Por que temos dificuldade em perdoar?

Meu signo sempre foi conhecido por ser o mais rancoroso e vingativo do zodíaco. Escorpião.

Carreguei essa imagem de mim por muito tempo. Até gostava de mostrar que eu seria incapaz de tolerar uma ofensa guardando-a pelo resto da eternidade. Grande bobagem!

Sempre magoado...

O que mais me surpreende é a quantidade de pessoas magoadas espalhadas por todos os cantos.

A mágoa é uma epidemia silenciosa.

O primeiro alvo de mágoa são os pais que nunca nos deram amor suficiente. Depois nos queixamos da rejeição dos amiguinhos de escola e por fim com o pé na bunda da pessoa amada.

A grande semente da mágoa é uma coisa simples que chamamos EU.

O senso de importância pessoal que damos a nós mesmos é a fonte de praticamente todos os problemas que enfrentamos do nascimento à morte. A ironia é que você será muito diferente entre o seu primeiro e último dia de vida.

No entanto, enquanto você não morre acreditará cegamente que cada palavra, sentimento e ideia deverá ser respeitado por todas as pessoas, qual se fosse um imperador.

Somos demasiadamente presos à nossa personalidade. Mesmo que a deixemos para trás a cada minuto. Enquanto temos a sensação que ela é nossa ninguém pode se atrever a manchá-la.

Qualquer traição, abandono, golpe ou ação agressiva é sempre um ponto de vista.

Para superar a mágoa é essencial que separemos o ato do agente. Uma coisa é o que foi feito, outra é o que a pessoa é. Será que uma pessoa pode ser definida por um único ato? Dificilmente entendemos que uma pessoa agride como reflexo de uma dor e um medo.

As mágoas nunca se referem aos seus inimigos. Ela sempre diz respeito a alguém querido, um amigo, um amor, um sócio e um familiar. Do desafeto você não espera nada.

A mágoa, portanto, é fruto de uma quebra de contrato emocional. As regras que fundamentam nossas relações costumam ser de três ordens: me ame, esteja do meu lado e não me engane.

Mas o absurdo dessas exigências é que elas normalmente irão ferir em algum momento o direito da outra pessoa ir e vir com liberdade e felicidade. O nosso amor possessivo pode ser extremamente tóxico e castrador para o bem-estar dos outros.

Como decorrência disso é fundamental assumir sua parte nessa história que você confabulou para si mesmo: você não é um anjo traído. Seu jogo de interesses foi corrompido sem o seu aval, goste ou não.

No fundo você não admite abandonar o sentimento de honra manchada. Assim como uma vaca, você ruminará essa história por toda eternidade.

Isso me leva a uma conclusão simples: você está se recusando a seguir em frente. E agora está munido de um novo arsenal de razões para alegar que é infeliz. Afinal, continuar dizendo que seus pais não te amaram depois da adolescência pegaria mal .

O perdão, portanto, não é uma peça teatral de ato único. Ao contrário do que se pensa não é uma ação, mas um processo de redescoberta de si mesmo. É um convite à nova vida para que você abra sua cabeça dura e repense seus valores e condutas.

O que impede você de perdoar é sua rigidez e orgulho próprio, afinal você nunca pode sair por baixo, não é mesmo?

Perdão não é sinônimo de aceitação cega dos atos de outra pessoa, muito menos o esquecimento do passado (habilidade que só quem tem Mal de Alzheimer tem). Perdoar é ressignificar acontecimentos que pareciam ter uma única perspectiva a fim de liberar espaço emocional na sua vida, sem fixações.

No inglês perdão é forgive, for-give = para dar, em italiano per-donare = para dar e nossa linguá querida português per-doar = para dar.

Perdoar, é o ato de dar algo de si mesmo. Quando nossa mente pára de operar na lógica da escassez podemos dar algo de nós escapando das grades que nos aprisionavam.

Você ainda pode deixar seu coração fechado no passado e sua mente reivindicando uma posição de supremacia. Mas convido você a olhar atentamente para o momento presente e perguntar, o que está diante de mim que eu não estou vendo?

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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