Pornografia para Homens
As vezes ouço algumas mulheres comentando: o que eles veem de graça em tanta pornografia? Oras, acho que não preciso responder…
O gosto masculino por pornografia não é atual, afinal o desejo essencialmente sexual não é privilégio do homem moderno.
Vou tentar responder a pergunta das mulheres apesar de parecer óbvia para os homens.
Pornografia é o jeito mais fácil de obter prazer na masturbação.
Me lembro que eu tinha 12 anos e meu pai me deu uma revista chamada “Ele e Ela” com uma loira de peitos enormes e me disse: “olha aqui, pra você se divertir”. Fiquei fascinado com o volume das curvas dela e nem sabia o que fazer com aquilo (bem diferente dos meninos de hoje) até que meu corpo começou a se mexer e então pela primeira vez me dediquei ao onanismo.
Estranhamente no mesmo dia ouvi na TV uma notícia que dizia: “O Papa João Paulo condena a prática de onanismo”. Fui até minha mãe e perguntei o que era isso (eu adorava que ela me ensinasse o significado das palavras) e pela primeira vez ela me disse: “acho que chegou a hora de te ensinar a usar o dicionário. O “Sr. Aurélio” me ensinou o que era onanismo e eu fiquei com culpa pelo Papa e escondi minha revista e meu corpo ficou congelado de vergonha pelo que tinha feito pela manhã.
Mas meu pai era mais esperto que o Papa e me deu outra revista que atiçou minha curiosidade e novamente eu “pequei”.
Esse ritual de passagem é comum a muitos garotos e é assim que o homem começa a descobrir o que as meninas escondem debaixo de suas saias. No começo tudo é estranho, mas excitante, pois seus olhos já não olham as mulheres do mesmo jeito que antes. O homem é introduzido no sexo pelos olhos e imagens bem declaradas da vagina, dos seios, da bunda e das caras de desejo. Não deixa de ser uma forma rústica de conhecer uma mulher sem que ela tire sarro de você come fazem as meninas no colégio. Você pode olhar para aquela mulher sem que ela te repreenda, questione ou acuse, ela está ali, paradinha, olhando para você com olhos de desejo sem fim. Ela diz pela imagem algo simples: “você pode me possuir como quiser que eu vou gostar de você para sempre”
O fato é, na masturbação você entra numa realidade paralela e própria onde os medos e as ansiedades de uma transa real não perturbam você. Nesse cenário você fantasia fragmentos de mulheres cheias de tesão que sentem prazer com sua potência e você está no controle. Nessa hora você fica liberado de qualquer sentimento de empatia ou preocupação social e só você importa. Egoísta? Não sei dizer, mas é preciso lembrar que a mente do homem é treinada para o mundo exterior e isso o condiciona de uma maneira radical por muito tempo.
A masturbação começa a se tornar uma companheira do homem pela vida que o acompanha em várias situação quando está excitado, bravo, alegre, triste, cansado, entediado, ou simplesmente sem motivo algum.
Mas notei que as vezes a masturbação, no caso de alguns homens, pode se tornar um problema: criar a ilusão de que a realidade é pouco trabalhosa e tudo se resolve com um movimento de mãos.
Iludido a pensar que a realidade é tal como os filmes pornôs pode fomentar um tipo de interação pobre ao tentar aplicar os “truques” com uma mulher de verdade.
O tipo de mulher com desejo irrestrito e ilimitado (dos filmes) também pode fazê-lo cultivar em seu imaginário a ideia de que tudo está ao seu alcance bastando que fique ereto. A preocupação com a parceira pode ser ignorada e a capacidade de fazer perguntas e descortinar o prazer à dois também.
O homem pode ficar insatisfeito com sua parceira quando ela não o atende sexualmente na hora em que está triste, angustiado ou abatido. Ele esqueceu que a mulher não é sua mão onânica e que agora precisará lidar com seus sentimentos sem se refugiar no sexo fastfood.
O aumento do consumo de pornô pode fazer um homem olhar para sua parceira e até menosprezâ-la em seus pensamentos: “por que você não me chupa como aquela atriz?”. Sinto lhe informar, meu caro, mas aquela mulher voluptuosa só chupou você em sua mente, na prática quem faz isso com todo amor e desejo é aquela mulher (não tão “perfeita”) deitada ao seu lado. Sim, aquela que você mal olhou nos olhos pela manhã, levantou cedo, foi trabalhar, aguentou chefe chato, passou fome para ficar magrinha (para você), fez a lição com os filhos, preparou o seu jantar e suportou o seu mau humor de um dia difícil.
Ao se acostumar com o fastporno o limiar de prazer começa a se estreitar e como uma droga ele precisa de doses mais altas de excitação a tal ponto que não consegue mais olhar para uma mulher comum de modo razoável. Ele quer uma máquina de sexo à altura de seus desejos insasiáveis pressupondo que ele próprio seria uma máquina de oferecer prazer.
Pequeno engano, pois o consumo exagerado de pornografia também abduziu o desejo do homem para um mundo pouco sensorial e muito imaginário (que acha um ultraje fazer sexo no escuro porque precisa sempre VER).
Cada vez mais ele começa a condicionar o sexo sob certas circunstâncias e, ao contrário do que pensa, limitar seu desejo. Penis, vagina e desejo não servem mais, é preciso uma arsenal de acessórios (e as vezes atores coadjuvantes) para fazer os olhos brilharem.
Ele se esquece que o grande poder do sexo está em criar um clima de excitação entre duas pessoas pela força de seu desejo criativo. Vira aquela criança cheia de brinquedos pela casa que não consegue brincar com nada e se concentrar em nenhum. O sexo com uma mulher é muito mais parecido com um lego-lego do que com um fliperama. As múltiplas possibilidades que o monta-e-desmonta oferece com as mesmas peças de encaixe é que desafiam a capacidade de um homem.
A mentalidade de fliperama em que você mexe freneticamente no joystick até chegar no final é para meninos. Os homens de verdade podem passar horas e dias simplesmente curtindo aquele mar de peças sem necessariamente chegar num final ou sentimento de alívio.
Além do mais o controle que se tem na masturbação ou no fliperama tira exatamente o encanto das descobertas totalmente fora de controle que o sexo e o gozo podem oferecer à você. Uma mulher fora de controle é muito mais instigante do que a fantasia mais ousada que um homem pode criar.
Sexo não é alívio de tensão, mas sustentação do prazer caótico, delicioso e inesgotável de se estar vivo.
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