“Você me completa”
* Por Frederico Mattos
Existe uma crença antiga das duas metades da laranja, da tampa e a panela, o chinelo velho com o pé cansado.
O mito da incompletude que se preenche no relacionamento é antigo. E a sensação de que existe alguém nesse planeta que pode completar meus maiores anseios realmente é fascinante.
Já imaginou? Saber que a qualquer momento todas as suas dores e angústias mais profundas poderão ser abastecidas pelo toque de Midas de um amor para a vida inteira?
Seria mágico encontrar na voz de uma pessoa tudo o que os ouvidos gostariam de ouvir.
Seria fascinante ser tocado por mãos suaves que simplesmente acalmariam nossos sentidos.
Seria ardoroso ter o corpo remexido por um encaixe perfeito de prazeres convertidos em orgasmos múltiplos.
Seria ainda mais fabuloso saber que toda a busca cessou, todo o medo acabou e que você está de volta em casa. Intocável.
Algumas histórias podem traduzir exatamente essa sensação de jornada cumprida.
No entanto, o que a realidade demonstra é que essa sinergia perfeita é bem trabalhosa.
Hoje em dia já é senso comum saber que cada pessoa é uma individualidade independente. E como seres únicos vamos nos relacionar com outros seres únicos. O problema é quando o bichinho do amor nos pica e passamos a acreditar que nossa vida está simbioticamente associada à outra pessoa.
Duas identidades viram uma. Basta dar uma olhada em perfis de Facebook, a foto da pessoa é mostrada com a pessoa amada, com os filhos ou a família toda. O senso de individualidade se perdeu ali.
Essa crença subliminar pode ser um grande perigo para o casal. Acreditar-se um com o outro traz a aparente ilusão de fusão definitiva em que cada pessoa perde sua intimidade e seus segredos quando está com o outro.
Conheço inúmeros casos de pessoas que tem a senha do e-mail, Facebook, do banco como se fosse a outra pessoa.
Isso não é amor, mas controle.
Pessoas abrem mão de sua personalidade para se moldar ao que o outro espera. Isso pode ser nocivo a tal ponto que se perde o espaço pessoal e os gostos favoritos.
Um belo exercício seria pensar no afastamente da pessoa amada por 5 anos ou a morte. Dependendo da reação pode-se saber qual o nível de apego e carência você deposita no outro. Isso também indica o tipo de peso que você delega de sua vida. Desse modo também perceberá qual o tipo de reclamações você faz do seu companheiro(a) e talvez se dar conta que está exigindo mais do que deveria.
Tampa da panela, será?
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos
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