PARE de (se) corrigir

“Eu queria dizer umas verdades na cara dessa pessoa…” – falou uma mulher sobre sua nora.

Assim que quer ser?

Sabe que quando eu ouço isso tenho até tremor nas pernas?

Não há nada mais incoerente do que falar de verdades quando se trata de natureza humana.

Temos leis e regras instituidas que regulam o convívio social. Leis se resolvem no campo jurídico e ainda assim com uma margem de questionamento muito grande.

Quando falamos de comportamento humano em sua singularidade esse tipo de postura é inviável. Quando falo especificamente do Fábio, da Rosana e do Sr. Alberto e cada um tem um sobrenome, uma história, um contexto a postura que prega a verdade ainda é mais duvidosa.

É como alguém me dizer que está com saudade de uma pessoa que está longe e eu responder: “não concordo!”

Nesse campo não se discute, pois o sentimento é genuíno e não tem oposição. Não há regra para o mundo interior.

Corrigir alguém ou a si mesmo era minha especialidade. Chatice era meu sobrenome, eu deixava as pessoas desconfortáveis pela suas (minhas) infantilidades e sempre tinha uma lição de moral. A ideia de tornar o mundo melhor pela ideia de um bem maior que desse conta de todos os acontecimentos sempre pareceu o melhor caminho.

Com o tempo, a experiência, os relacionamentos e a faculdade de Psicologia fui notando que o conceito de verdade e perfeição eram uma prepotência da minha parte.

Como eu poderia me atrever a pensar que eu poderia antever cada passo meu e dos outros?

Como chamar alguma ação que parecia legítima de erro, fracasso ou falha?

A culpa é a maior das arrogâncias. Até nos tropeços e obstáculos eu quero autoria?

Já me arrisquei tanto e continuo me atrevendo a tentar porque não me conformo em sentar e ficar esperando a vida acontecer.

Assim é melhor, né?

Eu sou a vida que anseio ser. E nesse pensamento não há nada a ser corrigido ou consertado. Não tenho o direito de falar que um relacionamento que acabou foi um erro. Foi especial e lindo porque o tornei assim e acabou. Coisas e relacionamentos acabam, nada foi um erro. Foi uma entrega e toda entrega é uma dádiva.

Quando pego um jarro d’água e despejo o seu conteúdo isso é belo, não importando para onde essa água vai correr e qual o uso se faça dela. O prazer de oferecer é meu, se o outro não recebeu é uma escolha e direito dele.

Aliás, as pessoas tem direito de viverem suas vidas como bem quiserem. Se você leva a fofoca à sério e realmente acha que “fulana é uma vagabunda!” eu digo que você talvez tenha um sério problema de percepção. Ninguém é nada. Pessoas são um fluxo de vida acontecendo. Definir ou reduzir alguém à uma ideia é como conter a ventania.

Pare de imaginar uma vida que deveria ter sido e não foi, ou uma história que poderia ter sido melhor ou pior. Tire a fita métrica de sua cabeça.

Também não alimento a ideia de “é, no fundo era assim que tinha que ser e se não foi não tinha que ser”.Isso me levaria no mesmo equívoco Não há nada que deveria ter sido assim e nem assado. Apenas foi o que foi, sem delongas.

Viver a vida tal como é, esse é o lema.

Deixe o chicote de lado, afinal na poesia tudo é muito mais legítimo, até quando você engasga…

*

Esse é o sexto texto da série PARE:

Já tivemos o Pare de bater Punheta, o Pare de drama emocional, o Pare de reclamar, Pare de ajudar e o Pare de (se) justificar

Os próximos são

Pare de (se) machucar

Pare de (se) controlar

Pare de (se) acusar

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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