As mulheres e o feminismo

* Por Juliana Baron Pinheiro

 No ano passado, fui pra São Paulo participar da primeira Casa Tpm, evento realizado pela revista de mesmo nome, que tinha como objetivo levantar discussões sobre a mulher e a sua liberdade nos dias de hoje. Desde então, depois de ouvir os mais variados profissionais e personalidades, coloquei-me a refletir sobre o assunto. Porque eu já tinha algumas convicções sobre, mas queria me aprofundar mais pra conseguir argumentar com autoridade e com conhecimento o porquê de eu me considerar uma feminista, sem a conotação pejorativa que muitos atribuem ao termo.

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Cresci me entendendo como uma mulher de direitos. Nunca aceitei, por exemplo, não rachar uma conta ou ser tratada como objeto, principalmente no mundo das baladas, onde já vi muita menina se trocando por uma taça de champanhe. Porque a princípio, essas trocas parecem inofensivas, mas são nesses pequenos gestos que as mulheres se perdem e perdem o seu valor. Entendam que junto com os direitos que adquirimos vieram também os deveres. Não adianta reivindicarmos pelo direito de usarmos uma saia ou um decote sem sermos consideradas promíscuas e acharmos um absurdo o parceiro não querer dividir a conta do restaurante. E eu não estou falando de gentilezas e educação. Porque se um cara abre a porta do carro pra você, ele pode estar sendo simplesmente gentil. Se um cara te trata bem, ele pode estar sendo simplesmente educado. E não necessariamente machista.

Mas confesso que andei meio perdida ao tentar aplicar, erroneamente, os preceitos feministas na minha vida. E foi depois de uma sessão de terapia em que levantei o assunto, que muitas questões ficaram claras pra mim. Porque se entender feminista, não deve ser encarado de uma forma negativa, como muitos o fazem. Deixando os radicalismos de lado, ser feminista é você defender os direitos das mulheres. O movimento que iniciou esse processo de “descoisificar” a figura feminina precisou sim chegar a um extremo, mas hoje acredito que o ele pode ir por um caminho diferente, porque já esta nítida a equivalência entre os gêneros.

Antigamente as mulheres não possuíam nem a chance de conduzir suas próprias vidas e fazer suas próprias escolhas e o grande benefício que as mudanças trouxeram, na minha percepção, foi justamente o aumento de possibilidades disponibilizadas a nós. Trabalhar ou não, ter filhos ou não, casar ou não. Antes essas realidades nem existiam. Mas o problema é que hoje, muitas mulheres entendem que o sinônimo de ser livre é trabalhar “como homens”, muitas vezes se esquecendo de priorizar também a sua vida pessoal. Há de haver um equilíbrio.

Minha psicóloga disse, nessa minha sessão, que atende muitas mulheres na casa dos 30, completamente estafadas por conta do trabalho e infelizes por estarem sozinhas. E é nesse ponto que mora um grande perigo de como a mulher contemporânea se enxerga. Porque, pelo menos eu, não vejo essa luta como uma maneira de nos igualarmos aos homens. Mulher é mulher. Ser livre, independente, uma pessoa de direitos, não significa esquecer a sua feminilidade e o seu poder como mulher. Trabalhar de forma séria, não quer dizer que você tenha que engrossar a voz, vestir um terno preto e incorporar a postura masculina. Usufruir da liberdade não quer dizer não ter filhos, não casar e adquirir comportamentos masculinos. Somos seres diferentes, tanto biologicamente como na nossa essência.

Cuidar de você, cozinhar, cuidar da casa, abandonar o emprego pra criar os filhos não significa que você não esta honrando todos os direitos conquistados até aqui. Se essas forem escolhas suas, T-U-D-O B-E-M! Espalhe todas as possibilidades que você possui hoje e escolha as que dizem respeito aos seus valores e aos seus objetivos. Mas não faça dessa liberdade conquistada uma forma de prisão. E procure perceber em que aspectos você mesma se desmerece como mulher. Ainda existem inúmeros comportamentos que sutilmente estão carregados de preceitos machistas e cabe principalmente a nós mulheres essa conscientização e essa percepção.

Beijos, Juliana Baron Pinheiro

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Ana Correa | 2012* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.