PARE de (se) machucar !
Deixei esse texto para um dos últimos da série por um motivo simples, ao contrário do que dizem as pessoas o mundo não está mais violento do que há mil anos. As pessoas não são mais maldosas com as outras como em outras épocas, no entanto, vejo em larga escala pessoas devastadas por si mesmas.
Se eu pudessse colocar qualquer pessoa numa sala branca e vazia poderia afirmar que ela sairia machucada pelos impulsos de si mesma.
No fundo somos menos atacados pela impiedade ou falsidade dos outros do que a nossa própria. É assustador de ver.
Alimentamos tiranos que nos atacam constantemente.
Críticas que nem o pior dos inimigos seria capaz de fazer são lançadas em nossa consciência. Somos os autores de nossa própria derrota.
Quando falamos de sofrimento noto que todos giramos em torno de 3 papéis que são conectados.
Vítima, algoz e salvador…
A vítima é aquela que sofreu um dano. O algoz o que provocou. O salvador aquele que resgata a vítima do algoz.
O problema é que esse jogo é orquestrado sozinho. Somos a vítima, o algoz e o salvador em uma só pessoa.
Oferecemos ajuda à alguém (salvador), e se essa pessoa recusa nos aborrecemos e reclamamos (algoz) e depois ficamos lamentando a rejeição (vítima). Qualquer uma das 3 posições está fadada ao fracasso por um motivo simples, ninguém é vilão, mocinho ou salvador. A vida não se configura de maneira tão simplista.
No entanto, uma pessoa pode passar a vida inteira dominada por esses papéis sem que saiba do teatro imaginário que alimenta. A vítima acusa uma culpa, o vilão se justifica da culpa e o salvador resarce os danos culposos. Tudo em torno da culpa.
Isso ajuda a explicar porque uma pessoa fica anos seguidos se submetendo à um tipo de situação de sofrimento psicológico.
Imagine uma mulher casada com um homem alcoolista, porque ela suporta tanto peso?
Quando olha para aquele homem bêbado caído na calçada ela se sente vitimizada pela vergonha de ver seu marido humilhado no chão. Depois assume o papel de salvadora e o recolhe para dentro de casa, dá banho e o coloca limpo e perfumado na cama. No dia seguinte acorda se sentindo a mulher mais tola por ter feito tudo aquilo . Nem recebe um agradecimento daquele homem que não se lembra do que aconteceu no dia anterior. O resultado é uma ira cheia de acusação. Até que o ciclo conteça de novo.
Isso se repete num emprego ruim, num relacionamento desastroso ou numa família problemática.
Uma mulher que foi traída está no mesmo cenário. Ela foi traída pelo marido e o “perdoa” (salvadora) com mil condições no bolso. Todo dia lembra sofridamente da humilhação pela situação que passou e teve que se submeter (vítima). E de tempos em tempos explode e acusa o marido toda vez que descobre algum comportamento duvidoso (algoz).
Não largamos o osso, porque temos um ganho secreto e sutil em contrapartida àquele sofrimento público. Existe um certo prazer sinistro em sustentar uma condição de dor pessoal, afinal a vítima é sempre protegida de todos.
Em que outra situação essa mulher poderia explodir de raiva e agredir alguém sem motivo?
Nenhuma.
Se ela tivesse uma relação boa e um marido agradável se sentiria culpada por ser uma mulher raivosa e briguenta. Sua hostilidade natural não teria uma motivação plausível. Então, ela prefere manter uma relação ruim, cheia de brigas e acusações. No fundo ela preserva sua consciência de boa pessoa (salvadora) com um excelente álibi (ele me traiu).
Esse ciclo de ataque, dor, acusação e salvação continuará interminavelmente até que a pessoa assuma a autoria de sua vida e se desprenda de uma vida limitada emocionalmente.
Portanto, pare de se machucar!
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Esse é o oitavo texto da série PARE:
Já tivemos o Pare de bater Punheta, o Pare de drama emocional, o Pare de reclamar, Pare de ajudar, oPare de (se) justificar e o Pare de (se) corrigir e o Pare de (se) controlar.
Os próximos são
Pare de (se) acusar
Pare de julgar
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