz quando tem um pensamento ruim. Tem pessoas que acham que o pedido de desculpa deveria anular imediatamente a ação destrutiva anterior. [leia mais]
  6. Fantasia: quando a pessoa cria uma imagem ou história que traga uma satisfação de um impulso originariamente frustrado. Ex: masturbações com a vizinha gostosa impossível. [leia mais]
  7. Identificação: é quando absorvemos (ou copiamos) um comportamento de outra pessoa em nossa própria personalidade. Ex: quando um filho cresce e age da mesma maneira opressiva que os pais. [leia mais]
  8. Regressão: é quando a mente regride a estágios mais primitivos. Ex: quando uma pessoa fica com ciúme ou brava e age de forma birrenta como uma criança de 3 anos. [leia mais]
  9. Isolamento: é quando um sentimento fica separado ou desligado do acontecimento original. Ex: quando fomos agredidos por alguém e depois de um tempo só sentimos uma raiva que não sabemos do que. Ou quando contamos um acontecimento traumático sem nenhuma (aparente) emoção. [leia mais]
  10. Negação: é quando se bloqueia o reconhecimento de uma verdade incontestável (dolorosa ou inoportunamente prazerosa). Ex: pais que se recusam a lidar com a sexualidade dos filhos (ou simplesmente perceber que cresceram). Ou quando uma pessoa não assume que pode ter sentimentos afetivo-sexuais por um membro da família.
  11. Somatização: quando a pessoa transfere para o corpo (em forma de dores e doenças) sentimentos e desejos originalmente inaceitáveis.Ex: pessoas que estão sempre doentes porque não admitem suas carências afetivas e sexuais. [leia mais]
  12. Formação Reativa: é quando se adota um comportamento exatamente oposto ao impulso original. Ex: mães superprotetoras que compensam uma culpa ou raiva inconsciente contra o incômodo e a intrusão dos filhos em sua vida ou a pessoa grudenta que não percebe quão raivosa está daquela que diz amar. [leia mais]
  13. Compensação: quando a pessoa hipervaloriza uma característica que originalmente considera deficitária. Ex: uma pessoa que se sente sexualmente inferiorizada e tenta fazer compensações financeiras ou excessivamente afetivas. [leia mais]
  14. Expiação: quando uma pessoa infringe um padecimento físico, emocional ou social para “pagar” algum pensamento ou ação que considerou inaceitável. Ex: quando uma pessoa tem uma postura ruim (inconsciente) no trabalho e é mandada embora como forma de pagar por ter agido mal com uma pessoa querida. [leia mais]
  15. Introjeção: quando a pessoa traz para si os sentimentos e traços de outra coisa ou pessoa. Ex: quando está diante de uma pessoa importante e ela própria se atribui importância e brilhantismo pessoal sem o ser (comum nos puxa-sacos). Ou um religioso que basta estar num templo para se sentir instantaneamente um ser especial. [leia mais]
  16. Idealização: quando uma característica ou qualidade de uma coisa ou pessoa é levado à perfeição como forma de obscurecer traços desagradáveis. Ex: pessoa que iludidamente atribui uma perfeição na pessoa amada (muito comum na fase de paixão) [leia mais]
  17. Reparação: tentativa de devolver a unidade de uma imagem que se fragmentou ou danificou.Ex: processo de luto em que se tenta superar a morte de uma pessoa por meio de rituais religiosos ou de devoção (positivo). Ou quando uma pessoa tenta agir como se tudo estivesse bem após uma separação amorosa de forma eufórica (negativa) [leia mais]
  18. Sublimação: (saudável) quando há um desvio e descarga de um impulso inoportuno para uma atividade socialmente aceita, mas que não deixe rastros de ressentimento ou sofrimento. Ex: pugilista ou cirurgião que dirigem sua agressividade para uma prática esportiva ou de cura. Uma pessoa que canaliza seus desejos sexuais para uma atividade voluntária  ou religiosa. [leia mais]
  19. Humor: (saudável) quando procura-se relativizar um sentimento ou comportamento inaceitável se divertindo consigo mesmo (quando não configura uma negação). Ex: quando um doente recém quimioterapeutizado brinca com sua queda de cabelo. [leia mais]
  20. Transferência: é um tipo específico de projeção sobre a figura de um cuidador (médico, psicólogo, líder religioso) de impulsos sexuais que tinham uma conexão original com a figura dos pais. Ex: pacientes que se apaixonam e idolatram (ou odeiam) a figura do terapeuta mesmo sem o conhecer profundamente. [leia mais]

Falo mais sobre como esses mecanismos interajem no nosso cotidiano no livro “Por que fazemos o mal?”.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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