Desastres de Natal

Acho o natal uma época fantástica, não necessariamente pelo feriado, os presentes ou o clima cristão de paz e amor, mas porque vejo o circo pegar fogo.

Adoro ouvir os relatos de pré-Natal e pós-Natal porque no Natal todo mundo se sente compelido a ser generoso, afetuoso e feliz. O melhor de tudo é que toda essa amorosidade gira em torno da família.

Família é o cenário perfeito para que a confusão se sobreponha ao amor, quando deveria ser o contrário.

No ano todo que passou as pessoas levaram uma vida automática e de repente elas estão diante de uma data que as impelem a passarem por volta de 5 a 7 horas interagindo sem nenhum propósito definido a não ser amar. Amar, comer e dar presentes, três coisas muito “fáceis” de fazer.

Comer

A ceia de natal não é algo simples de organizar. Quem vai fazer? Quantas pessoas virão? O cardápio será dividido entre todos os participantes? Quem vai levar o que?

Isso já seria o suficiente para provocar a terceira guerra mundial. Nessa hora que aquelas briguinhas que ficaram debaixo do tapete ao longo do ano vem à tona.

“No ano passado sua mulher trouxe aquela maionese azeda que me causou azia, veja se esse ano supervisiona melhor o prato”, comenta a mãe para o filho casado há pouco mais de dois anos com nora “querida”.

“Espero que o tio não exagere na bebida e não dê vexame como no ano passado, não foi nada legal ter que carregá-lo para o quarto depois de ter vomitado no meu colo”, resmunga o filho para o pai, irmão do tio bebum.

“Juro que se minha irmã vier mais uma vez com aquela roupa de vagabunda e derrubar a lentilha naquele decote de vaca leiteira eu dou na fuça dela. Ela me fez passar vergonha na frente da minha namorada!”, o filho mais novo reivindica a moral e os bons costumes na festa natalina.

Dar presentes

A arte de dar é tão importante quanto receber presentes. Nessa hora é que descobrimos se realmente prestamos atenção nas pessoas que amamos durante o ano. Reparar nos detalhes que sinalizam as preferências e desejos daqueles que convivemos é um talento que poucas pessoas tem. As mulheres são disparadamente mais especializadas nisso, parece que andam com um bloco de anotações mentais. Os homens naufragam nessa tarefa, porque mal sabem qual é a cor preferida dos outros, quem dirá o filme ou a música.

“Poxa, você sabia que eu queria ganhar uma camiseta estilizada e me traz esse trambolho que eu nem sei como usa?”, esbraveja a namorada para o namorado desatento.

“Sério, se alguém me der mais um jogo de panela sem perceber que já ganhei isso dois anos consecutivos eu peço o divórcio!”, fala pelos cotovelos para ver se o marido se toca.

“Eu sempre tenho a sensação de que nunca vou acertar o presente dele, nada agrada aquele infeliz!”

Amar

No quesito amor é que se revelam os “melhores” acontecimentos. Porque o clima festivo não consegue maquiar as lembranças de parentes mortos ou as brigas de irmãos ou primos que se odeiam ou pais separados/foragidos. Aquela animosidade no ar quando parentes indesejados se encontram pode ser uma verdadeira explosão de “simpatia”.

“Notou como esse ano ela está ficando mais velha, mau humorada e caduca?”, alfineta a concunhada ressentida.

“Filho, qual o problema em me dar um abraço carinhoso e decente pelo menos no Natal?” pergunta o pai levemente alterado pela cervejinha. O que o filho responde com sorriso amarelo nos lábios “por esse motivo, pai, você só consegue falar comigo e ser carinhoso no Natal quando bebe e durante o ano só se dirige a mim para falar de notas escolares, só as baixas, claro!”

“Mamãe fica sempre abatida e distante nesses dias, parece que nem estamos aqui com ela assistindo o Roberto Carlos que ela tanto gosta…”

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São essas e outras histórias que me fazem admirar mais o ser humano e suas peculiaridades! Hahahaha

De qualquer forma, Feliz Natal a todos, aproveitem!

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Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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